"Que barulho é esse?", perguntou Florência pela décima vez, enquanto eu lavava a louça utilizada na cerimônia da manhã.
A Festa da Lua terminaria naquela noite com uma corrida e uma iniciação para as pessoas que se acasalaram com algum membro da matilha durante o último ano. Esperava-se de todos os lobisomens capazes de se transformar em lobo que honrassem o Chamado do Alfa na primeira lua cheia. Quando o Alfa Jackson uivava para chamar a matilha, os lobisomens deixavam para trás suas formas humanas e galopeavam rumo à floresta, para o ritual final da Festa da Lua. O resto se reunia do lado de fora, com os rostos erguidos para a nossa deusa, rezando por uma iniciação bem-sucedida e pela oportunidade de participar do próximo Banquete da Lua.
"Que barulho é esse?", perguntou Isabella, parando de lavar a louça para ouvir melhor.
Os sentidos dos ômegas não eram tão bons como os dos outros lobos. Nós éramos os elos mais fracos na maioria das matilhas, valorizados apenas por nossa empatia e serviço prestado. Florência, sendo Beta, podia ouvir sons a centenas de metros de distância, mas nós, os ômegas, mal podíamos ouvir o que acontecia a poucos metros de distância se não abaixássemos as orelhas.
“Parece uma debandada”, disse Florência, franzindo a testa. As outras garotas na cozinha pararam seus afazeres. Ainda era início da noite, então não poderia ser o Chamado do Alfa que causara a debandada.
Sendo um lobo latente, tenho sentidos piores do que todos os outros ômegas, então, mesmo quando todos já conseguiam captar o som de pessoas correndo, eu ainda não conseguia ouvir nada. Meus sentidos eram tão ruins quanto os de um humano – eu era uma metamorfa com a minha loba presa dentro de mim.
Não ouvi barulho nenhum até que o caos adentrou a casa da matilha. Uma verdadeira debandada! As pessoas corriam, gritavam, portas batiam aqui e ali… a casa da matilha tremia! Os ômegas estavam congelados ao meu lado, enquanto os outros membros da nossa matilha fugiam de sabe-se lá o quê.
"O que está acontecendo?", perguntou uma garota ao meu lado, paralisada. Isso tirou Florência de seu transe.
"Continuem trabalhando. Vou descobrir o que está acontecendo." Ela saiu da cozinha com as pernas trêmulas e fechou a porta atrás de si. Sem sua supervisão, todos na cozinha começaram a conversar.
“Como ela pode ser tão cruel?”, perguntou Isabella, balançando a cabeça com as mãos apoiadas nos quadris. “Se estivéssemos sob ataque, ela nos deixaria lavando a louça enquanto todos fogem para um lugar seguro.”
“Nunca ouvi falar de uma matilha tão cruel com os ômegas quanto a nossa. O que nós somos para eles? Os cordeiros que podem ser sacrificados?" Voltei a lavar a louça enquanto as outras garotas conversavam entre si.
Eu podia até ser uma ômega como elas, mas também fui uma traidora e minha loba não apareceu quando deveria. Então, eu não era considerada como uma deles. Na verdade, alguns membros, como a Isabella, juntaram-se à matilha na intimidação.
Enquanto as meninas conversavam entre si, ouvi uma voz vindo lá de fora. Como a cozinha ficava no andar de baixo e eu estava de frente para uma janela enquanto lavava a louça, consegui ouvir as vozes em pânico do lado de fora antes que as outras garotas.
“Sim, é o Príncipe Valentino”, sussurrou um homem em voz baixa. “Cerca de 100 lobos acabaram de romper nossas fronteiras.” Meu coração parou.
Príncipe Valentino. O Príncipe Alfa. O último lobo de linhagem real em todo o planeta. O nome que os pais sempre usavam para assustar os filhos rebeldes.
O Príncipe Alfa era o filho caçula da Rainha Viviana e do Rei Timothy, os últimos governantes dos lobisomens. O príncipe fora amaldiçoado a vagar pela terra com seu povo e, por mais de 100 anos, conquistou matilhas por onde passava, expandindo seu exército em busca da pessoa que poderia quebrar a maldição.
A última vez que ouvimos falar deles, eles nem estavam em nosso continente ainda, mas ele não seria o príncipe Valentino se não atacasse quando as pessoas menos esperassem.
“Estamos preparados para enfrentá-lo?”
Que matilha estaria preparada para um ataque do Príncipe Alfa amaldiçoado?
Nos últimos cem anos, ele já havia reivindicado cerca de 50 matilhas. Seu exército foi crescendo, e os membros de sua matilha, que foram amaldiçoados junto com ele, conquistavam tudo.
"Coma toda a comida senão o Príncipe Valentino virá atrás de você!"
As crianças aprendiam a temê-lo desde cedo. Ele era o príncipe que, se fosse preciso, destruiria o mundo para quebrar a maldição.
“Os guerreiros nas fronteiras do sul fugiram”, continuaram conversando os homens do lado de fora da janela. “Os invasores estão se aproximando rapidamente. Não, Ivan, não estamos preparados."
“E cadê o Alfa Jackson?”
É incrível como, de uma hora para a outra, uma vida pacífica pode virar de cabeça para baixo e se transformar em uma verdadeira selva. A realidade se tornou algo que nunca esperávamos.
O título de Alfa estava na família do Alfa Jackson desde o início da Matilha Dark Lake. Ele não desistiria dele sem lutar. Mas o Príncipe Alfa venceria. Ele vinha conquistando tudo desde quando era muito jovem, desde antes de sua maldição. O Alfa Jackson não tinha a menor chance.
Eu lastimei. A loba que existia em mim ainda devia lealdade a seu Alfa, não importava o quão idiota ele fosse. E ela estava triste com a derrocada da nossa matilha.
Ouvimos uivos que aceleraram nossos passos. Mesmo que eu não fosse um lobo, eu reconhecia o som daqueles que pertenciam à minha matilha. Os uivos deles eram familiares para mim, mas aqueles que eu estava ouvindo não. Não eram gritos de guerra, mas, sim, uma espécie de anúncio de quem chegava para comandar o show.
Quando o Príncipe Valentino assumia uma matilha, ele governava por alguns meses, às vezes até um ano, e depois designava um Alfa para liderar em sua ausência, levando o resto de seus homens consigo para encontrar outro lugar para se estabelecer.
E claro que o escolhido era sempre um Alfa amaldiçoado com o espírito de um lobo errante.
"Chegamos." Respirei fundo quando Colóvis me soltou. Havia um amontado de pessoas na porta do pequeno prédio que ficava no topo dos abrigos subterrâneos. Eu ouvi os uivos novamente.
Dois seguranças bloquearam nossa passagem quando tentamos entrar no prédio.
"O que é isso? Saia do caminho!", exclamou Colóvis, olhando para trás para ver se alguém nos seguia. Algumas pessoas nos ultrapassaram quando paramos. Os seguranças as deixaram passar sem problema, mas quando Colóvis avançou, ainda segurando a minha mão, os homens bloquearam nosso caminho novamente.
Um homem olhou para nossas mãos cerradas e ergueu os olhos para mim. Engoli em seco com o olhar dele, dando um passo para trás.
"O problema sou eu." Colóvis se virou com a testa franzida quando dei outro passo para trás. “Eles não vão me deixar entrar.” Engoli em seco, sentindo os olhos ardendo.
“Não deixaremos uma traidora entrar em nosso santuário.”

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Minha Ômega Luna
Continuação por favor?!!...
Meu Deus cadê a continuação??...