LAIKA
Gemendo, me movi. Minha cabeça latejava, e todo o meu corpo doía. Abri os olhos, mas a visão embaçada não me deixava enxergar direito. Percebi uma silhueta se mover e tentei sentar, mas uma dor lancinante percorreu cada fibra do meu corpo, fazendo-me gemer e recostar. Não estava sobre pele alguma — o chão duro não deixava outra dúvida. Onde estaria Karim?
Assim que esse pensamento se formou, um cheiro familiar invadiu minhas narinas, aguçando todos os meus sentidos. Pisquei várias vezes, tentando clarear a visão, e de repente as memórias retornaram com força total. Fui sequestrada, e aquele aroma não pertencia a mais ninguém além de Khalid. Em um estalo, meus olhos se ajustaram, e lá estava ele, parado no canto, de costas para mim.
Tentei me erguer, mas mãos e pernas me mantinham amarrada. O pânico me dominou quando as lembranças das torturas anteriores vieram à tona. Não suportaria mais uma vez. Um suor gelado escorreu pelo meu rosto enquanto eu fitava suas costas largas.
— Laika, não tenha medo dele agora. Aconteça o que acontecer, lembre-se de que você tem o Alfa Karim. — Joy me lembrou.
Fechei os olhos, desejando que tudo não passasse de um pesadelo. Mas, ao abri-los, lá estava ele — pior ainda, ele se voltou para mim. Um sorriso sádico iluminava seu rosto, e em sua mão direita brilhava uma seringa. Eu soube na mesma hora o que era: acônito. Apesar do sorriso, seus olhos continham pura perversidade; ele era capaz de qualquer vilania para me destruir.
— Você acordou. — Disse ele, aproximando-se lentamente.
Arrastei-me para trás o máximo que pude, e meu primeiro impulso foi implorar. Mas Joy me silenciou antes que eu pudesse balbuciar qualquer palavra.
— Por favor? Logo você, companheira de Alfa Karim! Você é forte, nunca se esqueça disso. — Joy sussurrou em meu ouvido.
— Joy, não posso lutar contra ele. Ele está mais forte agora. — Respondi, a voz trêmula.
— Consegue sim. Você tem observado nossos companheiros? Eles confiam em você. Você é mais poderosa do que imagina. Mesmo com medo, não deixe que ele perceba.
Tentei me concentrar no conselho de Joy. O ódio por aquele homem crescia em mim, e agarrei-me ao ressentimento, ao desejo de vingança por tudo que ele me fizera. Ele se abaixou diante de mim, e eu o encarei com toda a fúria que conseguia reunir.
Bufando, ele estendeu a mão até meu rosto. Alguns fios de cabelo grudados na minha testa pelo suor foram afastados por seus dedos ásperos.
— Você é minha. Eu te disse isso, não foi? — Murmurou ele.
— Eu não sou sua. — Retruquei, recusando-me a ceder. — Karim e eu pertencemos um ao outro.
Antes que eu pudesse completar a frase, um tapa violento estalou na minha face. Soltei um grito e caí para trás. A fúria dominou-o ao ver que eu ousava pertencer a outro, e pior ainda, por vontade própria.
— Sua vadia. Eu te disse para nunca aceitar a minha rejeição. Como ousa? — Ele roçou o dedo em meu pescoço, arrancando um tremor de medo de mim.
Fitei-o em silêncio, incapaz de prever qual seria seu próximo passo.
O único medo que me restava era a seringa em sua mão — nada mais me apavorava tanto.
— Por que você me rejeitou?! — Ele vociferou.


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