Por Você romance Capítulo 164

Bônus do Marrento - parte 1

— Não acredito que você a deixou escapar, Marrento! — Ele berra ao pé do meu ouvido fazendo algo tilintar lá dentro. Estamos no pico do morro mais propriamente na cede do chefão. O lugar parece um labirinto. É enorme e cheio de salas por todos os corredores. Cicatriz segura uma arma em punho e por duas vezes ele apontou o objeto para a minha cabeça violentamente. Ele está puto pela fuga da Jasmine. No entanto, foi melhor assim, porque não consigo imaginar o que faria comigo se descobrisse o que eu fiz com ela. A cena ainda está nítida na minha mente. Eu a machuquei, a fiz sangrar e se ele soubesse com certeza arrancaria o meu couro por isso. — Eu te dei uma missão, porra. Olhar a garota e mantê-la segura naquela casa, caralho! — rosna andando para perto de uma janela. Cicatriz me dá as costas. Eu podia me aproveitar dessa situação e pegá-lo de jeito, mas já vi muitos morrerem por muito menos que isso. — Eu vou te dar outra chance — diz sem se virar pra mim. — Só preciso que responda, quem a tirou de lá? — pergunta sentando-se de frente para mim. Estou de joelhos no chão bem no centro do seu escritório. Meu rosto está sangrando devido aos golpes e coronhadas que me deu durante o interrogatório. Cicatriz está sendo tolerante até demais comigo. Ele não é assim. Sempre foi um homem frio, cruel e intenso. Não é de pensar duas vezes antes de agir. Ele é mais do tipo não gostou, morreu. Errou, está morto. Não cumpriu a missão, já era! Eu respiro fundo sentindo o gosto metálico do meu próprio sangue na boca.

— Eu não sei! — repito pela quinta vez. Estou cansado e eu só queria que ele acabasse logo com isso.

— Eu não acredito em você! — rosna em alto e bom tom e eu sei que vou morrer. É o fim da linha para mim. Começo a pensar na minha vida, na minha infância, ela começa a passar como um livro aberto na minha frente. — QUEM, MARRENTO? EU QUERO UM NOME, PORRA! _ Ele grita e encosta a arma na minha cabeça com força. Fecho os olhos estremeço, esperando o som familiar que dará cabo da minha vida em uma fração de segundos.

— EU NÃO SEI, PORRA!!! — berro tão alto quanto posso. — Eu... saí pra ir buscar comida pra ela e deixei o Cobra tomando conta da porta, e quando voltei. Droga, ele estava morto e ela... ela não estava mais lá! Que droga, Cicatriz! — Solto outro berro e o encaro com raiva. Os olhos claros tão frios quanto uma pedra de gelo invade a minha alma e sinto o meu corpo gelar igualmente. — Quer me matar? Então me mata logo, porra! — O desafio entre dentes, sem desviar o meu olhar do seu. Ele segura pressiona o cano da arma contra o machucado na minha cabeça e uma dor terrível me acomete, fazendo-me soltar um gemido estrangulado.

— Eu vou te matar quando eu quiser, quando eu achar que devo te dar esse privilégio, entendeu?! — inquire com voz ríspida. — ENTENDEU, PORRA?! — grita. Porra, por que ele não acaba de vez com esse inferno?!

— Sim, eu entendi! — respondo me sentindo derrotado.

— Eu quero a minha filha de volta, Marrento. A quero aqui comigo me ajudando, trabalhando pra mim. Ela vai liderar tudo isso aqui quando eu me afastar.

Puta que pariu, o que ele está me dizendo? Jasmine nunca aceitará isso. Ela é como uma princesa, linda como um anjo. Me lembro o quanto a admirava na sua adolescência. Não me cansava de observar a garota que parecia um anjinho subindo e descendo esse morro na companhia da sua avó. Por muitas vezes me peguei suspirando quando tinha o prazer de sentir o seu perfume ao passar por mim e fazer isso se tornou um hábito, por isso estava sempre no seu caminho, ávido esperando-a passar.

