Por Você romance Capítulo 8

Memórias...

— Mãe? — A chamo sem saber aonde exatamente estou. Um barulho me faz olhar para frente, para a imensa escuridão e uma pequena luz surge no final dela. — É você? Mãe para com isso, vem cá. Estou morrendo de saudades de você. — Caminho no meio da escuridão, em busca da pequena luz. Sinto o meu corpo estremecer, tenho medo, mas não paro. — Mãe? Mãe?

...

Abro os olhos abruptamente encontrando o quarto semiescuro, se não fosse pela lua cheia a brilhar através da janela de vidro transparente. Sento-me no colchão a procura dela, mas logo a minha ficha cai e eu sinto uma vontade incontrolável de chorar, mas respiro fundo e decido tomar um banho para tentar me acalmar. Sigo para o pequeno banheiro, deixo a minha roupa cair no cesto de roupas sujas, ligo o chuveiro e entro debaixo da água morna que cai imediatamente molhando o meu corpo e isso vai me relaxando pouco a pouco. Fecho os meus olhos e molho os meus cabelos. A sensação do calor da água em meu corpo é maravilhosa, mas ela não me livra das lembranças. Essas invadem a minha mente sem me pedir licença e logo as lágrimas se misturam as águas que molham o meu rosto. Desolada, eu me sento no chão do box e me deixo levar por um tempo, até sentir que estou completamente vazia outra vez. Saio do chuveiro depois de um longo tempo, seco o meu corpo e envolvo os meus cabelos em outra toalha. Ponho um babydoll de seda, seco os meus cabelos e, quando volto para cama, Mônica entra no quarto. Ela traz uma xícara em suas mãos. Com um meio sorriso eu seguro a xícara e sinto o aroma delicioso da camomila, quando tomo um gole do líquido morno e adocicado. Ele me aquece por dentro.

— Imaginei que estivesse acordada, como está se sentindo?

— Mais calma agora. — Dou de ombros. Depois de beber calmante o meu chá e de conversamos um pouco, finalmente volto para cama e Mônica cobre o meu corpo, deixando um beijo cálido em meus cabelos.

— Descanse, amiga — pede baixinho e automaticamente os meus olhos começam a pesar. Não sei se por consequência do meu choro compulsivo de minutos atrás, ou devido às várias noites mal dormidas… talvez tenha sido o banho morno, ou chá que a minha amiga fez. Só sei que não demorou muito para que eu finalmente adormecesse. Um sono sereno e cheio de sonhos com lembranças da minha mãe.

Memórias...

— Mãe, olha isso! — falo com empolgação, entrando em casa e lhe entrego o papel.

— O que é isso, filha? — Ela pergunta com curiosidade, abrindo o papel dobrado ao meio.

— Eu consegui! Passei com uma pontuação máxima. Já fiz até a minha matrícula — respondo com um sorriso bobo no rosto. Minha mãe tira os olhos do papel e olha para mim, abrindo um sorriso que lhe ilumina o rosto.

— Sério, filha? Meu Deus, você conseguiu! — Feliz, ela me puxa para os seus braços.

— Sim, no mês que vem começo o meu curso de Medicina — falo em seus braços.

— Doutora Ana Júlia Falcão! — Rose fala como se lesse uma faixa no ar. Sorrio com a sua felicidade. — Estou muito orgulhosa de você, querida! — Ela sussurra emocionada e me aperta em seus braços. — Não será fácil, filha, mas não desista nunca! Seja forte, lute e sorria sempre para vida. Acredite em você, meu amor. Você é capaz! Eu te amo tanto!

...

Hoje faz três dias que ela partiu. Não é nada que eu possa me conformar, mas posso dizer que hoje dói um pouco menos do que ontem. Pelo menos o meu egoísmo de filha já reconhece que foi o melhor para ela. Abro os meus olhos e encaro a pequena janela, que me mostra o dia lindo que me espera do lado de fora. Juro que não queria sair dessa cama hoje, na verdade, não queria sair desse quarto. Daria tudo para ficar aqui quietinha e perdida em minhas memórias fabulosas. Curtindo os melhores momentos que ela me proporcionou durante toda a sua vida. Suspiro e olho encaro o teto branco do quarto. Eu simplesmente não posso ficar aqui deitada na cama vendo o tempo passar. Preciso levantar e tentar reconstruir a minha vida, tenho que juntar todos os meus caquinhos e seguir.

Promete que não desistirá, Ana.

Tenho uma promessa para cumprir e preciso continuar por ela. Também não posso ficar aqui esperando que Mônica resolva tudo por mim, ela já tem responsabilidades demais. Forço o meu corpo desanimado a sair da cama e após tomar uma ducha demorada, ponho uma roupa, escovo os meus dentes, seco os meus cabelos e saio do quarto. Encontro Mônica na sala, ela está arrumada e pronta para ir trabalhar. Ao me ver, ela sorri para mim.

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