Nove meses depois do nascimento de Bea...
Bea estava com nove meses quando entrei na faculdade. As primeiras semanas foram uma maravilha, conseguia chegar em casa e dormir, tinha tempo para tudo. Mas depois...
Eu vivia correndo pela casa aproveitava cada minuto de sono da minha filha para estudar, minhas olheiras quase sempre davam o ar da graça me fazendo parecer uma bruxa das histórias que contava a Bea.
Histórias que eu acredito que ela não entendia nada. Mesmo assim insistia em contar. Eu gostava, era um dos momentos só nosso. Me fazia muito bem, no fundo acho que as histórias eram mais para mim mesma do que pra ela.
Meu primeiro semestre foi muito, muito difícil, parecia que todo o universo se movia em prol da minha desistência. Perdi a conta de quantas noites eu chorei porque não conseguia desenvolver um trabalho, estudar para uma prova e quando eu peguei minhas notas no fim...
Eu chorei feito criança, dessa vez, por felicidade. Eu consegui muito mais do a média, minhas notas estavam entre as primeiras da turma. Como presente, um vale nigth, uma noite em que eu poderia sair com minhas amigas e me divertir. Meus pais ficariam com a Bea e eu não precisava me preocupar.
Pela primeira vez na vida eu fui a uma boate. Adorei a música eletrônica, a fumaça, o álcool, as pessoas... Samuel chegou quase meia hora atrasado reclamando que não tinha onde estacionar.
Apesar de nós trocarmos alguns beijos no decorrer do tempo ainda não tínhamos tido um dia como esse em que podíamos ficar juntos, sem hora para chegar em casa esse pareceu ser o dia perfeito para "tirar o atraso", como minhas amigas diziam.
Eu já estava meio alta por causa do álcool, então todo resto seria bem fácil. É fácil se dormir com alguém certo? O que eu teria fazer? Abrir as pernas e ele faria todo resto. Certo!? Errado!!!!! Totalmente errado.
Eram quase onze da noite quando liguei para casa perguntando da minha filha que estava dormindo. Aliviada aceitei ir para o apartamento do Samuel. Beijos e mais beijos, mãos e roupas que eram retiradas e... Eu me apavorei. Fiquei muito nervosa, comecei a tremer e quase chorar porque na minha cabeça ele iria me usar como Bruno fez.
Fiquei imaginando eu ligando para ele no dia seguinte, ou pior ele me entregando minhas roupas e me mandando ir embora como aconteceu com uma colega da faculdade.
Samuel percebeu meu nervoso me deu um pouco de chá de camomila e biscoitos, depois me levou em casa. Não fui capaz de pedir desculpas porque estava estremamente envergonhada. Eu queria mesmo ter feito aquilo. Mas não, tinha que me lembrar do babaca do Bruno.
Por mais que soubesse que Samuel e Bruno são pessoas totalmente diferentes eu simplesmente não consigo ver essa diferença. Estou marcada e pelo visto por um logo tempo.
Primeiro aniversário de Bea...
O primeiro ano da minha princesa foi comemorado de forma simples, um bolo decorado, alguns docinhos e salgadinhos. Meus pais, meus tios, Samuel, meu irmão e sua noiva, Damon e sua namorada. Cantamos parabéns, abrimos os presentes, tiramos muitas fotos, cortamos o bolo.
A festa começou as sete e terminou completamente as dez. As onze Bea estava na cama e eu estudando e meus pais no quarto fazendo o que eu gostaria muito de poder fazer.
Passei boa parte da madrugada estudando. Não posso dizer que estava feliz, também não estava triste. No fundo eu sabia que só queria que minha filha tivesse o amor do pai.
Um ano e meio após o nascimento de Bea.
Não consegui acreditar que passei pelo segundo semestre! Eu fiquei tão feliz. Estou procurando um emprego agora. Acho que já passou da hora de começar a me sustentar e a minha filha também. Eu sei que vai ser difícil no começo, nada é tão fácil quanto parece.
Samuel me pediu em namoro e eu neguei. Não quero namorar, não tenho tempo para isso. Minhas prioridades são Beatriz, meus estudos e vida profissional. Eu gosto do Samuel e no futuro pretendo sim aceitar o seu pedido, isso se ele for capaz de me esperar.
Namoro não é uma prioridade.
Estou bem assim. Não se mexe em time que está ganhando e nossa última noite juntos provou que não capaz de dormir com alguém. Eu aceito isso, sem problemas, estou muito, muito bem com meu estado solteira de ser.
Namoro não é prioridade...
Dois anos após o nascimento de Beatriz...
_Eu paguei pelo carinho de algodão doce, pipoca e hamburguer! Não entendi até agora porque só dois! Esse contrato está errado. - Estou atrasada para aulas, tenho uma prova daqui a meia hora e ainda estou resolvendo as pendências do aniversário de Bea para o próximo sábado.
_Senhora o contrato está correto. A senhora pagou pelo carrinho de pipoca e hamburguer, o algodão doce é brinde. Está escrito logo aqui. - a moça jovem e loira me mostra um parágrafo no contrato.
Droga! Está correto, porque não li tudo antes de falar alto e ser rude com a pobre moça.
_Me desculpe, você está certa. Sei que não justifica mas, estou atrasada para uma prova...
_Tudo bem. Porque não fazemos assim, eu te envio por e-mail os documentos você lê com tempo e assina. Preciso deles com um dia de antecedência, ou meu patrão vai me mandar embora. - a jovem sorri.
