O Egípcio romance Capítulo 61

O casamento…

As semanas passaram rápido, o dia do meu casamento chegou, e, como Hassan explicou, levaria três dias…

Hoje é reservado para a cerimônia oficial, quando acontece a troca de alianças e o contrato de casamento entre os noivos.

Ouvimos o contrato em separado. Eu me sentei ao lado de minha mãe, meu pai e algumas testemunhas, como meus tios e tias, e alguns parentes de Hassan que vieram do Egito para a cerimônia.

O juiz de paz fez a leitura do contrato, explicando que eu só teria direito à metade dos bens de Hassan caso eu gerasse um filho ou uma filha. Só então eu gozaria da comunhão total de bens, caso contrário não herdaria nada.

— Você aceita essas condições no casamento?

— Sim, aceito — as testemunhas de origem árabe, quando me ouvem dizer que aceito, gritam fazendo festa. Meus pais observam tudo emocionados, minha mãe chora. Alegria? Desgosto?

Gritinhos das mulheres de “lalalalala” e “lililililili” enchem a sala. Uma senhora de idade se senta ao meu lado e Raissa se senta do outro. A mulher começa a recitar um poema árabe de Khalil Gibran.. Raissa o traduz para mim:

Quando o amor vos chamar, segui-o,

Embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados;

E quando ele vos envolver com suas asas, cedei-lhe,

Embora a espada oculta na sua plumagem possa ferir-vos;

E quando o amor vos falar, acreditai nele,

Embora sua voz possa despedaçar vossos sonhos

Como o vento devasta o jardim.

Pois, da mesma forma que o amor vos coroa,

Assim ele vos crucifica.

E da mesma forma que contribui para vosso crescimento,

Trabalha para vossa poda.

E da mesma forma que alcança vossa altura

E acaricia vossos ramos mais tenros que se embalam ao sol,

Assim também desce até vossas raízes e as sacode no seu apego à terra.

Como feixes de trigo, ele vos aperta junto ao seu coração.

Todas essas coisas, o amor operará em vós

Para que conheçais os segredos de vossos corações

E, com esse conhecimento,

Vos convertais no pão místico do banquete divino.

Todavia, se no vosso temor,

Procurardes somente a paz do amor e o gozo do amor, então seria melhor para vós que cobrísseis vossa nudez e abandonásseis a eira do amor, para entrar num mundo sem estações,

Onde rireis, mas não todos os vossos risos, e chorareis, mas não todas as vossas lágrimas.

O amor nada dá senão de si próprio e nada recebe senão de si próprio.

O amor não possui, nem se deixa possuir.

Porque o amor basta-se a si mesmo.

Fecho meus olhos e fico atenta às palavras de Raissa. Me emociono quando entendo o que significam. Em suma: o amor te presenteia com coisas doces, mas precisamos nos preparar para o lado amargo dele também.

Quando o poema termina, com a ajuda delas, eu me levanto do sofá.

Embora a celebração de todo o ritual do casamento será só amanhã, eu visto um pesado vestido creme, cheio de madrepérolas. Meus cabelos castanho-claros estão escondidos dentro de um tecido de seda branco.

Meus olhos esverdeados ganham vida com lápis, delineador e rímel. Meus lábios foram valorizados com um batom sem brilho da cor deles, para que o destaque ficasse em meus olhos.

Antes de caminhar, passo a mão pelo suor fino da minha testa. Eu não comi nada. Não consegui, de tão nervosa que estava.

Segurando a mão da tia de Hassan e Raissa, caminho para a sala onde está meu noivo…

Hassan

Depois do meu sim, um poema árabe é lido. Respiro fundo, assimilando cada palavra e o quanto há de verdade em tudo isso.

Quando o poema termina, me levanto do sofá, com manifestação de alegria das mulheres fazendo o zaghareet, inclusive minha madrasta, que está radiante por estar perto de colocar suas mãos na herança.

Eu estou tão feliz por estar me unindo à Karina, que nem tenho pensado muito nisso ultimamente.

Creio que um dia ela pague nesta terra, que a justiça a cerque, de modo que ela não tenha saída, não sei como, mesmo que não seja por mim.

Afasto meus pensamentos e caminho em direção à sala onde verei a minha linda noiva.

Karina

Caminho como se eu estivesse levitando, de tão feliz que estou.

Minhas pernas quase falham quando entro na sala e vejo Hassan, que já está à minha espera, vestido com roupas típicas de sua terra, o dishdasha branco.

