Moradora de rua romance Capítulo 27

Agora eu estava dentro do carro voltando para casa, observando os remédios que a doutora havia me dado, uma cartela pequena com três comprimidos, e um frasco de vidro.

Um comprimido antes de dormir e três gotas de floral três vezes ao dia, isso me faria parar de sentir tanto quando eu tinha pesadelos, ela disse que eu precisava entende-los mesmo se quisesse fugir deles.

-Obrigada...-Isobel fala e eu a olho confusa-Por estar tentando...

-Eu que agradeço por ficar do meu lado e não desistir de mim... Sei que não está sendo fácil, mas para mim seria melhor se eu esquecesse disso, todos me falam que não adianta eu correr disso mas vocês não viram oque eu vi...

-Porque você não nos conta, se falasse seria mais fácil entender...

-Nem eu mesma consigo entender...

Passamos o resto do caminho em silêncio, assim que chegamos fui direto para o segundo andar, destranco a porta e entro a trancando novamente em seguida, caminho até a tela em branco no cavalhete e observo minha roupa dobrada na cadeira, visto o short e a regata manchada de tinta, fico descansa mesmo e prendo meu cabelo, aceitar meu passado... aceitar meu passado... respiro fundo e abro a tinta preta, molho o pincel nela e passo sob a tela, aquela garota... a que eu prometi cuidar, quem era ela? outra pincelada e uma dor forte de cabeça, seus olhos pedindo por ajuda, olhos puxados, tristes o cheios de lagrimas, o nariz arredondado lábios finos e bem desenhados, o queixo redondo, a franja cobrindo a testa e encostando nos cílios, o cabelo longo e liso, uma cicatriz na sobrancelha direta, o preto dos olhos combinando com o cabelo, o rosto pálido e o nariz vermelho por conta das lágrimas, a maquiagem preta borrada descendo pelas bochechas e roupas pretas vulgares, e ali estava ela, me afasto do quadro e vejo que estou chorando, observo a pintura e parecia ela ali, me olhando me implorando por ajuda, assim como no sonho da noite anterior. Eu estava tremendo e aquela memória me dilacerando, pego o floral e pingo 3 gotas a baixo da lingua, o liquido era doce e frio.

Respiro fundo, ainda tremendo troco a tela por outra branca, pego a tinta branca a misturando com a preta, encharco o pincel e o sinto tocar a tela, aquele quarto, paredes cinzas, o mofo nos cantos, 8 colchões no chão, cobertas dobradas, cobertas velhas e com alguns furos, travesseiros quase sem enchimento, a janela pequena no meio da parede, com um cadeado enferrujado para que ela não se abrisse, a luz da lampada suja e velha que quase não iluminava o local, a luz era amarelada, o chão que um dia foi branco agora era manchado, com sujeira e sangue, sangue escuro e seco.

Eu não estava mais tremendo, agora as lágrimas pararam de cair e eu observava os dois quadros prontos, sem vida, tristes e sombrios, mas a garota ainda me chamava atenção. Eu peguei uma nova tela, abri o pote de tinta, mergulhei o pincel e preenchi a tela branca em minha frente.

Não percebi a hora passar apenas quando anoiteceu, tampei minha tintas e sai do quarto o trancando, assim que me viro vejo Sebastian.

-Ah meu Deus!-Falo colocando a mão no peito.-Que susto!

-Estava vindo te chamar para jantar, ficou o tempo todo ai dentro desde que voltou...

-Eu já ia descer... Vou tomar um banho antes, a comida já esta pronta?

-Não ainda não...-Ele se aproxima e toca a tinta seca em meu braço.-Não costuma usar preto em suas pinturas...

-Dias sombrios exigem pinturas sombrias...-brinco mas Sebastian não ri apenas me observa com atenção.-Vou voltar na terapeuta daqui três dias... quando o remédio acabar para decidir se quero superar isso...

-Eu gostaria se você lidasse com isso de frente... você é forte e consegue...

-Obrigada... bem depois de tanto flerte você cedeu primeiro e eu quem fiquei emocionada...-Brinco e vejo Sebastian pensar e dar um leve sorriso.

-Meu beijo causa isso nas pessoas...

-É seu beijo é traumatico!-Brinco e desço as escadas indo em direção ao meu quarto.

Troco de roupa e tomo um banho rapido, visto uma calça jeans e uma regata branca, calço sapatilhas e vou até a sala de jantar, Isobel estava sentada no lugar de sempre e Sebastian também, me sento em frente a Isobel e me sirvo da carne assada com batatas. O silêncio estava inquietante e isso começava a me incomodar mas por fim Isobel falou.

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