Minha Ômega Luna romance Capítulo 3

“Você não pode deixar que eles ganhem.” Repeti meu mantra na cabeça seguidamente, enquanto dois homens me seguravam e um terceiro me atacava. As feridas nas minhas costas nunca saravam, porque eu não passava uma semana sequer sem ser apresentada a uma nova forma de tortura. Eu acabei desenvolvendo uma alta tolerância à dor e, para me manter subjugada, a Matilha Dark Lake ficava cada vez mais criativa em seus métodos.

“Eles não vão tirar meu ânimo.” Na verdade, se eu investigasse mais fundo, veria que meu ânimo – ou o que restava dele – estava em frangalhos, mas meu mantra me fazia continuar.

“Eu serei forte.” Essas palavras se repetiam sem parar na minha cabeça, um lema que me acompanhara nos últimos onze anos.

Onze anos antes, meus pais traíram a matilha. Naquela época, eu tinha amigos e levava uma vida boa, até que eles arruinaram tudo. Eles estavam insatisfeitos. Meu pai queria ocupar a posição do Alfa Jackson e fez de tudo para conseguir. Minha mãe acreditava que precisava sempre apoiar seu companheiro, por isso ela ficou ao lado dele mesmo com todos os segredos, todas as traições, mesmo com a infiltração no círculo do Alfa e o ataque subsequente. Eu não passava de uma criança de nove anos, cujos pais se tornaram traidores.

Mas eles não conseguiram cumprir o que haviam planejado. Um amigo próximo – um homem a que meu pai prometeu que seria seu Beta no final do golpe – se acovardou no último minuto e foi correndo contar tudo para o Alfa Jackson. Ele fez jogo duplo com o meu pai e o Alfa Jackson, mas, no final, alocou toda a sua lealdade no Alfa. Ele não acreditava que meu pai pudesse ser bem-sucedido no seu plano, então, graças a ele, a missão falhou antes de ser concluída.

Meus mantras pareciam não me ajudar daquela vez. Os cânticos na minha cabeça, assim como o desespero de me agarrar a algo, de encontrar um pouco de força interior para não sucumbir, não estavam surtindo efeito. Era demais para mim. O fato de eu estar apanhando mais uma vez depois do que havia acontecido na noite anterior  ultrapassava a barreira mental que eu tanto havia lutado para manter no lugar por todos aqueles anos.

Eles finalmente haviam me destruído.

Era o meu pior pesadelo se tornando realidade. Tentei manter uma parte de mim viva, manter um pouco de força para não parecer uma fracassada como meu pai, mas aquilo corria no meu sangue, então não consegui. Tudo o que eu fazia dava errado. Tudo em que eu encostava quebrava.

Era a verdade.

Uma verdade da qual tentei fugir por onze anos. Uma verdade que eu agora aceitava. Se não havia melhorado nada em onze anos, não seria agora que melhoraria. Eu nunca teria uma vida melhor. Eles haviam me vencido. Eu não consegui ser forte o suficiente, e eles venceram antes mesmo de eu entrar no jogo.

"Basta", ordenou Alfa Jackson. O estalar das chibatadas foram cessando. Ficou óbvio, então, que não eram aqueles sons que enchiam a sala. Não. O que tomou conta do ambiente foram meus gritos, meus apelos, meus pedidos de desculpas, porque, embora eu tentasse ser forte em minha mente, falhei miseravelmente na prática.

Mas, também, quem não choraria se levasse uma surra todos os dias? Quem suportaria tanta dor como eu? Eu estava sem forças. Eu chorei, implorei e senti pena de mim mesma, ainda que não quisesse fazer nada disso. Quando Krystal me pedia para beijar seus pés, eu caía de cara no chão e babava em cima deles. Quando Tom me pedia para tirar a roupa, eu a rasgava no mesmo minuto.

De que adiantava resistir? O que eu havia conseguindo tentando me manter forte durante todo aquele tempo? Eles haviam me destruído. Eles ganharam. Eu não tinha mais forças para me importar.

Eles me deixaram sozinha na cela fria. A dor nas minhas costas me aquecia. O sangue escorria e encharcava minhas roupas. As lágrimas não paravam de escorrer pelo meu rosto. Meu nariz estava entupido com o muco que escorria pelo meu queixo.

Fechei os olhos, desejando que tudo terminasse. Tentei fugir uma vez, e a tortura que sofri quando me encontraram não valeu a emoção inicial que senti por segundos de liberdade.

O próprio inferno tinha que ser melhor do que aquela matilha. O diabo deveria ser melhor que o Alfa Jackson. Ele me odiava. Nossa, como ele me odiava!

Eu era fisicamente muito parecida com o meu pai e, por isso, seus pecados refletiam em mim. Acho que, quando ele olhava para mim, via a pessoa que destruiu seu mundo e matou sua companheira.

"Eu não deveria ter matado seu pai", ele me disse uma vez. "Eu deveria tê-lo deixado viver para testemunhar o que eu faria com você. Para fazer com ele mais do que eu jamais poderia fazer com você."

Ódio não descrevia o que ele sentia por mim. Ele me detestava, desprezava o ar que eu respirava e cuspia no chão que eu pisava.

O som de passos se aproximando me fizeram suar frio. Quando ouvi a chave da masmorra em que o Alfa me deixara se mexer, fechei os olhos com força. Um calafrio desceu pelo meu braço e espalhou arrepios por todo o meu corpo cansado.

Ele já tinha voltado?

Ele me mataria desta vez, eu tinha certeza, e eu receberia a morte de braços abertos.

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