Lembranças das noites quentes de verão Falido, fodido e renascido das cinzas (II)

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- E por que ficou com ele, mesmo sabendo? – Perguntei, atordoada.

- Porque eu gostava dele!

- Assim como gostou de Colin? – Debochei, furiosa.

- Não gostei de Colin. Só queria provar ao nosso pai que ele não era o noivo perfeito, só porque era rico e fazia tudo certinho. Eu consegui mostrar que não existia homem perfeito para sua “filhinha”... Para nenhuma de nós, entende?

- Você destruiu a minha vida... Várias vezes.

- Ela encontrou Charles... E não demorou muito para se certificar de que eu havia armado tudo para ele. Então... Obrigou-me a aceitá-lo na gravadora, na minha casa... E nas nossas vidas. – J.R falou, sem olhar nos meus olhos.

- Ou contaria a todos que você era o responsável pela prisão dele. – Tentei unir os pontos.

- Sim. – Ele confirmou.

- E por que o encontro de todos na praia, no Natal? – Charles olhou para J.R e depois para Mariane.

- Eu queria conhecer Melody... – J.R respondeu – E Mariane queria mostrar à irmã que tinha conseguido ficar com o homem dela...

- Não ponha palavras na minha boca – Mariane interrompeu a fala do pai – Você não sabe nada sobre mim.

- Realmente não sei... Porque jamais passou pela minha cabeça que pudesse me roubar, me destruir, acabar com a J.R Recording.

- É muito menos do que você merece – ela olhou-o com desdém – Quero que fique sem nada, que se arraste implorando por comida... Só desta forma pagará por tudo que me fez.

- O que... Ele fez a você? – Estreitei os olhos, confusa.

- Não lhe diz respeito. – Ela reafirmou, recusando-se a me contar a verdade.

Olhei para os dois e não tenho certeza se senti raiva, pena ou ambos sentimentos misturados. Eles não eram dignos da felicidade. Por mais que tentassem justificar suas ações, eu não conseguia entender como chegaram a tanto por motivos tão pequenos e insignificantes.

- Charles... Eu não quero mais ficar aqui. – Decidi, olhando em seus olhos.

- Não precisamos ficar aqui, Sabrina. Não somos como eles e você sabe disto. Não quero que tenhamos contato com estes dois... Nem nossas filhas. Seu pai e sua irmã são tóxicos, doentes... E criminosos.

Fui em direção à porta, mas Charles seguiu até meu pai. Senti meu coração acelerar. Ninguém esperava pela atitude dele naquele momento, que foi de pegar meu pai pela gola da camisa e fazê-lo levantar da cadeira. Olhou fixamente em seus olhos e depois lhe deu um soco, fazendo com que espirrasse sangue de seu nariz.

- Desgraçado... Você quebrou o meu nariz. – Meu pai gritou, enquanto pegava um lenço dentro do bolso, estancando o sangue.

Fiquei imóvel, sem conseguir agir. Porque doía em mim cada palavra proferida naquela sala. Mas Charles havia sido preso e condenado injustamente, por um crime que não cometeu.

- Vou colocá-lo na cadeia, Jordan Rockfeller. – Charles disse quando se afastou dele.

- Sabe que não vai conseguir, desgraçado, filho da puta! – Jordan seguia tentando conter o sangue.

- Eu vou... Porque gravei cada palavra que você disse aqui. – Charles retirou o celular do bolso e apertou o play, revelando nossa conversa desde a chegada naquela sala.

Deus! Ele havia feito isso? Tinha gravado sua própria inocência! Não me passou pela cabeça fazer aquilo, em nenhum momento. Ele estaria livre... De toda a mentira. E finalmente Jordan Rockfeller pagaria por cada um de seus atos.

- Você não vai sair daqui... Vou chamar a segurança e pegar a porra do seu celular. – Jordan ameaçou.

- Pode pegar meu celular, J.R. Colin Monaghan, neste momento, já está com toda a nossa conversa gravada no celular dele. E assim, isso se tornará viral, como a destruição da minha carreira quando anunciaram na mídia que eu havia sido preso.

- Não fui eu... Foi ela que jogou na mídia sua prisão. – Ele referiu-se à Mariane.

Charles respirou fundo e encarou Mariane:

- Não vou fazer nada contra você... Porque basta viver da forma que vive: triste e sem ninguém que a ame. Isso é pior que qualquer vingança.

Dizendo isso, ele pegou minha mão e deixamos a sala da J.R Recording, descendo pelo elevador, calados, cada um com seus próprios pensamentos, até chegarmos ao carro.

Já era noite. Embarcamos no automóvel e nos olhamos. Charles tocou meu rosto e disse, carinhosamente:

- Acho que estamos livres da maldade deles... Ao menos por um tempo.

- Não é por um tempo, Charles. É para sempre. Meu pai pagará na cadeia por tudo que fez. E isso levará muitas pessoas com ele, inclusive a menina que aceitou dinheiro para mentir. Quero que todos paguem... E sofram da forma como sofremos.

- A justiça vem na hora certa.

Sim... Desde que façamos tudo por nossa conta. Afinal, vamos entregar-lhes a verdade

nossa escolha! Poderíamos ter agido

A Polícia não faria nada contra ele,

Mas agora precisarão fazer. Temos

pensou em gravar? Isso foi... Uma

Deveríamos ter feito isso há um bom tempo. De nada adiantam confissões sem provas. Seria a palavra deles contra a nossa.

de destruir meu próprio patrimônio, assim como

Não precisamos de nada desta gente... E você

Talvez tenha razão. Mas ainda me perguntou: o que aconteceu com minha irmã para tamanha raiva e desejo de vingança

- O que importa?

que vá fazer diferença na minha vida, pois nada justifica o que ela fez para mim. Mas ainda assim, eu gostaria de saber a história dela. Porque alguma coisa aconteceu e ninguém tira isso da minha cabeça.