INDECENTE DESEJO romance Capítulo 64

TRÊS MESES DEPOIS...

Me inclino no assento até sentir minhas costas encontrarem apoio na parede. Sopro a fumaça do cigarro e tento relaxar enquanto encaro a maldita porta do consultório médico. Que porra. Quanto tempo mais vou ter que esperar? A mãe dela já ligou três vezes em busca de novidade, rindo como hiena cada vez que questionei o que diabos aquilo significava. Novidades. Anna está tentando adotar uma das crianças do orfanato onde Amélia é voluntária e faz uma semana que confirmou sua candidatura como prefeita de Curvelo, não posso afirmar que meu voto é dela, mas, também não vou negar que a mulher tem me impressionado com seu altruísmo e gentileza. Aurora tem se empenhado na campanha, usando o trabalho para negar seu envolvimento com o Dr.César. É engraçado observar a interação de ambos de tão óbvia, na verdade. Eles combinam de uma jeito estranho.

Fecho os olhos e massageio a têmpora, lembrando que tenho uma reunião marcada para essa madrugada devido ao fuso horário. Estamos tentando importar para o Japão e será um grande passo se conseguirmos fechar negócio. Preciso de um descanso. Preciso da minha mulher. Passamos quase uma semana separados com sua ida a Missouri para visitar Melissa e tive que me controlar para não ir atrás dela, estou louco pra que ela convença a prima a voltar para o Brasil e pare de ficar dias longe de mim. Ela é veterinária, afinal, seria como matar dois coelhos com uma machadada só. Não que eu pratique qualquer violência contra animais. Mas já estou conformado que isso não vai acontecer, Mel e Lorenzo não querem voltar ao país.

— Com licença, Senhor. Não pode fumar aqui.

Que diabos.

Ergo meu olhar para a enfermeira que me encara com desgosto, ela aponta para a placa com um cigarro desenhado e dou um sorriso fraco, libero a fumaça que estava presa na minha garganta e faço o que. Apago com as pontas dos dedos o único remédio que consegue me deixar calmo além de Amélia. A mulher se vira e vai embora. Será que ela não percebeu que estou nervoso? Além dessa consulta misteriosa que fui ridiculamente cortado, estou lidando com a parte administrativa da fazenda sozinho agora que Guilhermino saiu em lua de mel com Marisa, bem, na verdade, ele foi atrás da mulher após ela fugir com a irmã mais nova. Porém, não a culpo, aquele irmão dela é um sádico e pelo que Guilhermino contou a garota vem sofrendo nas mãos do cretino faz algum tempo. Eu mesmo teria cuidado do assunto se meu amigo não tivesse feito. Batuco meus dedos nas minhas pernas, começando a achar que tem algo de muito estranho nessa consulta médica. Impaciente, levanto da cadeira e vou em direção a porta, erguendo meu punho para bater quando minha mulher sai toda sorridente do consultório médico.

— Oi.

—Oi, o que estava fazendo, lá? — Pergunto, tentando espiar dentro do consultório.

— Nada demais, vamos? — Eu não digo que ela demorou demais para algo simples, mas fecho minha expressão quando o médico que a atendeu sai consultório e percebo o quão jovem ele é. Pego a mão dela e doe um sorriso forçado pro homem quando somos apresentados.

—O que você tem? — Pergunta, depois de quase quinze minutos dentro do carro.

Bufo, ainda irritado e não a respondo.

— Por que diabos você não para de sorrir? — Questiono quando paramos no sinal, não conseguindo mais disfarçar meu incômodo.

— Quê? — Diz, me dando a porra de um olhar inocente.

Volto a bufar, avançando o maldito sinal.

—Henrico Zattani! — Grita, segurando firme na alça de mão.

—Amélia Zattani! —Grito de volta, lembrando do fodido médico sorrindo pra ela que nem um idiota.

— O que há com você?

— O que há comigo? Me diga o que há com você. Ainda não sei por que demorou tanto na sala daquele sujeito e aproveite para explicar o motivo que não pude entrar.

Ela rir, não, ela passa a gargalhar bem na minha cara.

A filha da mãe está rindo de mim.

— Você está com ciúmes do Dr. Adriano?

— Eu tenho motivos pra ter ciúmes?

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