ALFA KARIM
Observei Laika estendida, imóvel, o rosto tomado por um pálido quase cadavérico. Jamais senti tanto medo. Desde que ela conjurara aquele fogo no sonho, não mais despertara. O curandeiro do nosso Bando, intrigado, tentava encontrar explicação. A princípio, eu me recusara a falar sobre os poderes dela, porém, quando Laika deixou de reagir a qualquer estímulo, fui obrigado a revelar que o incêndio em minha tenda partira de suas próprias mãos. Contei-lhe tudo.
— Magia de fogo é rara. — Declarou o curandeiro, tornando a fitá-la. — Existem quatro elementos no mundo: vento, água, terra e fogo. A magia do fogo é a última fronteira, a mais difícil de dominar. Muitos sequer ousam tocá-la.
— O que isso significa? — Indaguei, alerta.
— Ela rompeu esse limite. Nem todos sobrevivem.
— Há cura?
— Observarei atentamente. A única cura é a alma desejar regressar. Algumas, especialmente as atormentadas, não veem razão para voltar e cruzam o portal definitivo assim que acessam o fogo.
— Ela tem motivos de sobra para regressar. — Garanti, encarando Laika. Imóvel, só o frágil pulso sob meus dedos me lembrava de que ainda vivia.
Enlacei suas mãos frias nas minhas. O gelo da pele dela fazia-me arder os olhos.
— É estranho ter começado pelo fogo. Manifestou outro poder?
— Sim. Com um simples empurrão, lançou-me longe.
O curandeiro desviou o olhar, como se temesse punição.
— Isso foi magia do ar. A maioria controla apenas um ou, com muita sorte, dois elementos. Rezemos para que ela resista.
— Ficará sempre assim quando usar?
— Não, se dominar a própria energia. Quanto mais gastar, mais fraca ficará. Você a conteve a tempo; o fogo teria consumido o resto dela.
Senti a fúria ferver contra Khalid. No dia em que eu o encontrar, partir-lhe-ei o corpo ao meio.
— Alfa Karim, deveria descansar. — Sugeriu o curandeiro. — Eu velarei por ela esta noite.
— Descanse você. Eu permanecerei.
Meu Beta anunciou-se do lado de fora.
— Entre.
Ele surgiu, discreto, trazendo um pedaço de papel, que depositou nas minhas mãos.

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