Eram quase duas da manhã quando acordei, eu estava com muita sede, desci as escadas sonolenta para beber um pouco de água, fazia meses que eu não tinha um sono tão pesado como o daquela noite. Talvez fosse a similaridade da casa, da cama, do travesseiro, o cheiro da casa de classe média gravado na minha mente sem que eu tivesse percebido.
Tudo isso me deu trouxe uma tranquilidade que não experimentava por muito tempo. Eu não precisei acender as luzes ou abrir os olhos para encontrar um copo ou o filtro de barro que armazenava uma água fresca e limpa.
Fui capaz de beber três copos cheios de água antes de fazer o caminho de volta para meu quarto e cama. Eu já estava no segundo degrau quando por algum motivo não consegui me segurar. Molhei minha roupa e a escada. Eu estava zangada comigo mesma e desperta, quem não despertaria depois de fazer xixi nas calças? O pior é eu não estava tão apertada, ou estava?
Voltei a cozinha, peguei um pano e balde, juntei um pouco de desinfetante e água no balde, me coloquei de joelhos para limpar bem porcamente o chão. A posição em que estava era horrível. O líquido que pensei ser urina tinha um cheiro estranho de clara de ovo crua.
_O que está fazendo Ana? - tio Cláudio perguntou me assustando e fazendo cada pelo do meu corpo se arrepiar.
_Eu não consegui segurar... Já... Eu... Não sabia que estava apertada! Eu... Acho que estava meio... Acho que estava dormindo... - tento dizer alguma coisa, dar alguma explicação lógica para o que eu tinha feito. Não é preciso dizer que estava morrendo de vergonha. Principalmente quando meu tio me ajudou a levantar. - Pode deixar eu limpo. Eu fiz a porcaria eu que tenho que limpar! - falei muito mais alto do deveria e soube disso quando vi uma luz se acender no corredor. - Cacete!
_Ei mocinha! Desde quando a senhorita ficou desbocada desse jeito? - o mais velho me chamou a atenção mas, pareceu estar se divertindo.
_O que está acontecendo? - tia Lilian me perguntou do alto da escada.
_ Ana fez xixi nas calças, uma moça desse tamanho fazendo isso que vergonha! - ele caçoou, teria sido divertido em qualquer outra situação.
Não entrei na brincadeira, eu estava demasiadamente constrangida, diria que não via a menor graça se uma dor muito forte não cortasse minha coluna querendo me abrir abrir ao meio. Eu se quer ouvi o que acontecia ao meu redor. Foi difícil retomar a respiração.
_ Dessa vez veio bem forte! - sorri tentando conter o medo e confortar meus tios e avós do meu bebê que me olhavam com espanto.
_Essa foi primeira contração? - Lílian pergunta.
_Oi!? - Eu sabia o que era uma contratação, só perguntei com medo do que significava.
_Ana você disse que não sabia que estava apertada, certo? - mexo a cabeça em um sim amedrontado. - Depois disso, essa foi a primeira vez que sentiu essa dor? - Afirmo novamente. - Chaves do carro? - Cláudio pergunta a esposa.
_Com certeza! Melhor irmos do que essa criança resolver nascer aqui. - Por que eles parecem estar tão tranquilos quando eu estou morrendo de medo!? - Você acha que consegue tomar banho antes de irmos? Lílian pergunta com sorriso singelo.
_Acho que sim. - respondo contendo minha vontade de chorar.
No banho, Lilian me ajuda a lavar as pernas, depois me ajuda com o vestido. Penteia meus cabelos. Fico em pé e volto a sentar, outra vez a dor corta meu corpo e eu não sei se vou ser capaz de aguentar até o final.
_ Essa dor é horrível! - reclamei.
_No final, quando a Bea estiver em seus braços, você vai achar que toda dor valeu a pena. Apenas se concentre em trazer nosso bebê ao mundo. Eu vou estar ao seu lado. - ela dizia enquanto me guiava para fora do quarto com as bolsas penduradas em seu ombro.
Tio Cláudio pegou as bolsas e correu até a garagem colocando-as no bagageiro, depois abriu a porta para que eu entrasse e sua esposa se sentou ao meu lado. No caminho até o hospital eu senti dor mais duas vezes. Enquanto ouvia a voz doce e meiga da minha segunda mãe, a mulher que me criou, pedindo que eu me acalmasse e respirasse.
Não tinha percebido que chorava até que as pequenas mãos quentes de Lilian tentaram enxugar meu rosto molhado. A minha consciência gritava desesperadamente para que eu contasse a verdade. Eles mereciam isso. O medo por outro lado gritava alto para que eu permanecesse calada.
O casal começou a contar histórias de como foi o parto de Bruno e toda correria. Tio Cláudio zombou por Bruno se parecer tanto com ele e tia Lilian ter se aborrecido com isso.
_ Não é justo eu ter carregado aquele garoto por nove meses e ter sofrido para colocar ele para fora e depois de tudo ele nascer tão parecido com você!
_Dizem que os primeiros filhos são a cara do pai. Talvez se nós tivéssemos um segundo ele fosse parecido com você... - a voz do homem saiu com pesar, ambos sempre quiseram ter mais filhos.
_Tia... Promete que nunca vai fazê-lo voltar? Promete que não forçar ele a fazer nada que não queira? Ele não quis a Bea, nunca retornou uma ligação minha, não me respondeu uma mensagem... Eu disse que precisava dele, eu não queria ficar sozinha... Por favor, por favor promete não dizer nada? Tio promete? Por favor promete que ele não vai ter que fazer nada, eu não quero que ninguém saiba. A Beatriz é minha agora, só minha... Se um dia, um dia ele voltar vai ser por vontade própria... Por favor promete?
_A... - o homem começa sendo interrompido por sua esposa
_Nós prometemos. - Lilian disse. - Eu sei, Bruno é o pai.
_É... - Eu choro - me desculpem, eu... Eu disse a ele, ele nunca me ligou de volta! Foram tantas mensagens, tantas ligações, até e-mail eu mandei! Eu não tinha coragem de abortar! Então se ele não queria o meu bebê, se não foi capaz de me ouvir e acreditar em mim, então eu decidi que o bebê seria só meu.
_Estamos do seu lado minha filha. - tia Lili olha para marido, buscando alguma reposta, que ele parece dar a ela, que sorri. - Vamos trazer minha neta ao mundo!
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