O estrangeiro Capítulo 61

Durante o percurso de volta para casa eu pensava na nossa discussão de mais cedo. Hunter costumava fazer piadas sobre meu trabalho, comecei a pensar que apenas seu emprego era importante.
Bufei.
Ele sabia bem como me deixar irritada, mas eu não podia deixar que isso abalasse nosso relacionamento.
Cheguei em casa mais tarde pois vim andando, não tinha nada além do barulho da geladeira. Bob correu até mim e pulou encima de mim, desço a sua altura.
— Olá, meninão. — Coço atrás da sua orelha. — Adivinhe o que eu trouxe para você...
Procuro o osso que comprei no petshop dentro da minha bolsa, os olhos de Bob brilharam, ele praticamente arrancou da minha mão.
— Bom garoto!
Levanto do chão e vejo Hunter plantado na porta do quarto. Solto um longo suspiro. Eu realmente não queria voltar aquele assunto.
— Estou cansada, hoje uma criança vomitou encima de mim. — Resmungo enquanto tiro meu casaco.
— Quer que eu prepare um banho?
— Não, estou bem. Amanhã tenho o dia de folga, acho que vou levar Bob ao veterinário. — Vou para o quarto.
O clima entre nós não estava agradável, Hunter me olhava de forma estranha e parecia pensativo durante o jantar. Não trocamos nenhuma palavra sequer, ele mal olhava nos meus olhos.
Termino minha refeição e levo meu prato para a pia, ele permanece sentado na cadeira com as mãos cruzadas em frente aos lábios.
— Não queria que nossa briga se estendesse tanto. — Quebro o silêncio.
— Não se preocupe.
— Por que está assim? — Viro para encará-lo — desde que eu cheguei você mal me tocou.
Percebo os olhos dele revirarem.
— Não acho que preciso estar sempre de bom humor, bem-vinda a vida de casados. — Rebateu ele.
Volto minha atenção para a louça na pia, mas por dentro eu estava em fúria.
Geralmente eu ignorava essas coisas, porém hoje o clima estava pesado assim como lá fora.
— Tudo isso por causa do meu emprego, patético! — Resmungo.
— Não tem a ver com o que você faz e sim com o que deixa de fazer.
Franzo o cenho automaticamente.
— Não está suficiente o que faço por nós? — Sinto meus olhos encharcarem.
Hunter levanta na cadeira e se aproxima de mim.
— Não está suficiente o que faz por você, esse é ponto. — Ele passa a mão na barba rala. — Não fico chateado por estar trabalhando e sim por não estar fazendo outras coisas, Charlie você é jovem demais para estar aqui.
Meu coração dispara. Sinto um calor em meu estômago que aumentava a cada palavra que ele dizia.
— Deveria pensar mais em si mesma, o que você realmente deseja fazer?
— Já estou, aqui com você. Pare de dizer bobagens!
— Você nunca vai deixar de mentir para si mesma. — Suas narinas puxam o ar de forma abrupta. — Sei que não está tão confortável para você do jeito que diz, e eu me sinto mal por parecer que estou te prendendo a mim.
Uma lágrima dispensa de meus olhos. Balanço a cabeça repetidamente.
A forma penetrante que Hunter me olhava fazia meu peito querer explodir.
— Quero que viva. — Ele vira de costas para mim. — Por isso tomei uma decisão.
Me aproximo dele, mas o mesmo se afasta como se não quisesse meu toque.
— Voltarei para a Alemanha.
Tomei o ar pela minha boca, pois ela se abriu. Meus olhos já estavam pesados por tentar segurar minhas lágrimas, então elas desceram quentes fazendo minha bochecha arder. Eu tentava me concentrar em algum ponto, mas minha visão embaçada não permitia.
— O quanto antes — finalizou.
— Não pode fazer isso comigo...
— Estou fazendo isso por você.
— Só pode estar brincando.
Não estou, nunca tive tanta certeza
finalmente volta a me encarar, ele também parecia estar prestes
— Preciso que viva, Charlie...
— Grito. — Você não tem esse direito, não pode decidir
Suas decisões nos trouxeram onde estamos agora, e digo que você não parece tão completa como diz. — Ele solta um sorriso nasal. — Não será para sempre, mas quero que
Balanço a cabeça.
— Eu já tenho.
tem mais volta, comprei a
ele tenta se aproximar de mim, o mesmo me puxa para seus braços enquanto eu me debato. Uso a força de meus punhos para socar seu peito, parecia nem fazer cócegas. Vencida pelo cansaço minhas mãos caem, ele continua a me abraçar com força. Afundo minha cabeça em seu pescoço. Aquela podia ser a última vez que cheirava seu perfume ou que sentia seu toque, isso fazia meu coração doer cada vez mais. No primeiro momento que ele afrouxou eu simplesmente me soltei de seu abraço e corri para o quarto, tranquei a porta e me sentei no chão aos
por favor... — disse ele do outro lado da
— Me deixa sozinha!
sombra cair, ele sentou no chão apoiando suas costas na porta, da mesma maneira que
meus braços em meus joelhos e encostei minha testa, a única coisa que se ouvia agora eram meus