— Essa será a sua última chance, Marrento — repete me despertando. — A sua missão é trazer Jasmine de volta para sua casa onde é o seu devido lugar — ralha largando o meu cabelo e eu respiro aliviado. — Esqueça o garoto riquinho por enquanto. Levante-se! — ordena e eu me forço a levantar, fitando a arma ainda em sua mão. Uma segunda chance. É difícil de acreditar nisso. Cicatriz é um homem traiçoeiro. Por muitas vezes o assisti deixar suas vítimas relaxar e respirar, sentir-se aliviado como estou agora para depois meter uma bala em suas cabeças. Ele sorri largamente para mim. Sabe que estou com o pé atrás, que eu não acredito em segundas chances vindas dele. — O quê? Isso? — questiona balançando o objeto brilhoso na minha frente e apenas suspiro. O infeliz volta a apontá-la para mim, a engatilha e junto com o clique o meu coração dispara. Ele leva o dedo ao gatilho e faz um "Pá! Pá! Pá! " com a boca. Trêmulo, eu fecho as mãos em punho. Filho da puta do caralho, desgraçado! — É bom que tenha medo de mim, Marrento, porque esse será o seu destino se a minha filha não estiver aqui comigo em breve — fala com uma tranquilidade assombrosa e engulo em seco.

— Eu vou trazê-la nem que seja arrastada — prometo. É isso, ou a minha vida. Penso. Seu sorriso se amplia.

— Perfeito, garoto! Agora vai se lavar, você está um lixo! Depois, coma alguma coisa e amanhã vamos nos sentar e organizar um plano. — Assinto saindo imediatamente e sem olhar para trás. — Não esquece, porra, eu te salvei e eu te construí. Por tanto, você é meu até enquanto fizer o que eu mandar! — Rosna quando chego a porta e sem me virar para trás apenas confirmo com a cabeça e saio dali.

Eu bem sei o porquê dele me manter vivo até agora. A verdade é que Cicatriz era o dono do morro que fica a alguns quilômetros dessa comunidade. O meu pai era o maioral aqui. Ele mandava e desmanda nessa porra toda. O maior narcotraficante do estado do Rio de Janeiro. Minha mãe sempre me manteve longe desse mundo obscuro. Ela me mantinha na escola e exigia de mim as melhores notas. Não que eu esteja reclamando, eu adorava tudo aquilo. Mas uma noite o Cicatriz invadiu essa comunidade, matou os meus pais na minha frente e depois tomou o poder a força. E como punição me manteve vivo e me ensinou a arte do comércio negro. Hoje sou um assassino profissional, o melhor no meu ramo e sempre que ele precisa se livrar de uma pedra no seu sapato, sou eu quem ele chama. Eu pensei que estaria seguro enquanto fizesse o seu servicinho sujo, mas hoje entendi que só valho alguma coisa enquanto ele achar que sirvo para ele. Entro na minha casa e fecho a porta atrás de mim. Uma das melhores e mais confortáveis casa desse morro. Um duplex todo em vidro escuro e blindado, bem decorado com móveis de tons de preto e branco. Olho para o meu reflexo no piso de mármore branco e rasgo um palavrão ao ver o estrago que ele fez

— Filho da puta! — Vou até um bar de canto, me sirvo uma dose tripla de uísque e bebo toda em um só gole. Me sinto cansado e dolorido. Foram duas noites de surras e de torturas, sem comer ou beber qualquer coisa. Subo as escadas e vou direto para o meu quarto. Um lugar amplo de onde tenho a bela visão do Cristo Redentor. Olho para a enorme cama redonda bem no seu centro e anseio me jogar nela e finalmente descansar. Meus olhos param em cima da minha imagem pintada com tinta a óleo por uma artista renomado daqui mesmo do estado RJ e suspiro olhando os detalhes elegantes. Tudo isso foi comprado com o dinheiro do tráfico ou as custas do sangue de alguém. Ando para o banheiro e encaro a imagem horrenda no reflexo do espelho.

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