Nicole estava sentada no sofá com um estofado verde-escuro. Ajeitou os cachos dourados de Marcelly. A menina parecia mais feliz do que nos últimos dias. O ringtone do BlackBerry tocou algumas vezes, porém Nicole decidiu não atender, se Alexander soubesse onde ela estava, ele surtaria.
— Senhora Bittencourt! — O médico entrou na sala.
A boca larga esboçou um sorriso branquíssimo logo que avistou Nicole.
— Bom dia, doutor Becker!
Ela afastou-se assim que cumprimentou o médico com um aperto de mão.
— E quem é essa princesa?
Doutor Becker se abaixou na altura de Marcelly.
A menina deu um sorriso tímido e abraçou a cintura da mãe.
— Ela está feliz porque vai ver a outra mamãe.
Charles levantou-se e ajeitou o jaleco branco sobre a blusa de manga polo e a calça jeans azul. Jogou os cabelos negros para trás e olhou para a secretária que passou pela porta.
— Podemos conversar em particular?
— Claro!
— A minha secretária vai cuidar dela enquanto conversamos.
Marcelly aceitou o cookie que a senhora de cabelos grisalhos ofereceu-lhe e ficou no sofá enquanto assistia um desenho de fadas na TV.
Em passos lentos, Nicole acompanhou o médico até o fundo da sala. Estava atenta a tudo que o médico lhe explicava sobre o quadro clínico Josephiné nos últimos meses.
— A internação psiquiátrica é um jeito de tratarmos os pacientes que apresentam algum tipo de transtorno mental. Temos a finalidade de tirá-los da crise em que se encontram — explicou o médico. — Eu concordei com essa visita da filha de Josephiné porque após o período de adaptação à internação e do início do tratamento, as visitas são essenciais para que o paciente se sinta acolhido pela família. Entretanto, receio que este não seja o momento adequado.
Ele ficou calado por um tempo, mirou a menina que ria, Marcelly estava distraída.
— Por que não, doutor Becker? — indagou em voz baixa.
Os olhos perspicazes de Nicole se fixaram no rosto oval com a pele dourada do médico.
— A Josephiné não se recorda da filha — resmungou para que a menina não ouvisse. — Ela pensa que está grávida e se convenceu de que o falecido noivo virá buscá-la.
Nicole suspirou pesado, sentiu uma aversão ingovernável ao recordar das atitudes do irmão.
— Marcelly está chorando há meses, diariamente ela fala em ver a mãe.
Ela encarou os olhos que eram tão pequenos como uma fissura.
— Já ouviu falar sobre a terapia de reminiscência?
— Ouvi, sim! Minha mãe, ou melhor, a esposa do meu pai tinha Alzheimer e o médico sempre fazia essas atividades de reminiscência.
— Está funcionando? — questionou Charles, curioso.
— Às vezes, sim, e outras vezes, não! Dependia muito do momento em que a mente dela estava. — Nicole olhou para os dedos das mãos.
— Sua mãe lembra de você?
— Não! Heloísa não era a minha mãe; no entanto, ela sempre me tratou como filha.
— O importante é que você está ajudando na recuperação dela, espero que a terapia funcione.
— Não vai funcionar!
— Por que não?
— Ela faleceu há duas semanas.
— Eu sinto muito!
Nicole ergueu a cabeça assim que sentiu a mão que segurou delicadamente em seu ombro esquerdo, mirou o olhar complacente de Charles e recuou.
— Então, a Marcelly não poderá ver a mãe? — Desviou o assunto. — Tadinha, ela está tão animada. — Olhou para a filha sentada no sofá.
— Podemos tentar! — sugeriu o psiquiatra. — Talvez a Josephiné se recorde de Marcelly.
— Ela oferece algum perigo?
— Fique tranquila, ela está medicada. — Charles verificou a tela do telefone que tocava sem parar. — Alguns dos meus pacientes têm dificuldades, sofrem com apagões na memória, mas normalmente gostam muito de partilhar memórias antigas e de falar sobre os velhos tempos. Josephiné sempre fala sobre como conheceu Marcello.
— Compreendo!
— Me dê alguns minutos, por favor! Vou atender uma ligação e já retorno para levá-las até Josephiné. — Charles saiu em passos largos na direção da porta.
Nicole encaminhou-se até a filha e afundou no sofá ao lado de Marcelly, tirou um cacho do rosto da menina e beijou-lhe o topo da cabeça. Por um momento, ela sentiu vontade de agarrar a filha e sair correndo daquele lugar, olhou as paredes brancas em volta da pequena sala e segurou a alça da bolsa de couro preta.
— Que horas eu vou ver a minha, maman? — perguntou a voz infantil.
— Acredito que hoje não vai dar, princesinha!
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