LAIKA
Ergui minha marca como se fosse uma coroa: um quarto de lua ladeado por duas estrelas — o sinal mais belo que já avistara, pois fora gravado por Karim. Exalava-lhe o perfume, e todos sabiam a quem eu pertencia.
Karim enviara três guerreiros para escoltar-me até o Bando da Lua Vermelha. A mera ideia de ser seguida ou vigiada incomodava-me, provocando a velha sensação de perigo iminente. Temia Alfa Khalid, mas esse temor se dissolvia sempre que pensava em Karim. Ele era meu baluarte; enquanto estivesse a meu favor, não havia razão para recear Alfa Khalid.
Karim era dez vezes melhor do que Alfa Khalid jamais seria, e eu mal podia esperar para jogar-lhe essa verdade. Sorri durante todo o trajeto, enquanto as lembranças do nosso amor faiscavam diante dos meus olhos. Os guerreiros mantiveram-se em silêncio — o que não me afetou, pois eu estava mergulhada em memórias.
Após algumas horas, alcançamos o bando, e os guardas abriram os portões sem hesitar. Eu não sabia se aquilo se devia ao perfume de Karim impregnado em mim ou ao uniforme militar com o brasão do Bando Titã. As pessoas nem sequer se lembravam de que eu era uma Ômega; prosseguiam com as tarefas como se minha presença fosse invisível. Afinal, o primeiro traço que percebiam era o cheiro de Karim, muito antes de farejarem a minha condição.
Eu viera ansiosa para ver Sekani, pois precisava que ele interpretasse meus sonhos e a súbita erupção de energia que experimentara. Quem sou eu? Talvez a vidente estivesse certa, e talvez Sekani também tivesse razão ao afirmar que eu carregava poderes insuspeitos. Ele era um devorador de livros e certamente saberia o que fazer ao descobrir minha manifestação.
— Laika?
Concentrei-me e encontrei Sekani parado à beira da trilha. Desci do cavalo num salto e o abracei.
— Você cheira a ele. — Ele comentou assim que me afastei.
Será que se irritaria com o fato de eu finalmente reconhecer meu companheiro? Caso ficasse bravo, eu não me arrependeria de pôr fim a tudo. Ele devia alegrar-se com a minha felicidade.
— Sim. Ele é meu companheiro e me marcou. — Olhei bem para o rosto dele, procurando alguma reação. — O quê? Você não está feliz com isso?
Ele me encarou em silêncio por alguns instantes, então abriu um sorriso.
— Você conseguiu, porra! — Exclamou, abraçando-me.
Ouvi o resmungo dos guerreiros de Karim. — Sentiam-se obrigados a proteger-me de tudo. — E afastei-me de Sekani.
— Então, o que a traz aqui? — Perguntou ele, enquanto nos afastávamos.
— Quero saber se meu posto ainda está vago.
Sekani olhou de relance para os guerreiros que nos seguiam.
— Eles vão segui-la aonde quer que vá?
— Estão obedecendo às ordens do chefe deles.
— Então Karim deixou você trabalhar?
Balancei a cabeça e baixei a voz.
— Não devia contar a ninguém, mas precisei vencê-lo em combate antes que ele me permitisse. — Ele me olhou como se eu fosse louca. — Esse é um dos motivos pelos quais estou aqui.
— Você acha que ele está morrendo?
— Não! — Explodi. — Karim não está morrendo e não morrerá tão cedo. Olha, aquilo que você disse sobre poder e força…
— Poder e força? — Sekani franziu o cenho.
— Você disse que eu poderia ser mais poderosa do que imaginava.
— Disse, sim.

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