Naquela noite, não consegui dormir, chorando até não me restarem mais lágrimas, e apesar disso, não tinha sono. A angústia me consumia e uma dor aguda atingia meu coração, em intervalos. Por fim, sentei-me na cama e olhei pela janela, avistando o céu noturno, imaginando quando tudo isso terminaria, esperando ter um tempo de todas as aflições da minha vida.
"Carrot!" Alguém bateu apressadamente na minha porta: "É melhor você não estar dormindo." Eu me arrastei para fora da cama, quando minha porta se abriu, batendo contra a parede: "Você não me ouviu bater?" Sylvia gritou, apontando um dedo para mim.
"Eu já ia abrir a porta", murmurei, esfregando os olhos e com o coração acelerado.
Sylvia era a chefe de um grupo ômega, ao qual eu pertencia, e mesmo ali, eu era um pária. Red Lake tinha um total de setenta e quatro lobisomens, liderados pelo Alfa Howard e a Luna Grace. Apesar do nosso pequeno tamanho, a alcateia de Red Lake tinha betas e ômegas, unidades menores na alcateia principal, liderada por um alfa ou um beta. Sylvia chefiava a menor unidade da alcateia principal, ômega, por ser ela o beta mais fraco em Red Lake. A sub-alcateia incluía ômegas... e eu. Ela me odiava.
"Com quem você tá falando?" Ela zombou, fechando a porta.
"Me... me desculpe." Eu abaixei minha cabeça, com a garganta queimando.
Doía abaixar a cabeça para essas pessoas o tempo todo, fazia minhas entranhas se contorcerem e minha pele apertar, mas não tinha escolha. Na alcateia de Red Lake, eu era o elo fraco, a última das últimas, então tive que ceder, ou então levaria uma surra e passaria fome por dias.
"Você deveria mesmo se desculpar, " brincou Sylvia, com os punhos cerrados ao lado do corpo. Havia ficado claro que ela queria me bater e, por isso, me preparei para proteger meu rosto, mas para minha surpresa, ela não o fez. Em vez disso, seus lábios se curvaram e ela me olhou da cabeça aos pés, antes de deixar escapar um som de desgosto: "O Alfa quer ver você." Senti meu coração no estômago, enquanto minha mente acelerava.
"P-Por quê?" Eu perguntei com um suspiro, mas foi um erro.
"Garota boba!" Sylvia berrou, me apressando. Era uma mulher enorme, mais que o triplo do meu tamanho, então quando correu na minha direção, eu, claro, caí para trás, estremecendo ao bater meu cóccix e ao mesmo tempo sentindo seu punho me atingir.
"Quem é você pra me questionar?" Ela gritou: "Vou colocar algum bom senso em você. O que te dá o direito de agir de forma tão presunçosa? Como ousa me questionar, quando digo que o Alfa quer te ver!?" Ela pontuou cada palavra com um golpe, em meu rosto, meu peito, meu estômago, ela me batia em todos os lugares e eu não tive coragem de bloquear minha face.
Fiquei imóvel no chão e me recolhi ao interior da minha concha. Dentro dela, não sentia nada. Ela batia no meu corpo, mas eu não sentia nada, me xingava, mas não ouvia nada. Na minha concha, o mundo desaparecia e eu estava segura e protegida – longe do sofrimento que enfrentava diariamente.
"Você tá morta?" Sylvia saiu de cima de mim, sacudindo meus ombros com mais força do que o necessário.
"Não," respondi. Não importava que eu desejasse estar morta – eu ainda estava viva.
"Bom," ela disparou: "É tarde demais pra morrer agora." Com essas palavras sinistras, ela me arrancou do chão e me colocou de pé, mas meus joelhos cederam e eu caí novamente. "Pelo amor da deusa!" Ela me arrastou de volta para ficar em pé: "Anda logo! Não deixe o Alfa esperando!"
"Tá bom," eu murmurei, alisando meu vestido.
"Você... isso..." Seus olhos brilharam novamente e parecia que ela estava prestes a me bater de novo: "Lave o rosto antes de ir," ela rosnou para mim, antes de sair, fechando a porta.
Todos os cômodos da casa da alcateia tinham banheiros, exceto o meu. Cada membro ficava na casa de graça, exceto eu. Tive sorte de ter um quarto, mesmo com a porta quebrada, onde não havia nada além de uma pequena cama, feita para uma criança.
