Lembranças Perdidas romance Capítulo 71

Algo pingava.

O remédio no soro pingava no tubo de infusão conectado à sua mão, fazendo sons suaves de tique-taque.

As pálpebras de Thalia tremularam e ela abriu os olhos devagar.

A noite já havia caído, e o luar brilhava pela janela, iluminando a sala fria.

Ela desviou o olhar e viu Adam deitado ao lado da cama. A luz do luar refletia no rosto dele, deixando-o mais perfeito.

O rosto pelo qual ela havia se perdido por mais de dez anos quando jovem.

Ela também sofrera naquela época.

Mas por que ainda estava tão obcecada com fatos que deveria ter compreendido antes?

Agora que havia chegado àquele ponto, o que mais haveria para fazê-la relutar?

Pensou: 'Se eu não consigo conquistar o amor e o respeito dele, então vou embora'.

Ela iria para longe, para um lugar onde ninguém soubesse quem ela era. Então, cuidaria bem da saúde e daria à luz o bebê com tranquilidade...

Ela se perguntou: 'Por que tenho que ficar aqui e sofrer com humilhações?'.

Fechou os olhos e os abriu novamente, parecendo indiferente e fria.

Depois se endireitou e puxou a agulha da veia da mão com força. O sangue vermelho jorrou e salpicou o rosto de Adam, que acordou de repente.

Ele viu o que ela tinha feito e a encarou. "O que você está fazendo? Você tem risco de parto prematuro. Se não tomar os medicamentos, logo perderá o bebê!"

Thalia o fitou como se estivesse olhando para um estranho, sem qualquer emoção, o que deixou Adam triste.

Ela já o admirara com olhos brilhantes, mas, agora, eles estavam sem emoção e frios.

Enquanto ele permanecia atordoado, Thalia já havia se levantado e saído da cama descalça, caminhava em direção à porta.

"Thalia!" Adam correu atrás dela e a agarrou pelo braço. "O médico disse que você deve ficar deitada na cama e não deve se levantar. O que você está fazendo?"

Thalia se virou em silêncio e olhou para ele, distraída.

Parecia estar em um turbilhão de emoções, mas não demonstrava nada. O olhar perfurou o coração de Adam.

Ele apertou o braço dela. "Vamos conversar sobre isso amanhã. Venha se deitar."

Ele nunca fora falante e costumava ser menos paciente do que as outras pessoas. Mas, encarando Thalia daquele jeito, tudo que podia fazer era ficar calmo e ser paciente.

Ele agarrou a mão fria da mulher e a puxou para a cama.

No entanto, ela não o seguiu como ele esperava.

Na penumbra, os olhos frios dela pareciam escurecidos. Ela o fitou e começou a rir com desdém de repente. O escárnio foi ficando pouco a pouco mais profundo diante dele, e as costas de Adam ficaram rígidas.

Ele fora quem mais desejara matar o filho dela. Quão ridícula e irônica era aquela persuasão naquele momento.

Thalia zombava dele!

Fora ele quem a havia arrastado para a sala de cirurgia para obrigá-la a fazer um aborto!

Fora ele quem afirmara que o filho dela era ilegítimo. Ele a tinha humilhado mais de uma vez!

Fora ele, também, quem tomara o corpo dela à força, causando hemorragia e fazendo-a correr risco de parto prematuro!

As ações e as palavras dele tinham sido suficientes para provar o quão profundamente ele odiava aquela criança.

Mas agora, ele demonstrava preocupação com ela, usando a desculpa de que ela poderia perder o bebê a qualquer momento...

Até mesmo Adam podia sentir como era hipócrita!

Ele cerrou os punhos pensando em como se explicar, mas quando abriu a boca, sentiu a garganta seca e a língua amarga. Não teve coragem de dizer nada. Não podia negar tudo que havia feito no passado, assim como, naquele momento, não podia negar o fato de que estava mesmo preocupado com Thalia...

As emoções intensas o machucavam intensamente, mas ele as reprimiu e forçou Thalia a se deitar na cama.

"Me obedeça e tenha um bom descanso."

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