O Egípcio romance Capítulo 77

Ele então se vira e sai da sala.

Quando saio da sala, Ana vem em minha direção.

— Deus! Pensei que teríamos outra porta quebrada. Seu marido saiu daqui pisando duro.

— Ele ficou chateado por eu não ter contado para ele o que aconteceu ontem.

— Do jeito que ele parece gostar de ter o controle da situação, saber de tudo por outra pessoa deve ter acabado com ele.

— Verdade. Mas quando é que eu imaginaria que ele fosse descobrir do pior jeito possível?

— Homens! Eles são sempre encantadores em um primeiro momento, mas uma vez casados eles batem em suas esposas, engordam e ficam preguiçosos e feios.

Eu acabei rindo do comentário.

— Deus! Estou vendo que você não se casará tão cedo, pensando assim…

Ela balança a cabeça de um jeito engraçado.

— Não mesmo! Já vi um monte de príncipe virar um sapo.

— Você é muito nova, por isso pensa assim — Ana tem apenas 20 anos, a idade de Raissa.

— Ah, e você é muito velha — ela diz, rindo.

— Quando se tem 20, cinco anos a mais fazem muita diferença. Eu não era tão madura com 20 anos. Vai por mim — digo sorrindo.

— Bem, pelo menos consegui elevar seu humor.

— Verdade — sorrio. — Mas não vou esquentar a cabeça com a atitude de Hassan. Ele é muito coração, muito correto, transparente. Ele age de acordo com o que sente. Agora ele está irritado, nervoso, mas tenho certeza de que à noite ele estará mais calmo — digo, otimista, e luto para manter meu sorriso no rosto.

— Está certo. Bem, vou lá. Preciso tirar uma boa comissão este mês, estou apertada.

— Há alguma novidade nisso?

Ela me mostra a língua e se afasta.

Fiquei pensando em Hassan o dia inteiro, incapaz de me concentrar em nada além do que aconteceu. Não rendi nada.

Quando chego em casa, tomo um banho demorado e coloco um agasalho rosa confortável e um tênis branco. O telefone toca quando estou na sala. É Raissa.

— Oi — digo a ela, tentando passar animação na voz.

— Karina, como estão as coisas? Tentei ligar para o seu celular e só dava na caixa postal.

— Tudo bem. E quanto ao celular, acabou a bateria, acabei de colocar para carregar.

— Tudo bem mesmo? Hassan chegou tão estranho no hotel.

Meu coração se agita.

— Estranho como?

— Como se uma nuvem negra o perseguisse.

Suspiro. Resolvo contar para ela o que aconteceu.

— Entendo. Então está explicado sua carranca. Allah! Isso deve ter acabado com ele. A expectativa dele é muito alta nas pessoas, sempre foi assim. Quando eu era pequena, quebrava algumas coisas e não assumia. Ele me pegava no colo e conversava horas comigo dizendo como devemos ser verdadeiros.

Mordo os lábios, me sentindo nervosa.

— E agora à tarde? Ele melhorou seu mau humor? — pergunto, me preparando para o que vou enfrentar.

— Sim, ele está mais civilizado agora.

— Que bom! — solto o ar. — Raissa, o aniversário de Hassan está se aproximando.

— Sim, verdade. Daqui a dois meses meu irmãozinho completa 41 anos.

— O que você acha de fazermos uma festinha surpresa aqui em casa?

— Allah! Nãoooooooooooooooo!

— Não? Mas preciso de sua ajuda, não conheço direito os amigos dele, as pessoas que ele gosta. Gostaria que fosse algo íntimo, com seus amigos mais chegados.

Ela ri do outro lado.

— Não comemoramos aniversários.

— Por quê?

— Isso é considerado mundano. O egípcio não vê isso com bons olhos. E Hassan tem mais amigos árabes do que ingleses.

Hum. Que coisa! Uma festa de aniversário é considerada mundana…

— Vocês sempre deram tantas festas!

— Mamãe, Karina. MAMÃE! Ela dava quando Hassan estava viajando e ela convidava as amigas da alta sociedade dos clubes que ela frequentava. Adorava exibir nossa casa com suas festas árabes, mas de árabe ela não tinha nada. E quanto às festas permitidas, a de boas-vindas é uma.

— Entendi. E eu? Dou parabéns para ele?

— É claro! Você age com ele de acordo com sua tradição. Se não o fizer, ele ficará chateado.

— E presente? Compro?

— Sim. Eu mesma darei parabéns e comprarei um presente, mesmo que na cultura dele esse dia passe em branco, mas eu nasci neste país e acabei assimilando a cultura. Então, você deve comprar um, pois ele sabe que você assim o faz.

— Entendi.

— A notícia de uma gravidez seria o presente perfeito — ela diz, sonhadora. — Outro dia ele comentou comigo que adoraria ser pai. Acha que está até passando da idade.

