O Egípcio romance Capítulo 52

Dia seguinte, terça-feira…

Hassan

No dia seguinte, tive um dia corrido. Além do meu trabalho do dia a dia, com a reforma do hotel em andamento, minhas preocupações dobraram. Lá pelas cinco horas da tarde, fui até a delegacia. Eu ainda não tinha pegado meu celular e nem as joias.

Mas então me vem a surpresa. Karina já está em posse delas. Fico parado, anestesiado com essa informação. Aperto meu maxilar com força. Eu me sinto como se um punho gelado apertasse no fundo do meu peito, logo me vem uma sensação de vertigem súbita e meus olhos perdem o foco.

Minha razão logo me condena dizendo que eu estou enganado com ela. Que Karina é dissimulada, igual às mulheres que conheci, apegada ao material, mas se passa por uma mulher simples.

É aquele sentimento ruim de novo, aquela desconfiança impregnada dentro de mim e que antes eu não tinha no meu coração. Eu confiava mais nas pessoas. Mas agora essa sensação me persegue, me acusa, me transtorna quando menos eu espero. E o pior é que, quanto mais eu gosto de Karina, mais esse sentimento tem crescido dentro de mim. Acho que por causa das decepções que tive ao longo dos anos.

Se eu pudesse, gostaria de poder entrar na sua mente e descobrir como funcionam seus pensamentos. Mas isso não é possível, então entendi que cabe a mim alimentar esse sentimento desconfiado ou não. Sabendo que carregar isso me fará mal, muito mal. Então eu optei por afastar esses pensamentos nocivos e seguir meu coração, minha intuição.

Comecei a dizer a mim mesmo que ela não é assim. Que ela apenas se esqueceu de me devolver as joias. Olho o meu relógio de pulso. Agora são sete horas da noite. Estou em casa, estou me arrumando para ir à casa dela, estou louco para vê-la.

Não combinei nada antecipadamente. Acho um absurdo ter que marcar hora. Não podemos ter entre nós esse tipo de formalidades.

Desci as escadas com um sorriso no rosto. Quando estou para entrar na sala, ergo minha cabeça e me deparo com um homem de cabelos grisalhos, muito bem-vestido, sentado tranquilamente no MEU SOFÁ.

Al'ama! (Maldita!)

O que essa sharmoota (puta) está pensando?

Eu sempre contei com uma vigia na casa. Abiá me relatava se algum homem estranho entrava aqui. Um dia aconteceu de Helena trazer um homem. Ela ficou um mês sem receber sua mesada gorda. E isso a tem feito andar na linha.

Eu não entendo agora essa atitude dela, se ela sabe que irei agir com reprimenda. Sinto alguém segurar a manga da minha camisa. É Raissa.

— Hassan…

— Você sabia disso? — pergunto para ela, enfurecido.

— Não, estou surpresa como você.

Passo os olhos pela casa.

— Ayna ya kalba? — “Onde está aquela cachorra?”.

Raissa nitidamente estremece.

— Não sei, ela deve estar se arrumando. Acho que ela pensou que você viesse mais tarde para casa.

— Não, eu acho que fez de propósito. Ela é perita em estragar meu dia.

— Hassan, por que tudo isso? Papai morreu, é natural que ela saia com alguém.

Eu encaro Raissa com sangue nos olhos.

— Ela pode sair com quem quiser, mas permitir que o cara entre aqui, isso não! Ela que se sustente, que se mude, que vá morar em outro lugar.

— Agora já aconteceu, não arruma caso. Depois você fala com ela.

— Raissa, vá para o seu quarto.

Raissa me olha apreensiva.

— Por que, Hassan?

— Não discute e vá agora. Eu preciso ter uma conversa séria com Helena.

— Hassan… o que você vai fazer?

Passo a mão com carinho nos cabelos negros da minha irmã.

— Não se preocupe, eu sei o que estou fazendo.

— Você não vai bater em ninguém, vai?

Eu fungo.

— Não. É claro que não.

Minha irmã assente para mim e sobe as escadas, e eu fico como um cão de guarda no final da escada esperando Helena.

Ela surge no alto da escada. Quando me vê, torce o nariz. Com a respiração entrecortada, espero ela descer os degraus.

— Por que esse homem está aqui? — pergunto, entredentes, quando ela alcança o último degrau.

Ela ofega e estremece. Está nervosa com a ira que vê nos meus olhos.

É bom mesmo que esteja.

— Ele começou a desconfiar que eu tivesse alguém. Eu permiti que ele entrasse para ele ver que sou uma mulher sozinha.

Solto um palavrão cheio de raiva.

— Você sabe que está debaixo deste teto por causa de Raissa. Se não fosse por ela, você estaria sobrevivendo com o valor que eu tenho te dado por mês.

— Eu sei — ela diz entredentes.

Comentários

Os comentários dos leitores sobre o romance: O Egípcio