Eu ri, enquanto limpava meu rosto com um pano molhado, e sangue escorrendo pelo meu nariz. Não restava muito humor no meu mundo - apaga, não havia humor nenhum. Ontem à noite, a única esperança que eu tinha de ser feliz foi tirada de mim e agora parecia que não tinha razão para viver. Estava doente e cansada, principalmente cansada, e só queria fechar os olhos e abraçar a escuridão para sempre. Uma parte de mim sabia que era perigoso ter tais pensamentos, mas não me importava, nada mais importava.
Desci as escadas e encontrei a chefe de cozinha da alcateia, Amanda, subindo. Pela maneira como seus olhos brilharam de raiva quando me viu, eu sabia que estava ali me procurando.
"Você!" Ela apontou sua colher de madeira, marca registrada, para mim: "Você esqueceu que tá de serviço na cozinha com a Fátima hoje?" Ela gritou.
"O Alfa mandou me chamar," eu respondi em um tom monótono.
"Ah..." Um olhar estranho surgiu nela: "Você tá bem?" Uma emoção curiosa cruzou seu rosto. Olhei para ela por um segundo após o outro. Era a primeira vez que alguém perguntava sobre meu bem-estar e por isso eu não sabia como responder.
"Sim," eu respondi e então segui meu caminho, quando uma mão agarrou meu bíceps, me parando.
"Carrot, o que aconteceu?" Eu então reconheci o olhar dela, era preocupação e pela primeira vez, vi isso dirigido a mim.
"Você tá aqui." Sua voz era fria, mas seus olhos riam de mim.
"Sim," respondi como uma boneca quebrada: "O Alfa me chamou."
"Aham, como você sabe que..." o Alfa Howard começou: "Red Lake está tentando formar alianças com outras alcateias." Eu não sabia disso. A única coisa que sabia ali era a localização das coisas na cozinha e na lavanderia, somente o que eu precisava saber: "O Alfa Norman de Silver Lake acabou de perder sua companheira, então está procurando outra pessoa para ser pareado. Noah sugeriu você, como uma boa opção para ele." Naquele momento, o frio em meu corpo se espalhou pelos ossos: "Enviamos uma carta para ele ontem à noite e respondeu esta manhã, para mostrar como está ansioso." Na verdade, Howard era o ansioso, se seu sorriso largo indicasse alguma coisa: "O Alfa Norman aceitou você como sua próxima companheira. A Cerimônia de Pareamento será no próximo mês, após a de sucessão de Noah."
"Tudo bem," a palavra escapou facilmente dos meus lábios, juntamente com o silêncio atordoado. Olhei para as três pessoas sentadas à minha frente e todas tinham várias expressões de surpresa: "Isso é tudo?" Eu adicionei. A Luna foi a primeira a se recuperar do choque.
"Ah, claro que não." Ela me deu um sorriso mais doce e falso do que o de Bella: "Meu quarto tá uma bagunça, eu ia ligar pra alguém do seu subgrupo providenciar, mas já que você tá aqui, vai me ajudar, não vai, querida?" Ela disse, agitando os cílios.
"Tudo bem," eu murmurei.
"É só isso que sabe falar agora?" Noah gritou, pulando de seu assento entre seus pais. "Que diabos..."
"Noah..." o Alfa Howard o cortou, com um olhar severo.
"Eu vou limpar o quarto, se vocês me derem licença." Levantei-me e subi as escadas até o quarto da Luna, sem olhar para trás. Era uma casa que eu havia limpado mais de cem vezes, então eu sabia me virar.
Ao entrar, uma brisa fresca soprou da varanda aberta. Aproximei-me para fechar a porta, pegando as roupas pelo caminho, mas quando cheguei ali, parei.
Segurando as grades, olhei para o chão abaixo de mim enquanto minhas mãos tremiam. Eu nunca tinha pensado naquilo antes, mas estava tão cansada naquela manhã. Será que era porque passei a noite anterior chorando em vez de dormir ou por conta dos limões podres que a vida me deu? De qualquer maneira, eu queria fechar os olhos e dormir.
"Você quer pular?” Uma voz suave e tingida de riso, então, fez cócegas na minha pele.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Minha Luna Destinada
Muito bom, quando terá atualizações?...