— É, mas eu não estarei grávida.

— Por quê?

— Eu estou tomando anticoncepcional.

Raissa fica muda do outro lado.

— Allah! Mas…

— Ele não sabe.

Silêncio.

— Karina, acho melhor você ter uma conversa com ele. Você não pode esconder uma coisa dessas! Allah!

Eu fungo.

— Seu irmão é tão complicado, que muitas vezes vou pelo caminho mais fácil. Eu quero que estejamos bem, que ele confie em mim, depois sim, quero pensar em filhos.

— Karina, olha o que você está me falando. Como ele vai confiar em você se você começar a omitir as coisas? Hum, isso não é bom. Fale com ele sobre isso.

Aperto os lábios, pensativa. Deus! Ela tem razão. Vai que ele descobre o meu remédio. Meu coração se aperta por ocultar isso dele.

— Quando eu tiver uma oportunidade, eu falo com ele.

— Isso. Lembre-se de que você está lidando com um homem egípcio. Opte pela VERDADE. SEMPRE! — ela dá ênfase na voz.

Suspiro.

— Você está certa. Eu estou errando, estou indo pelo caminho mais fácil. E eu que sempre julguei Hassan por isso, por não te contar sobre a relação dele com sua mãe.

Ela funga.

— É, hoje eu sei o que ela fez. Meu irmão me contou. Minha mãe era uma zaniatan!

— Zaniatan?

— Adúltera.

Eu desconverso e volto ao assunto confiança.

— Bem, vou seguir seu conselho. Não contei de Vitor pensando que ele iria tentar me proibir de trabalhar. Pensando que ele seria radical, preto no branco, e ele foi por um caminho que eu não esperava.

— Verdade. Bem, vou desligar. Estou aqui para trabalhar. Beijos. Salaam Aleikum.

— Alaikum As-Salaam!

Mais ou menos no horário de Hassan chegar, eu começo a me sentir nervosa. De repente, acho que estou relaxada demais com esta roupa. Vou até o quarto e me troco. Coloco um vestido de veludo azul-marinho, penteio os cabelos até eles ficarem brilhantes e faço uma maquiagem bem leve. Apenas lápis e batom.

Quando entro na sala, Hassan está parado em frente ao aparador vendo as correspondências, checa uma por uma, algumas ele abre e olha.

Ele sempre nota a minha presença, como se tivesse um sexto sentido, agora parece me ignorar.

— Oi — digo.

Ele ergue os olhos e diz:

— Oi — volta seus olhos para a correspondência.

— Posso pedir para colocar a mesa de jantar, ou você tomará um banho antes?

Silêncio…

Depois de um tempo, me olha novamente.

— Vou dar uma olhada nessas correspondências na biblioteca — diz, acenando os envelopes no ar.

— Vai demorar? Posso pedir para servir o jantar?

— Eu não vou jantar — ele diz, seco, então se vira e caminha em direção à biblioteca.

Odeio ver Hassan assim.

Odeio sua frieza.

Odeio ter que administrar isso.

Desde que estamos juntos, essa é a primeira vez que ele me trata assim, com essa indiferença.

Entro na cozinha. Zaina sorri para mim.

— Posso servir o jantar?

— Hassan não irá comer. Eu comerei aqui.

Eu puxo a cadeira incomodada com seu olhar.

— Vocês brigaram?

— Zaina! — a repreendo.

— Perdoe-me, senhora — ela diz com uma reverência.

— O que tem de jantar?

— Alcachofra regada com molho à bolonhesa e arroz branco.

Hum, meu estômago até roncou.

— Ótimo, pode servir.

Comi tudo devagar, saboreando a comida. Mas o sentimento de tristeza é inevitável. Quando finalizo o jantar, elogio:

— Amei. Muito bom mesmo.

Zaina sorri para mim. Eu saio da cozinha e caminho em direção à sala de televisão. Estou sem sono, não vou me deitar agora. Geralmente depois do jantar Hassan e eu conversamos, assistimos a algum filme juntos, ou ouvimos música.

Mas, com ele assim, vou tentar passar as horas como posso. Não me arrependo em nada de estar tomando os comprimidos. Acho que um filho tem que nascer em um lar estável, só me arrependo de não termos conversado sobre isso. Realmente eu deveria ter lhe contado. Mas estou vendo que hoje não é um bom momento.

Entro na sala de televisão, me sento no sofá reclinável e encaro a grande tela. A tevê é tão grande, que é como um cinema em casa. Olho o meu lado e passo a mão no tecido macio do sofá me lembrando da última vez que Hassan e eu assistimos juntos a um filme de aventura, que mais parecia terror:

“Um lugar solitário para morrer”.

Afasto os pensamentos que me entristecem e procuro um filme de ação.

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