No dia seguinte, chego do trabalho tarde, a Ferrari vermelha de Hassan está estacionada do outro lado da rua. Pelo jeito seu ombro já está melhor.
A emoção de vê-lo corre pelo meu corpo. O coração acelera, minha boca seca.
Deus! Será que algum dia isso será natural para mim?
No hall, antes de entrar em casa, dou uma olhada no espelho. Estou bem. Meus cabelos estão penteados, minha maquiagem não está borrada e meu vestido amarelo é lindo.
Deus! Não se engane. Você está vestida ao contrário de tudo que Hassan gostaria de ver em uma mulher. A começar pela cor, fora o corte do vestido.
Modela meu corpo.
Acima dos joelhos no estilo tomara que caia.
O que salva um pouco é esse lindo babado rendado preso na parte superior da mesma cor do vestido.
Deus sabe que não me vesti para contender.
Nem para impressionar.
Só estou sendo eu mesma.
Eu respiro fundo e digo para mim mesma antes de entrar: Seja o que Deus quiser!
No caminho, sinto a fragrância masculina de Hassan. O perfume dele é sua marca registrada.
Deus! Eu amo o cheiro dele.
Logo que entro na sala, o avisto rindo para papai. Ele percebe minha presença, pois automaticamente sua cabeça se vira em minha direção, mas o sorriso morre em seus lábios quando ele me vê.
Sinto a pele aquecer-se sob seu olhar, que agora se fixa no meu vestido, nas minhas pernas, e sobe para os meus ombros nus. Absolutamente desconcertada, sinto meus mamilos se enrijecerem sob o tecido do vestido.
Deus! Ainda bem que o babado cobre eles.
Hassan está de tirar o fôlego.
Lindoooo.
Vestido com uma camisa branca, um pouco aberta no peito, calça preta sob medida. Os cabelos negros bem penteados. A barba bem aparada. Só que há nele um detalhe que me diz que não está tudo bem. Apesar de a camisa dele ser grossa, eu podia ver seu peito subir e descer, pelas batidas fortes de seu coração, e reconheci que ele não está gostando nada da minha visão nesse vestido.
Sorrio para todos, passando uma segurança que não sinto.
— Boa noite.
— Boa noite, filha. Pegou trânsito?
— Não, trabalhei até mais tarde. Mudança de coleção.
Hassan me olha calado, mas seus olhos estão fixos em mim.
— Bem, vou deixar vocês a sós.
Eu sorrio para papai, que se afasta em direção à cozinha.
Hassan se levanta do sofá.
De súbito, sua face se contorce com raiva e ele rosna algo inteligível, mas sei que é um palavrão.
— Bismillah! — “Em nome de Deus”. — O que significa isso?
— Isso o quê? — me faço de desentendida.
— Você sabe muito bem ao que eu estou me referindo!
— Essa sou eu, sendo eu mesma. Não era isso que você queria?
Hassan ofega.
— O que combinamos? Que você seria razoável. Lembra?
Ele me olha agora como se eu fosse uma vagabunda.
— Eu ainda me sinto uma dama com este vestido, isso para mim é ser razoável. Eu trabalho com moda, Hassan, e este vestido está na moda.
Respirando fundo, eu o encaro dolorosamente. Os seus olhos se tornam intensos e ele pega a minha mão e me puxa para o sofá.
— Sente-se aqui.
Ele se senta ao meu lado e se vira para mim:
— Você precisa se decidir o quanto eu sou importante para você. Se você se vestir assim, sabe que irá me desagradar. Será uma guerra sem fim, pois eu não pretendo ceder. Nosso relacionamento irá se desgastar sem ao menos ter começado.
Eu olho para baixo, vejo minhas mãos nas dele. Sinto o calor delas nas minhas. Tirando esse jeito dele, eu me sinto bem com ele.
Eu o amo!
Contudo, tenho tanto medo de ser sufocada por ele. Acho que por isso, de forma inconsciente, me vesti de maneira tão provocativa, tão sensual.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: O Egípcio
Muito bom, amei....