"Engraçado...," ele começou, seus olhos frios e cruéis. "Até ontem, você mantinha a cabeça erguida e falava com indiferença, mas agora..." Ele se deteve, caindo na risada: "Agora você parece morta." Seus olhos brilharam: "Eu queria te ver quebrada, mas não é divertido se você quebrar tão fácil assim." Uma expressão ameaçadora tomou conta de seu rosto.
Então, se aproximou de mim, forçando-me a dar um passo para trás e minhas costas baterem nas grades frias.
"Agora já sabe qual é o seu lugar, Carrot?" Ele bufou, com um sorriso digno dos lábios do diabo.
Eu sempre soube o meu lugar, nunca tentei subir mais alto do que meu status, nem pedi que prestassem atenção em mim ou que me amassem. Quando me batiam, eu dizia a mim mesma que era porque eu merecia e quando tiravam comida da minha mesa, me impulsionava a fazer e ser melhor.
Red Lake nunca foi minha casa e eu sabia disso desde criança, não tinha família ali, nem propósito e relevância. Agradeci ao Alfa e sua Luna por me deixar ficar na alcateia, mesmo quando eu não mudei de forma aos quinze anos, como qualquer outro lobisomem.
Eu sabia o meu lugar ali, era servir, mas por mais que eu me curvasse, não era o suficiente, não gostava de abaixar a cabeça. Me curvar para agradar essas pessoas me machucava, mas aprendi meu lugar cedo, então, apesar de ser difícil engolir meu orgulho, eu fazia isso o tempo todo, a ponto de passar a ser mais fácil de engolir o orgulho agora, porque já era quase inexistente.
"Tô falando com você, não, Carrot?" Levantei o olhar, ao ouvir o som de raiva na voz dele.
Eu pisquei, e seu contorno era um borrão na minha frente. Estava muito perto, perigosamente perto e apesar do quanto eu odiava isso, meu corpo estava sintonizado com o dele. O calor que emanava de seu corpo esquentava o frio que se espalhava dentro de mim, mas não era o suficiente, e o frio era maior, e se espalhou mais rápido.
Carrot ("Cenoura").
Era o meu nome, não um apelido, mas o nome que ganhei ao nascer e minha mãe prontamente me abandonar no hospital. Não tinha cabelo ruivo, então meu nome não tinha justificativa. Minha mãe gostava de cenoura? Ela havia comido muita cenoura durante a gravidez de mim? Ou odiava cenouras? Eu nunca saberia, porque não cheguei a conhecê-la.
"A Luna me pediu pra arrumar o quarto dela," respondi em um tom monótono, o vazio se espalhando dentro de mim: "Se você me der licença..." Tentei passar por ele, mas me impediu.
"Sua garota atrevida...", ele rosnou com os olhos brilhando: "Seria melhor você pular." Mãos fortes me empurraram e meu mundo girou em seu eixo, enquanto eu caía em queda livre.
Por uma fração de segundo, minha boca se abriu em um grito e estendi a mão, tentando agarrá-lo, no corrimão, em qualquer coisa. Quando meus olhos arregalados encontraram os risonhos dele, o grito morreu na minha garganta e o vazio frio dentro de mim se espalhou, e então fechei os olhos e tudo escureceu.
***
Bip... Bip... Bip.
Um som incessante e irritante alcançou meus ouvidos, através da escuridão. Após ele, alfinetadas de desconforto empurraram minha pele, minha garganta queimava e minha cabeça latejava, em um ritmo turbulento.
"Você está acordada." Um homem desconhecido estava ao meu lado com um vestido branco ofuscante e uma carranca sutil: "Sabe seu nome?" Mesmo com os ouvidos zumbindo, ele parecia impaciente.
"Carrot", murmurei com a garganta apertada.
Como eu ainda estava ali? Noah me empurrou para fora da varanda e, embora fosse apenas um andar, pensei que tudo estava acabado. Então, a não ser que a vida após a morte parecesse uma enfermaria de hospital, eu não havia morrido.
"Isso mesmo, Carrot." Seu olhar ficou ainda mais severo: "Quantos dedos têm aqui?"
Era meu maior defeito aos olhos dos lobisomens da alcateia de Red Lake. Por mais que eu me curvasse, minhas costas permaneciam rígidas e por mais que me batessem, eu ainda me levantava da terra com a cabeça erguida. Não sabia por que ou como fazia isso, mas algo em mim não suportava me afundar na sujeira e na pena, não me considerava uma lutadora, mas lutei para manter um pingo de dignidade, que fosse.
A porta se abriu antes que eu formulasse uma resposta para o médico, e Noah entrou correndo com olheiras ao redor de seus olhos vermelhos: "Você tá acordada." Seu ombro se curvou para frente, o alívio ecoando em sua voz.
"Você tentou me matar." Senti uma familiar e maníaca risada emergindo em minha garganta.
Não importa o que eles fizessem comigo, nunca considerei tirar minha vida. Era um pensamento fugaz que tive outro dia, um que não deixei criar raízes em mim, mas Noah Howard... ele que me empurrou da sacada de sua mãe.
"O que você está dizendo?" Foi o médico que saiu em sua defesa: "Você tentou se matar porque não queria ser pareada com o Alfa Norman. Entende o estigma que nos coloca como alcateia? Sabe quanta fofoca está circulando agora sobre o Alfa Norman!? Uma ômega insignificante prefere se matar do que ser sua companheira!" Ele ficou com o rosto vermelho enquanto gritava, e saliva voava por toda parte.
"Doutor," Noah disse, com uma voz fria: "Por favor, nos deixe por um minuto."
"Ainda não fiz o check-up necessário..." O homem argumentou, mas um olhar dele o fez se calar, ficando branco como a neve, antes de assentir e sair do quarto, fechando a porta e nos deixando sozinhos.
O ar de arrependimento e ansiedade ao seu redor desapareceu e seus lábios curvados se ergueram para formar um leve sorriso. Ainda parecia cansado, mas seus olhos estavam vivos ao sorrir para mim, e então abriu a boca.
"Eu disse que iria te quebrar completamente, não foi?" O sadismo brilhava em seus olhos, enquanto ele sorria.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Minha Luna Destinada
Muito bom, quando terá atualizações?...