A voz de Hugh cortou o silêncio, e um choque atravessou o peito de Jessica. Por um instante, tudo ao redor pareceu desaparecer, substituído pelas lembranças o olhar frio dele, a traição no dia do casamento. Um arrepio percorreu sua espinha, uma sensação que ela não esperava reviver.
Hugh pousou a pasta sobre a mesa, com os olhos caindo sobre a mulher sentada à sua frente. Seu rosto congelou, os olhos se estreitando ao reconhecê-la como se tivesse levado um soco.
“Você... Jessica?” A incredulidade era clara em sua voz. Ela estava ali? Depois de todos esses anos?
Antes que ela pudesse dizer uma palavra, Charles, recostado na cadeira com a autoridade de quem domina cada centímetro da sala, lançou um olhar de um para o outro. Sua voz saiu fria e contida: “O que é isso? Vocês se conhecem?”
“Não”, respondeu Jessica rapidamente, rápido demais. As palavras escaparam sem que ela pensasse.
Hugh permaneceu em silêncio por um segundo, depois curvou os lábios num sorriso amargo. “Não. A Jessica que eu conheci... essa já morreu.”
As palavras cortaram fundo, mas ela manteve o olhar firme, os olhos brilhando com fúria silenciosa. A tensão entre eles era espessa, sufocante, como um peso invisível pressionando seu peito.
Ela lutou para manter a compostura, o ódio borbulhando por dentro. Aquele não era o momento de perder o controle, não diante de seu novo chefe.
Ela respirou fundo e virou levemente o rosto, como se Hugh não passasse de um estranho qualquer.
“Tio Charles”, a voz dele era afiada, como uma lâmina desembainhada. “Quem é ela?”
Charles observou a cena com o distanciamento de quem já havia lidado com inúmeras tensões assim. Não se abalou. Sua resposta veio calma, quase indiferente: “Ela é a nova designer da empresa.”
Uma designer? Depois de tudo, Jessica tinha se tornado isso? Hugh não esperava. Achou que ela tivesse sido engolida pelo fracasso e pelo esquecimento.
Mas ali estava ela elegante, confiante, mais refinada do que ele lembrava. Havia algo nela agora que tornava impossível desviar o olhar.
A frustração passou brevemente pelo rosto de Hugh, os punhos se fechando ao lado do corpo. Ele se esforçava para conter o tumulto interno.
Charles olhou a pasta que ele havia trazido, sua expressão indecifrável. “Está dispensado”, disse, com frieza e precisão.
Hugh hesitou por um momento, o olhar escurecendo ao se fixar mais uma vez em Jessica. A tormenta dentro dele estava evidente agora, mas ele nada disse. Apenas fez um aceno curto para Charles e saiu, com os passos ecoando com força no silêncio que restou.
Quando o som dos passos finalmente se perdeu, Jessica soltou o ar preso nos pulmões, nem havia percebido que o segurava.
Ela não esperava encontrar o tio de Hugh sentado na cadeira da presidência.
Mas... Charles mal parecia ter trinta anos.
“Se continuar com essas acusações, eu te processo por difamação!” A voz dela era firme, cortante.
O rosto dele ficou vermelho, e ele levou a mão à bochecha, os olhos semicerrados de raiva. “É sempre assim com você, né? Paga de inocente. Que patético.”
“Pode duvidar de mim o quanto quiser, mas não vai me desrespeitar.” A voz dela era puro gelo. “Você acreditou nas mentiras da Rhea sem pestanejar, mas não foi capaz de confiar em mim.”
Ele ainda insistia naquelas fotos. “Você nunca parou pra pensar se aquelas imagens eram reais? Já se perguntou por que apareceram justo no dia do nosso casamento? Nunca achou tudo aquilo coincidência demais?”
Os olhos de Hugh endureceram. Ele fingia ter certeza, mas não queria admitir a dúvida que o corroía. “Então diz. Você jura que nunca me traiu?”
“Eu não me importo se você acredita ou não”, ela respondeu, com a voz exausta. “Entre nós dois não existe mais nada.”
E sem esperar resposta, ela passou por ele, deixando para trás a raiva, a dor e tudo o que ele representava.
Muito tempo depois, ela viria a descobrir o motivo de Charles parecer tão jovem para ser tio de Hugh: seu pai o teve tarde, quase aos cinquenta anos.
Se soubesse disso desde o início... jamais teria pisado na Vertex.

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