ALFA KARIM
Eu jamais imaginara que houvesse tantos orcs nestas montanhas. Graças aos Deuses que abandonei o Bando. Se ainda estivéssemos lá, eles já teriam se infiltrado e raptado as mulheres. A cadeia montanhosa era generosa, cheia de recursos que poderiam sustentar-nos até levantarmos uma cidade fortificada e abrirmos comércio com o mundo. Contudo, depois de ver aquelas criaturas, percebi que o sonho dificilmente prosperaria ali. Eu já matara três orcs e não me dispunha a arriscar meu povo outra vez.
Irritei-me quando Sekani encontrou um meio de chegar até nós. Não entendo por que abandonou seu Bando para vir até aqui — e minha contrariedade só cresceu ao notar que Laika se preocupava mais com a segurança dele do que com a mensagem que trazia.
— Como ela pode ser tão gentil? — Murmurei, lembrando-me de tudo que os Titãs lhe haviam feito. Ela tinha razões de sobra para odiá-los, mas ainda assim pedira que cuidassem de Sekani e se oferecera para tratá-lo pessoalmente. Detestei aquilo. Estou certo de que os anciãos do Bando Titã o enviaram. Ele disse que alguém “voltou”, e eu sabia que se referia a Khalid. Querem-me de volta, mas nunca retornarei àquele Bando.
Se Laika não estivesse aqui, eu teria amarrado o mensageiro, deixado um dia inteiro sem comer e o mandado de volta de mãos vazias. Só me querem porque Khalid está invadindo-os, e eu cortei todos os laços, disposto a formar meu próprio Bando.
Meus guerreiros já se adaptavam. Poucos encontraram companheiras, mas isso basta; poucas lobas podem gerar muitos filhotes. Quando finalizei a caçada aos orcs, o sol já se punha. Haviam sido seis no total, e eu sabia que não era o fim. Entrei no rio para lavar o sangue verde e dissipar o fedor nauseante.
Pensei em Laika e no que ela comeria. Alguns homens saíram para caçar mais cedo, mas decidi trazer caça eu mesmo. Transformei-me em Poder e disparei pela selva. Abati um animal robusto — comida suficiente para um ou dois dias. Planejava abandonar as montanhas ao amanhecer. Já era tarde demais para partirmos naquela noite.
O Bando estava animado quando voltei. Guerreiros relaxavam: uns assavam o jantar, outros conversavam, os restantes dividiam o tempo com as companheiras; poucos, mais reservados, mantinham-se sós.
— Preparem-se! Continuaremos a jornada amanhã! — Anunciei aos mais próximos; eles tratariam de espalhar a ordem.
Levei a carne até minha tenda — e parei, surpreso por encontrá-la vazia. Lancei um olhar por sobre o ombro. Não queria crer que Laika ainda estivesse com Sekani. Larguei a caça e saltei para fora como um raio. O primeiro rosto que encontrei foi Jago.
— Alfa Karim, está tudo bem? — Perguntou, ao notar meu maxilar retesado e os punhos cerrados.
— Onde está Laika? — Rosnei, olhando por detrás dele, na direção da tenda.
— Laika saiu há pouco. Voltou para sua tenda para comer.
— Comer? Ela não está lá.
Jago franziu o cenho.
— Foi Jalo quem lhe ofereceu parte do jantar. Ela aceitou e entrou na tenda.
— Laika não está na tenda! — Bradei, deixando-o para trás.


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