Lindo!

Ele sorri quando me vê, um sorriso pleno de felicidade. Quando me encontro com ele no meio da sala, alguém nos estende uma almofada vermelha contendo as grossas alianças, de ouro. Segundo Hassan, estão cravadas as palavras em árabe “amor eterno”.

Alianças nos dedos, ficamos um ao lado do outro na sala junto aos convidados tomando chá e comendo alguns salgados e doces que nos foram oferecidos.

Conheci então a numerosa família de Hassan. Mas, como eu não falo uma palavra em árabe, apenas aceno com a cabeça enquanto ele me apresenta com um lindo sorriso a todos.

Aquelas primas de Raissa estão na festa e vieram me cumprimentar, mas é nítido o olhar de desapontamento delas, é nítido que cumpriram apenas uma obrigação.

Agora entendo por que elas eram loucas por Hassan. Elas não têm nada a ver com ele, são filhas do irmão de Helena, portanto não têm parentesco consanguíneo e por isso alimentavam a esperança de ser a futura Senhora Hajid.

No final do dia, fico hospedada na casa de Hassan. Durmo no quarto de hóspedes. Hassan, no seu hotel.

No dia seguinte, acordo tarde e passo o dia com Raissa e Helena. Ambas estão radiantes, muito felizes. Helena, nem se fale, nem preciso dizer por quê.

A manhã toda passo por um processo de embelezamento. De um salão que Helena conhece, veio uma garota que fez minhas unhas, limpeza de pele, depilação. Meus cabelos também foram bem lavados e tratados com hidratantes para recuperar a maciez.

Depois disso, as tias de Hassan por parte da mãe dele e que estão hospedadas aqui fazem as famosas tatuagens de hena nos pés e nas mãos, simbolizando o amor e a alegria. Hassan tinha explicado que, segundo as tradições árabes, elas trarão fortuna e felicidade aos noivos.

Ele tinha me dito que seu tio, irmão de seu pai, é um homem doente, e suas tias por parte de pai não vieram por causa disso, mas que eu irei conhecer todos pessoalmente quando formos ao Egito. Lá conhecerei também seus primos e esposas, pois ficaremos hospedados na casa deles.

À noite, mal consegui dormir, pela expectativa do dia seguinte.

No terceiro e último dia, estou pronta. Vestida com um pesado vestido branco, cheio de pedras incrustadas, bem comprido. Meu cabelo foi ajeitado em um coque alto. Presas a ele, foram colocadas flores brancas.

Eu já ouço a música na casa e as pessoas conversando, rindo, cheias de alegria. Raissa entra no quarto e me dá um sorriso quando me vê. Helena está comigo, ajeitando a cauda do meu vestido.

— Hassan está tão nervoso. Nunca vi ele assim.

Eu sorrio.

— Se ele está nervoso com todo esse ritual, imagina eu…

— Allah! Jamil! — “Linda!”, ela diz, olhando para mim. — Nem parece uma mulher ocidental. Fizeram um trabalho muito bom nos seus olhos.

Sim, meus olhos foram bem pintados do jeito árabe.

— Vamos, Karina? Está na hora — Helena diz quando ouve os tambores.

Eu estou em um quarto no andar de baixo. Fiquei nele por causa do vestido. Nervosamente, sigo Raissa, que abre a porta para eu passar. Helena vai ajeitando a minha cauda conforme faço a caminhada até a sala. Meu coração está agitado, minha boca, seca. Tudo é muito emocionante. Pareço estar dentro de um sonho.

Sons de tambores continuam anunciando minha entrada. Quando entro, o som tribal das mulheres corre pela sala. Logo sou conduzida para um trono. Helena me dá a cauda do meu vestido para eu segurar. Tremendo, subo nele e me sento. Então quatro homens o suspendem. Com muita dança ao meu redor, palmas e alegria, sou conduzida até onde meu noivo me espera sentado em um trono fixo.

Eu o procuro com os olhos. Meu coração se agita mais ao vê-lo. Tão lindo, vestido com um tobe, que é uma roupa típica de sua terra, branca com dourado. Seus cabelos negros brilham pelo gel.

Ah, mas eu me fixo em seus olhos, eles me fitam tão febris, tão apaixonados, que quase não consigo me desprender deles.

Aos poucos vou reparando na decoração conforme eles me conduzem: palmeiras, véus coloridos, odaliscas no centro dançando animadamente. Dois lindos aparadores decorados, um de doces e outro de salgados.

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