Improvável CAPÍTULO 55

|KAYRA|
De repente meus batimentos cardíacos aceleram, se tornam irregulares, totalmente fora de proporção ou sentido, feito uma locomotiva desenfreada dentro do meu peito. Minha respiração fica entrecortada, e todos os sentimentos ruins que senti naquele dia voltam com tudo como uma avalanche que acumula na minha garganta: a ansiedade misturada ao estresse, o choque e horror, que despertou a raiva e o desespero por ter sido colocada em um patamar muito inferior a que pertenço, e por ser taxada como a escória da sociedade, uma mulher sem escrúpulos que desejava arrancar toda a grana de um otário desavisado.
-Olha aqui seu babaca, você acha que eu preciso disso?
Eu grito transtornada, completamente fora de mim, ao vasculhar minha maleta cega de ódio e as mãos tremendo, de onde retiro várias notas da minha carteira e as lanço sobre sua cara com impetuosidade e ira.
-Pois enfie essa merda no rabo e vá vocês dois para o inferno, seus doentes!
E mesmo com a vista turva e as pernas trêmulas, sigo em frente meio cambaleante, deixando minha maleta, carteira e o restante para trás, juntamente com meu orgulho ferido, quando passo ao lado do segurança escroto que tem os olhos arregalados, a boca cerrada em uma linha fina e a aparência pálida, quase cadavérica, no rosto.
-Espera, Kayra! O que foi isso? Para!
Deklan diz ao segurar meu braço e correr até mim, colocando-se a minha frente e impedindo o meu caminho. Mas como ele ousa depois de tudo? Como ele ainda pode querer me fazer sofrer mais do que já fez? Eu me pergunto ultrajada.
Como eu pude ser tão tola? Eu sou tão burra e fiz aquilo que jurei a mim mesma que nunca mais iria fazer: me humilhar e chorar por homem algum na minha vida, e aqui estou eu, tonta, com todas as células do meu corpo tremendo em colapso, e o rosto banhado de lágrimas que começam a descer sem a minha permissão.
Meu Deus, eu disse que não cometeria o mesmo erro novamente, que não me deixaria ser enganada e muito menos menosprezada por quem um dia partiu minha dignidade e agora acaba de estraçalhar o caquinhos do meu coração, logo após ter tido a coragem, pela primeira vez na vida, de entrega-lo a alguém.
-Saia da minha frente antes que eu cometa uma loucura, Callaham! Eu estou farta dessa sua dissimulação por tanto tempo fingindo que não se lembra de nada e eu fosse maluca! Saia! Agora!
-Não! Você vai falar comigo e vai fazer isso exatamente agora! Eu é quem estou cheio de não entender do que você me acusa sem nunca dizer o que realmente é, desde que nos reencontramos, e com isso pregado um ódio velado a mim, me afastando dos meus filhos e de você!
-Me larga, Deklan! Ou eu juro que não respondo por mim!
Eu rosno furiosa e puxo meu braço de seu agarre na tentativa de me livrar de suas mão imundas, que tentaram impor um valor sobre mim, mas de nada adianta. Ele é infinitamente mais forte do que eu, além do mais, estou abalada demais para ter forças para lutar contra qualquer coisa.
-Eu já disse que não, Kayra! Você vai me contar o que está acontecendo aqui! Por que você acabou de dizer todas essas coisas para esse homem? E não minta para mim!
O abusado mal termina de fechar a boca e lhe acerto um tapa na face, inteiramente queimando de raiva e os olhos ardendo, que o pega desprevenido.
-Quem você pensa que é para me chamar de mentirosa, seu bastardo? Já não basta bancar o cínico comigo durante todo esse tempo fingindo que não se recorda da merda que fez, e que mandou aquele seu pau mandado ali corroborar, ainda tem a audácia de continuar me ofendendo? Não foi o suficiente tudo o que fez aquele dia? Quer acabar com o restou de mim? É isso? O que mais falta, me diga? Hein? Vamos lá, você está na sua casa, no seu território para me machucar como bem quiser. Vamos, faça de novo! Pise em mim de novamente para que eu nunca me esqueça como você trata as pessoas feito lixo! Vamos, Callaham! Você já fez isso uma vez, então consegue fazer de novo!
-Kayra, eu não entendo! Do que é que você está falando?
Deklan tem o disparate de parecer irritado, simulando um olhar confuso e ofendido como se eu estivesse inventando algum absurdo fruto da minha cabeça maluca. Estúpido!
-O que foi, vossa alteza? É mais difícil fazer a mesma coisa pessoalmente, por isso você paga a bosta de um segurança para fazer o serviço sujo e se livrar do que é inconveniente para você no dia seguinte? É assim que você age? Descantando pessoas como lixo e colocando um valor sobre elas?
Eu digo escorrendo ironia em cada palavra durante o confronto que há muito tempo venho postergando, na tentativa de deixar isso de lado para que pudéssemos estabelecer o mínimo de civilidade entre nós, pelo bem das crianças, mas agora tornou-se impossível olhar em seu rosto sem querer cuspir no mesmo.
-Quinhentos mil é bom valor para você? Afinal esse é o preço que você acha que eu valho no mercado por uma noite, não é cara?
Eu digo olhando para o segurança por cima do ombro, que não se move um milímetro no lugar ou diz algo em resposta.
