Quinze dias após o nascimento de Bea...
Meus dias tem sido resumidos a Beatriz. Mal consigo comer e dormir. Ela acorda de três em três horas, chora muito... Eu fico perdida, a maioria das vezes não sei o que fazer. Choro o tempo todo junto com ela, tenho a sensação de que sou muito incompetente. Uma péssima mãe.
Meu pai fica com ela no colo para que eu tome banho, na maioria das vezes não consigo tomar banho direito. Houve vezes em que eu nem banho tomei. Não lavo meus cabelos a mais de uma semana. Estou fedendo a leite azedo o tempo todo.
Parece que esse cheiro está impregnado em mim. Me sinto suja, me sinto feia, me sinto horrível na maior parte do tempo. Minha vida se resume a Ana mãe da Beatriz. Porque é tudo que eu sou. Perdi minha identidade, perdi minha vida...
Estou tão sozinha nisso tudo! Mesmo tia Lilian me ajudando por uma parte da manhã, ou meu pai a noite. Eu estou sozinha e não consigo nem parar de chorar. Minhas lágrimas não secam. Eu perdi vinte quilos em quinze dias!
Estou tão magra quanto uma pessoa que sofre de anorexia. Olheiras fundas circundam meus olhos, pareço uma figurante de The Walkin Dead. Talvez eu seja mesmo um zumbi.
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Dois meses após o nascimento de Bea...
Eu não consigo dormir bem, durmo com certeza melhor que os primeiros dias de vida da minha filha, ainda tenho grandes olheiras ao redor dos olhos, não tanto quanto antes. Ainda sinto aquele cheiro horrível de leite azedo, parece um perfume ruim impregnado em mim. Ainda me sinto um tanto deprimida e triste.
Minha vida e meus horários não seguem um padrão, uso todo tempo que tenho livre para tomar um bom banho ou lavar o cabelo pelo menos uma vez por semana. Eu cheguei a conseguir tirar cutícula das unhas da mão um dia desses. Foi um caso isolado, que me deixou muito feliz.
Eu perdi mais peso no total foram vinte e cinco quilos e isso deixou meu pai preocupado. Minha mãe tem me ajudado com a Bea desde então. Tenho ajuda pela manhã da tia Lili, na hora almoço minha mãe fica comigo por duas horas e isso tem me garantido almoço em horários certos e comida quentinha.
A tarde eu ainda me viro para comer alguma coisa e na maioria das vezes como com Bea nos braços. A noite meu pai é quem me ajuda. Dou graças a Deus porque meu pai paga uma senhora para lavar e passar a roupa do bebê, guardar e arrumar o quarto.
Não posso reclamar, sei que poderia ser pior. Agora que todos sabem sobre a paternidade da minha filha, - depois do pai babaca dela confirmar minha história... Sabe lá como foi que perguntaram a ele sem que soubesse da vida do bebê. - eu recebi muito apoio.
Estou feliz, apesar do trabalho, me sinto completa, sinto um amor transbordar pelo meu peito. Tenho consciência de que estou abdicando da minha vida para cuidar da minha filha, sei também que isso é uma situação passageira. Logo, logo posso me dedicar mais aos meus sonhos e estudos.
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Seis meses após o nascimento de Bea...
Minha princesa está comendo suas primeiras papinhas, ela faz careta para tudo que come e é tão engraçado! Estou adorando suas risadas, suas caretas, a forma como ela dorme agarrada a mim, amo quando balbucia Mamama...
Agora tenho curtido bastante. Me arrependo das vezes em que pedia para ter uma folga da minha filha, para conseguir ficar livre dela um pouco. Foi tudo tão difícil!
Então, ela foi crescendo e foi ficando mais fácil, fui aprendendo mais sobre ela, fui amadurecendo...
Acho que eu e Beatriz fazemos uma dupla perfeita. Passo minhas tardes brincando com ela, sinto que nunca é o suficiente. Damon vem aqui as vezes. Sempre trás um brinquedo e disputa com meu irmão o posto de melhor tio, porque o de tio mais bajulador ele já conquistou faz muito tempo.
Acho bonito isso no meu amigo, porque ele realmente ama minha filha. Ele deixa bem claro que os fins de semana são dele, parecemos pais que dividem a guarda da filha. Todos os dias de visita são acompanhados com brinquedos ou roupas novas.
Meu irmão só vê a sobrinha por fotos ou vídeo, ele ficou pouco tempo aqui depois que Beatriz nasceu. Foi fazer sua faculdade no exterior como queria. Eu me orgulho dele, sei que não é tão fácil.
Logo, logo, entrarei na faculdade. Vou fazer design de interiores. Eu sei, não é muita coisa, mas, é legal e eu gosto. Se tiver sorte posso conseguir um emprego legal e ter um bom salário.
Em fim, tudo está se resolvendo.
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Oito meses após o nascimento de Bea...
Bea está com febre alta, a menina chora com força no meu ombro e eu já não sei o que fazer. Parece que todos estão ocupados de mais para me atender. Preciso de ajuda, choro junto com minha filha tentando ligar mais uma vez para meu pai que não atende.
Minha mãe também não está atendendo, tia Lilian e tio Cláudio estão com Bruno e eu sei que não posso ligar para eles, não se quiser manter em segredo a vida da minha pequena. Enquanto procuro por um número de táxi encontro outro número, faz mais de dois meses que não falamos. Não custa tentar, acho que Samuel jamais me negaria ajuda...
_Alô? - falo com a voz meio chorosa, quando ele atende o telefone no segundo toque.
_Ana!? - sua voz indica surpresa e preocupação.
_Eu sei que não deveria ficar te ligando, eu quero pedir desculpas por isso, não tinha outra saída... - estou chorando e falando alto porque minha filha ainda chora.
_Só me diga o que precisa.
_Bea está ardendo em febre, meu pai não me atende, ninguém me atende... Preciso levá-la a um médico... Eu... - ouço barulhos do outro lado, não consigo identificar, Samuel parece estar fazendo alguma coisa... Correndo talvez.
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