_Obrigado... - é tudo que consigo dizer antes de me retirar, ela que está sendo gentil comigo quando eu fui um brutamontes.
_Boa sorte com sua prova. - ela diz alto suficiente para que eu ouça de onde estou. Aceno com a cabeça um obrigada.
...
No quarteirão acima da empresa onde aluguei os brinquedos e carinhos de guloseimas, espero aflita o ônibus para faculdade que parece que nunca vai passar. Olho para o relógio e os minutos parecem não passar. Pelo menos não é só o ônibus que atrasa.
Mais cinco minutos e nada. Estou quase procurando um táxi quando um carro preto para ao lado. O ponto está praticamente vazio e me preparo para correr, pelo menos terei uma desculpa para o atraso. Faço um boletim de ocorrência e estou salva.
_Uma carona lindinha? - Theo da turma de engenharia pergunta.
Fizemos algumas matérias juntos e ele é parece um cara legal. É alegre e muito gentil, tirando quando decide me lançar suas cantadas baratas. Não sei se deveria aceitar a carona, hoje em dia ninguém é confiável, além do mais tenho uma filha para criar. Entro no carro e lanço um sorriso sem graça em agradecimento.
_Acho que estamos atrasados. - ele diz.
_É, estamos. - respondo. Ok. Eu sei que deveria conversar e tentar um diálogo normal, só não consigo. Estou extremamente constrangida e arrependida por ter aceitado a carona.
_ Você é muito tímida... - Theo sorri sem tirar os olhos da estrada. - acho que esse seu jeito acanhado é o um charme, a cereja do bolo, no meio de tanta beleza.
Acho que deveria pedir ele para parar o carro e descer, tenho a sensação de que vou ser violentada aqui...
_ Está gostando do curso? - respondo com um balanço de cabeça. - Ana!? - ele para no sinal e me olha. - está gostando do seu curso?
_Sim. - respondo o olhando de volta.
_ Uffa! Pensei que tivesse ficado surda ou que suas cordas vocais tivessem arrebentado, ou pior! Você poderia ter engolido a própria língua. - ele está brincando e fazendo graça por minha timidez, seu sorriso de lado não deixa dúvidas.
_Não... Meus ouvidos estão bem, as cordas vocais intactas, a língua também. - mordo minha língua entrando na brincadeira e Théo está parado em outro sinal quando faço isso.
_Que inveja dos seus dentes! - outra cantada barata. Estou começando a achar que ele só faz isso para brincar comigo. Estou sentindo meu rosto queimar de vergonha e ele solta uma gargalhada. - Garota... Você está muito vermelha. - ele volta sorrir.
_ Idiota... - falo baixinho para que ele não me ouça. Foi quase como um pensamento .
_Olha... Ela sabe xingar! - ele volta a gargalhar.
_Eu não xinguei!!! - respondo de imediato.
_ Claro que xingou, me chamou de idiota, logo eu que fui um cavaleiro super gentil que te trouxe sã e salva para a faculdade no horário certo de fazer a prova. Te pediria um beijo em troca mas, você já me chamou de idiota e feriu meus sentimentos. - ele dramatiza enquanto estaciona seu carro.
Eu não pude resistir e sorri. Ele poderia ter sido rude, porém, levou na brincadeira o que eu disse. Acabei gostando dele.
_ Me desculpe por ferir seus sentimentos e muito obrigado pela carona.
_De nada, lindinha. Quando quiser retribuir meus lábios estão a sua espera.
_Certo. - dou uma semi gargalhada e balanço a cabeça enquanto saio do carro.
...
Samuel está com uma mulher, uma morena com um corpo de paniquete, ela é realmente muito bonita e eu sou incapaz de não sentir inveja. Todos aqui estão acompanhados, os amigos do meu pai, os colegas de trabalho da minha mãe, alguns amigos da tia Lili e do tio Cláudio. A festa é realmente muito maior do que eu esperava. Tem cerca de setenta crianças correndo pelo salão ou pulando em algum brinquedo. Fora os adultos que tem no mínimo uns cem.
Enquanto isso me sinto sozinha e inútil aqui sentada nos fundos do salão enquanto Bea sobe pela escada de corda e desce pelo escorredor que cai direto na piscina de bolinhas. Nem ela precisa de mim ou se quer se lembra da minha existência, enquanto brinca no brinquedo ou com alguma criança.
Olhando para minha filha penso que talvez ela também se sinta sozinha, não agora claro. Talvez eu devesse colocá-la em alguma escolinha só para que ela tenha convívio com outras crianças. Uma escolinha de meio período enquanto eu estou fazendo o estágio...
Vou conversar com meu pai, talvez ele me ajude. Talvez ele até pague a escola, não quero abusar do meu pai, sei que ele não tem obrigação com a Bea. No entanto, ele é a única fonte de renda na minha vida. Com um suspiro triste me levanto da cadeira que jazia sozinha quase que criando raízes.
_ Bea! - ela me ouve e vem correndo - a mamãe vai no banheiro e já volta. Obedece a monitora. - digo antes que ela se aproxime muito, a piscina de bolinhas atrapalha ela a vim com rapidez até onde estou
_ Tá bom, mãe! - ela grita e tenta correr de volta, agora ela está indo até uma escada de madeira que leva ao tobogã azul e rosa.
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