LAIKA
A notícia me deixou atordoada — o chão pareceu sumir sob meus pés. Encarei Vovó Luzy com os olhos marejados; eu mal conhecia aquela mulher, mas intuía que era uma alma bondosa. No breve período que partilhamos, lhe percebi que ela não fazia distinção entre as pessoas e imaginei o quão agradável devia ser conviver com ela.
Sekani cobriu o rosto com um cobertor para ocultar as próprias lágrimas, e as minhas, então, correram livres.
— Ela era a mulher mais velha do Bando. Merece descansar. — Disse ele, afastando-se do leito.
— Mas por que ela morreu de repente? Logo agora que viemos falar com ela?
Sekani soltou um suspiro profundo.
— Há, ao que tudo indica, uma força agindo aqui. Ela não deu qualquer sinal de que partiria.
— Sinto muito, Sekani. — Segurei a mão dele. — Você está bem?
— Eu a amava, porém estou firme. Preciso avisar Alfa. Ela receberá um funeral digno.
— Ajudarei no que puder.
— Agradeço de coração. Agora você precisa desvendar a verdade sobre si mesma. Permaneça ao lado de Alfa Karim. Creio que ele seja o seu destino. Não deixe isso escapar.
Assenti. Ele deixou a tenda, e eu fui logo atrás. Os homens de Karim permaneciam do lado de fora à minha espera.
— Parece que temos um funeral a comparecer.
Alguns homens do bando conduziram Vovó Luzy para o local onde seu corpo seria preservado até o sepultamento.
O sol já se punha quando tudo, enfim, se resolveu, e eu auxiliei Sekani em cada tarefa daquele dia. Quando ele procurou alguém para avisar Madam Lena sobre a morte da avó, ofereci-me.
Escapei do bando montada em meu cavalo, aproveitando-me de que os homens de Karim estavam ocupados com os preparativos do funeral. Eu detestava ser seguida, vigiada; aquilo me fazia sentir prisioneira, como se ainda fosse escrava. No meu bando de origem, Alfa Khalid mantinha vigias sobre mim o tempo todo. Pretendia convencer Karim a permitir que eu saísse sozinha: aquele caminho não oferecia perigo.
Galopei até a floresta, sentindo o vento açoitar-me o rosto — liberdade que não teria se estivesse escoltada. Quando me aproximei do nosso bando, a égua relinchou estridentemente. Ergueu-se sobre as patas traseiras e me lançou ao solo com violência. Um grito rompeu minha garganta, e o animal disparou mata adentro.
Uma sensação inquietante tomou-me; olhei ao redor e entendi a hostilidade da égua: havia algo na mata. Um arrepio percorreu minha pele. O silêncio dominava, interrompido apenas pelos grilos e pelo grasnar dos corvos.
Examinei as árvores e saquei do cinto a pequena faca que Karim me dera para defesa. Algo se movia em torno de mim. Apertei o vestido com uma mão e o cabo da lâmina com a outra, pronta para recuar.
— Laika.
Girei depressa, mas não vi ninguém, embora sentisse a presença. Segurei a faca com ainda mais força.
— Mostre-se, covarde! — Gritei, percorrendo a clareira com o olhar. Contudo, antes que ele se revelasse ou proferisse outra palavra, reconheci seu cheiro.
— Logo você chamando alguém de covarde.
Voltei-me para a voz e encarei meu pior pesadelo: Alfa Khalid estava ali, a mão pousada sobre o punho da espada. Torci para que fosse um sonho; um sorriso cínico lhe deformava o rosto.


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