Isabella ficou boquiaberta logo que observou o homem adelgaçado na cadeira de rodas. O tecido do paletó preto estava um pouco frouxo nos ombros encurvados. Alexander mal lembrava o jovem robusto por quem ela se apaixonou. As linhas de expressões no rosto quadrado davam os primeiros sinais do envelhecimento prematuro.
— O que você quer, Isabella? — indagou ele, friamente.
— Eu só vim para conversar com a Nicole e aproveitei para pedir desculpas. — Colocou-se de pé e ajeitou a bolsa branca, de uma grife italiana, nos ombros. Aquele homem não a atraía como antes. — Sinto muito pelo que houve com você — balbuciou.
— Não preciso de sua piedade e nem mesmo que alguém sinta pena de mim — replicou em tom grosseiro. Alexander enlaçou a cintura da esposa. — Minha família me dá força e me ajuda a compreender que o amor deles é a única coisa que me mantém vivo.
Nicole, que estava em silêncio, atravessou os dedos pelos fios curtos dos cabelos castanhos do marido.
— Acredito que a Isabella já está de saída — disse Nicole.
— Sim! — Os lábios delineados por um batom nude rosado se esticaram em uma linha fina. — Eu vou organizar algumas coisas no meu apartamento antes de viajar. — Até logo!
— Adeus, Isabella! — Nicole parecia mais calma.
Alexander bateu os dedos na mesa enquanto Nicole acompanhou Isabella e trancou a porta em seguida. Ajeitou a armação dos óculos e manteve a feição sisuda.
— O que foi? — Nicole se aproximou.
— Por que você deixou a Isabella entrar? Você devia ter chamado a segurança.
— Não exagera, Alexander! — Nicole afundou na cadeira. — Isabella está arrependida.
— Você tem um coração mole e pensa que todo mundo é bonzinho.
Nicole fez um muxoxo e passou a mão no rosto. Lançou o olhar para os papéis sobre a mesa, era quase hora do almoço e não terminou de avaliar os documentos. O ringtone do BlackBerry derrubou o gelo do silêncio, ela olhou para a tela e suspirou pesado logo que viu o nome de Henry.
— Você vai atender? — A voz rouca suavizou.
Nicole assentiu com a cabeça, pegou o aparelho.
— Alô!
Ela permaneceu quieta enquanto ouvia a voz do pai. Fitou Alexander com os olhos marejados.
— O que houve? — Segurou o rosto da esposa com as mãos.
— Nós estamos a caminho! — Nicole desligou o telefone.
Lágrimas fluíram no canto dos olhos amendoados.
— Meu pai avisou que a madame Heloísa faleceu.
— O quê? — As pupilas dos olhos claros arregalaram. — Como?
Alexander envolveu-a nos braços.
— Segundo o meu pai, ontem, ela deitou cedo porque estava muito cansada. Hoje, pela manhã, ele percebeu que a madame Heloísa não se mexia e chamou a ambulância.
— Eu lamento, meu anjo!
Ele encostou o nariz nos cabelos de Nicole e ficou em silêncio enquanto a esposa desabava em lágrimas. Acolheu-a com ternura nos braços e puxou-a ao encontro do peito. Por um momento ela parou de chorar e limpou as lágrimas com o dorso da mão.
— Vamos, eu preciso ver o meu pai.
Alguns dias depois, Nicole despertou com a vaga sensação de que algo a incomodava. Ficou deitada de barriga para cima sobre a cama enquanto olhava o lustre dourado no teto branco. Mirou o homem que a abraçava e verificou a hora no relógio na cômoda ao lado.
Naquele sábado, ela permitiu-se descansar mais um pouco, todavia a mente insistia em trazer questionamentos sobre a vida. Afastou as cobertas e tentou sair da cama, parou de se mexer quando ouviu a respiração leve e um calor suave contra o seu pescoço.
— Você precisa descansar! — resmungou a voz rouca.
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