INTENSO DESEJO romance Capítulo 11

Todos falam que sou uma boa garota, mas perdi pessoas demais para acatar todas as exigências que esse título exige. Não posso ser. Não me cabe. Não quero. Meninas boas não fariam o que ando fazendo, mas se alguém descobrisse, concluiria que tudo isso é a forma que encontrei de aliviar a dor e o medo. Pobre garota. Traumatizada e indefesa. Só que não é assim, busco pelo meu próprio prazer, porque posso e gosto. Eu não me arrependo do que fiz. Foi bom e me fez sentir a vida tocando minha alma, fui ao céu com cada suspiro que dei. Aprendi com a vida um tempo atrás que existe um prazo de validade para cada ser desse planeta, e não fazemos ideia sobre qual o dia do vencimento.

O homem que me criou é também o viúvo da minha tia, meu único parente vivo e o responsável legal por mim. Eu sempre o amei e posso afirmar que o amarei para o resto de minha vida, cogitar a ideia de que sofro algum tipo de dano psicológico e por isso ando agindo como uma "garota má", como ele mesmo disse, é um completo absurdo. Ok, nós passamos por momentos tortuosos nos últimos meses, fala sério, a nossa vida inteira foi difícil. No entanto, tio Enzo anda me tratando como se eu estivesse com algum tipo de doença ou algo do tipo.

Ele foi abandonado em um orfanato pela própria mãe, uma mulher que um tempo depois ele descobriu que sofria de um câncer no estômago ocasionado pela bebida que morreu dois meses depois deles se reencontrarem, não existiu um pai. Ele era um órfão que encontrou alento em nossa família e nos braços de tia Solange, lembro-me a primeira vez que o vi entrando pela porta da frente da casa grande e amarela, a casa que eu não entrava já havia anos e que pertenceu aos meus pais. Lorenzo é a pessoa mais forte que conheço, lutou por tudo que tem e conseguiu seu lugar no mundo dos negócios.

Enxugo a lágrima solitária que me escapou perante as lembranças e encaro a mulher grisalha a minha frente, checando se não fui pega.

Sentada na bancada espero Olga preparar o almoço, enquanto tento realinhar meus pensamentos e parar de pensar nele, sobre tudo o que vem acontecendo e no passado. A grande verdade é que eu sou uma boa garota por fora, mas existem pensamentos e vontades que flutuam dentro de mim, escondidos e reprimidos que destoam de toda essa imagem perfeita.

Mordo meu lábio inferior repetidas vezes, contendo a outra garota que existe aqui dentro, a garota forte, cheia de desejos e que não se importa com as consequências se o resultado for a felicidade mais genuína. Suspiro. Inquieta giro meu corpo para saída da cozinha, dou uma desculpa qualquer para Olga e subo as escadas para meu quarto e fecho a porta.

Levanto o colchão da cama de solteiro, retiro o pequeno caderno com a capa felpuda de cor rosa. Sorrio com o canto da boca esquerda e folheio todas as páginas já escritas dele, umas quinze no total. A ideia de ter um diário quando se já é uma adolescente é meio boa, mas não é como se existisse alguém que possa fazer o papel de confidente além dessas inúmeras folhas em branco, então eu só pego a caneta guardada dentro do próprio diário e passo aliviar a tensão do meu corpo.

Pego-me questionando mais de uma vez que se alguém lesse o que tem escrito nessas linhas ainda me veria como a boa garota, a ingênua e doce Melissa. É algo rotineiro em meu dia se questionar sobre tudo o que vivi, mas o único que eu não soube responder é se eu gostaria que as coisas fossem diferentes de agora, se eu escolheria ter meus pais e tia Solange de volta se isso significa-se perder Enzo. Viver longe de sua presença me parece o mesmo que não está viva, então, talvez eu precise realmente de ajuda, porque sinto que não mudaria nada na minha vida atual, embora a morte dos meus pais tenha acabada indefinidamente com uma boa parte de mim. Que o céu me julgue. Não sou uma pessoa ruim, mas escolho viver o que tenho pra viver, escolho o presente, escolho Lorenzo. Não sei quando comecei a enxergá-lo de forma diferente e passei ansiar pelo seu toque, de uma forma nada inocente, mas sei que não estou doente.

LORENZO

Perdi muito tempo ao longo de toda a minha vida, foram incontáveis minutos jogados fora. Perdi tempo ao me conformar, ao fugir, ao recuar, quando não pedi, exigi e peguei o que é meu por direito. Reprimi e sufoquei quem sou, por medo. Eu cansei.

Eu vou sair e pegar, talvez eu me arrependa depois e comece uma nova história. Perceba que todo esse tempo de repressão foi algo bom e realmente necessário, que viver na borda é insensatez e as consequências são indignas, mas talvez eu goste. Bom, eu vou lá tentar. Eu quero a intensidade e a paixão, a explosão e cada faísca disponível. Que a tempestade venha e me molhe por inteiro. Eu ainda vou.

O céu sobrecarregado de nuvens cinzas me motiva de uma maneira quase poética a tentar, quase, pois os pensamentos não são dignos de serem recitados. Desligo a luz de meu escritório, mais uma vez a casa se encontra em silêncio e convidativa, bem, ao menos é o que parece para mim, convidativa ao extremo e eu sinto que não posso controlar a euforia de experimentar de novo aquela sensação. A minha alma anseia por esse momento, como se estivesse faminta pela liberdade de poder experimentar finalmente o que sempre foi seu. A conexão da dor.

Aproveitando a música causada pelo impacto das gotas grossas contra o telhado de granizo. Me encaminho para o primeiro degrau da escada, respirando pausadamente. Sem pressa alguma subo não seguindo para meu quarto e sim para o dela, ignorando as consequências, nas quais serão sofridas futuramente, ignoro tudo e anseio pelo novo.

— Princesa. — Sussurro, não me dando ao trabalho de bater na porta e pedir sua permissão para entrar. Eu sei que tenho seu consentimento.

Ela dorme de forma quase angelical, mas não farei desse momento algo idealizado, pois eu clamo pelo real e que ele me traga uma nova realidade. Toco a pele de seu rosto, suave e jovem.

— Princesa. — Seu corpo treme sobre meus dedos, sofrendo o efeito de minha voz contra seu pescoço. Quero causar mais sensações com esta nela.

— Tio. — Seus olhos mal se abrem em minha direção, ela apenas resmunga sonolenta.

— Acorda, Mel.

Comentários

Os comentários dos leitores sobre o romance: INTENSO DESEJO