-Do que ela está falando, Salvatore?
Deklan questiona o homem com um tom de diferente, meio obscuro e perigoso, mas ainda sem me libertar de suas mãos. Sonso!
-Eu lhe fiz uma pergunta, Salvatore!
Ele grita dessa vez mais alto do que antes, o que me faz pular de susto com a potência elevada de sua voz, porém o homem não diz uma palavra em resposta a pergunta que lhe é feita.
acredita mesmo que eu não sei que os dois estão junto nessa, Callaham? Você acha que eu sou tão estúpida de cair nesse joguinho que vocês devem ter combinado antes entre si? Você paga de pobre coitadinho que não sabe de nada, o idiota do seu segurança leva toda a culpa e fim da história? Tudo está resolvido? Eu não...
-Cala boca, Kayra! Por tudo o que é mais sagrado, não abra boca para falar a merda que você não tem certeza! Eu estou... estou a isso aqui de explodir a qualquer segundo!
Ele diz mostrando um ínfimo espaço entre o dedo polegar e indicador para demonstrar, ao que eu trinco o maxilar, engolindo as palavras que quero vomitar em sua cara. Mas por um breve momento, sou atingida por uma pontada de dúvida ao notar seus olhos azuis, num tom de vermelho vivo e vibrante que me causam certo terror.
Droga!
Será que ele pode estar falando a verdade? É o que me pergunto internamente. Mas como? Como ele poderia não saber o que o próprio segurança fez comigo? Ele não estava na casa no dia seguinte, e pode até afirmar que não ouviu as palavras grosseiras do homem, mas, e como ele explica o fato de não estar lá para desmentir tudo? Por que ele fugiu sem deixar nenhuma explicação e me deixou sozinha naquele lugar?
Por que?
-Então quer dizer que você não sabe o que o pau mandado do seu segurança disse para mim?
Eu rio um tanto incrédula, mas prossigo dando-lhe o benefício da dúvida. Se ele quer se explicar, então que tenha uma boa desculpa que me faça acreditar que não está apenas mentindo para se justificar.
-Esse bastardo me chutou para fora da sua preciosa casa sem que eu ao menos tivesse vestido minhas roupas de volta no corpo, como se eu fosse roubar algo dali a qualquer momento. E ainda para agravar o pior momento de humilhação que já passei em toda a minha vida, ele me ofereceu dinheiro: quinhentos mil foi sua última oferta, para pagar pelos meus serviços como prostituta, e me dispensar logo em seguida como um cachorro porta a fora, dizendo que isso era uma ordem expressa de seu chefe, que no caso é você Callaham!
isso não é verdade, Kayra!
nega sem um pingo de cor na face enquanto eu tremo em seus braços, sob o toque frio de suas mãos que parecem congeladas.
não? Então me explique por que você não estava lá quando eu acordei no outro dia. Aonde você estava e o que aconteceu? Me diga para que eu não continue pensando que é um covarde bundão que fugiu no dia seguinte logo após passar a noite com uma garota, e deixado dinheiro com o seu segurança pessoal para se livrar dela, Callaham! O que era tão importante assim que o fez saltar da cama no meio da madruga silenciosamente e me deixado sozinha num lugar estranho?
o meu pai, Kayra! Eu recebi uma ligação da minha irmã Desireé, logo após termos adormecido, avisando que o nosso pai tinha sofrido uma crise de saúde e estava a beira da morte!
Não... não... não!
algumas informações em minha mente e encontro algo que me faz tremer as bases por completo. Segundo os registros médicos de Dominick, o primeiro caso de crise aguda que ele teve em seu quadro clínico foi há seis meses atrás, quase sete, exatamente o tempo que Deklan está dizendo, o que faz com que as datas
ser, mas... que droga!
isso que tive sair às pressas, para saber como ele estava, mas não quis incomodá-la durante o sono, porque eu voltaria mais tarde e conversaria com você a respeito do que havia acontecido e razão da minha ausência no momento em que acordou. Porém quanto eu retornei procurando por você, não a encontrei.
continua ferrenho e acusador quando começa a contar o que realmente aconteceu, fazendo com que tudo dentro de mim se revire, e eu queira vomitar ao enfim começar a compreender tudo.
havia o menor resquício no lugar indicando que você sequer esteve ali. Nem um bilhete, recado ou uma nota com seu número de telefone. Exatamente um grande nada, Kayra! Você sabe como eu me senti decepcionado ao ouvir de Salvatore, que para sua informação não é o meu segurança pessoal, mas sim Dexter, dizer que a garota da noite passada havia ido embora sem despedir, afirmando que nunca mais colocaria os pés naquele lugar? Que se arrependia amargamente da experiência e que eu jamais deveria procurá-la novamente?
parece que vai estourar ao ouvir o lado de Deklan e sentir que lá no fundo que ele está dizendo a verdade. Eu sei que é. E isso é o que mais me destroça. Saber que por tanto tempo eu o odiei por algo que não era real, mas sim fatos distorcidos por uma pessoa sem escrúpulos. Todavia, mesmo sabendo que tudo não passou de um mal entendido entre nós, e que ele não teve culpa de nada, meu coração não deixa de doer devido a experiência vivida. Aquilo me machucou profundamente e eu dificilmente irei esquecê-la tão cedo.
que foi que você fez, seu idiota?!