Eu não chorei ao me sentar do lado de fora do santuário enquanto todos corriam para se proteger. Não chorei quando Krystal parou sua corrida frenética só para rir da minha cara. Também não chorei quando Tom tentou forçar Colóvis a se juntar a eles no santuário. Por todo o tempo, segurei as lágrimas que ameaçavam derramar.
A lua logo nos agraciaria. Só Deusa sabia o que estava acontecendo quando nos sentamos ao pé da escada de uma casa. A decoração pendurada em cada varanda não parecia mais tão alegre como no início da Festa da Lua. Os pássaros pareciam agora cantar em um tom triste. O céu escuro carregava nuvens de melancolia.
“Ainda dá tempo de você se juntar a eles”, eu disse a Colóvis.
Eu não a queria ali comigo, porque sabia que me preocuparia com ela a cada minuto. Se ela fosse para o abrigo como todo mundo, eu ficaria tranquila sabendo que eu seria a única arriscando minha vida por estar ali.
“Se você não pode entrar, eu também não vou.” Ela pegou minha mão e a apertou. Deitei minha cabeça em seu ombro, inalando seu perfume natural do mar.
"Você ficaria segura lá." Eu sabia que, se não fosse por ela, eu estaria sentada sozinha, sentindo pena de mim mesma, mas, mesmo assim, não trocaria sua segurança pelo meu conforto.
“E você vai ficar sozinha aqui? Eu posso lutar, mas você não. Pare de insistir nisso. Não vou deixar minha melhor amiga sozinha em uma guerra iminente só porque uns imbecis decidiram barrá-la", ela prometeu.
Colóvis tinha uma voz suave e macia, que soava engraçada quando ela ficava chateada. Com 1,65 m de altura, ninguém diria que ela era baixinha, mas sua altura e tamanho também não intimidavam ninguém. Seu rosto inocente e sua aura calma não a ajudavam a botar banca, mas não duvidei nem por um minuto que ela pegaria um facão e entraria na luta se necessário fosse.
“O que você acha que está acontecendo agora?”, perguntei baixinho, fechando os olhos. O brilho da lua acariciou meu rosto. Normalmente, estaríamos rezando na cerimônia final da Festa da Lua enquanto os metamorfos da matilha atravessavam a floresta, mas aquele não era um dia normal.
"Ele está aqui", ela sussurrou de volta.
Sim, o Príncipe Alfa Amaldiçoado e seu Beta haviam chegado em nossas terras algumas horas antes. Houve uma sutil mudança no equilíbrio do poder em nosso território. O Alfa Jackson deixou de ser a lei e o Alfa supremo. Com seu poder reduzido, o nosso também diminuiu. Isso nos deixou com mais medo.
Notei a presença de lobos desconhecidos ao meu redor – a diferença no cheiro em torno de nossas casas era tão surpreendente que até meu ineficiente olfato percebeu. Sim, havia invasores por ali.
“Estou com medo”, eu admiti para ela, apertando suas mãos com mais força.
Eu odiava minha matilha e o que eles haviam feito comigo. Eu odiava meu Alfa. Minha lealdade àquelas pessoas havia diminuído ao longo dos anos, a cada soco, a cada chute e a cada palavra áspera. Meu vínculo com a matilha enfraquecera ao longo do tempo por eu ter sido deixada de lado, mas não havia quebrado. Um fio tênue me ligava àquele povo, o suficiente para que eu pudesse sentir a ansiedade que todos sentiámos como matilha – o pavor do desconhecido.
"Eu também." Colóvis apertou minha mão com ainda mais força.
Ao menos uma de duas coisas poderia acontecer quando uma matilha dominava outra: carnificina ou mudança de liderança. E nenhuma das duas opções soava agradável.
Ficamos sentadas em silêncio por um longo tempo, com nossas cabeças encostadas uma na outra, enquanto a lua cheia ficava cada vez maior e mais brilhante. Para nossa surpresa, alguns minutos depois, ouvimos o chamado do Alfa Jackson.
Olhei para Colóvis. Ela olhou para mim. Suas mãos se contraíram e pelos começaram a cobrir sua pele.
"Eu tenho que ir." Quando ela disse isso, ela já tinha mais dentes do que um ser humano; dentes irregulares em uma boca cheia de saliva. Eu soltei minha mão e, em menos de um minuto, ela estava quase fora de vista, rasgando suas roupas enquanto corria. Isso me deixou sozinha a uma pequena distância da casa da matilha.
O Alfa Jackson não desistiria de sua posição sem lutar. Ele tinha o direito de governar a Matilha Dark Lake – um direito que ele herdou de sangue. Ninguém entra no território de outro alfa para tirar seu território sem que haja uma batalha. Eu só esperava que as consequências não fossem muito devastadoras.
Nunca nenhuma mídia ou canal de notícias havia coberto um evento como aquele, e os historiadores gostavam de distorcer a história para encobrir algo de que não se orgulhavam. Apenas alguns livros didáticos falavam da vida e das façanhas do príncipe Valentino. Livros que nossas escolas baniram, claro. Algumas matilhas o estudaram, como descobri há pouco tempo, mas outras acreditavam que só de pronunciar seu nome faria ele surgir do nada.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Minha Ômega Luna
Continuação por favor?!!...
Meu Deus cadê a continuação??...