“Ethan Hayes”
Mia está diferente.
E é impossível não perceber. Ela evita olhar diretamente para mim, mantém um tom controlado e indiferente quando fala. Profissional demais. Robotizado demais.
Não que isso me incomode. Aliás, esse jeito frio e distante que ela adotou desde o evento do fim de semana é um alívio. Pelo menos assim, evitamos problemas.
Quando ela entra na minha sala pela segunda vez nesta manhã, trazendo o documento que pedi, quase sem fazer barulho, fico tentado a ignorar isso, mas dessa vez, não consigo. Não por mim, mas para manter o convívio minimamente funcional.
— Aqui está o relatório que pediu, Sr. Hayes — ela diz, colocando a pasta sobre a mesa e se virando para sair imediatamente.
— Espere um segundo, Srta. Bennett — digo, quase conseguindo ver um revirar de olhos antes que ela vire. — Isso tem a ver com o que aconteceu no evento?
— Sobre o que exatamente estamos falando?
— Especificamente, sobre eu ter impedido você de ir embora com o Gabriel — explico, me recostando na cadeira.
— Não há nada para esclarecer — ela fala, num tom irônico. — O senhor já deixou claro que gosta de mandar na vida alheia.
— Não quis mandar, mas alguém precisava ser sensato, não acha? — pergunto, arqueando as sobrancelhas. — Afinal, entrar em um carro com alguém que não deveria estar dirigindo não me parecia muito responsável.
— Interessante ouvir isso de alguém que passou a noite com um copo na mão — Mia rebate, num tom debochado.
— Por esse mesmo motivo, fui embora de táxi — respondo, finalmente fazendo-a se calar. — Srta. Bennett, só estou esclarecendo para que problemas pessoais não atrapalhem nosso convívio profissional. Já que James achou que nos prender seria interessante, não quero ter que trabalhar com alguém que me olha como se eu tivesse algum tipo de vírus mortal.
— E eu não quero trabalhar com alguém que decide o que é melhor para mim, como se eu não conseguisse pensar sozinha — ela rebate, estreitando os olhos antes de endireitar sua postura. — Mas não se preocupe, Sr. Hayes, já entendi. Problemas pessoais não vão atrapalhar o bom convívio. Com licença.
Sem esperar por uma resposta, Mia se vira para sair. No entanto, dá dois passos à frente e para, antes de se virar para me encarar novamente.
— Posso tirar uma dúvida? — ela pergunta, num falso tom inocente. Respiro fundo, já me preparando para mais provocações.
— Fale.
— O senhor considerou nossa diferença de idade como um impedimento e agora age com todo esse cuidado pela minha segurança, me tratando como criança… — Mia começa, abrindo um sorriso sarcástico. — Estava pensando se devo começar a chamá-lo de tio Ethan quando estivermos fora da empresa.
— Um grande progresso, devo admitir. Pelo menos dessa vez, você considerou a ideia sem vomitar. — Solto uma risada debochada, vendo seu sorriso diminuir pela provocação que não deu certo. — Mas vamos ser honestos, Mia. Depois daquela noite, não posso ser outra coisa além de Ethan para você, não é?
Mia cora instantaneamente, apertando os lábios enquanto desvia o olhar. Apoio os cotovelos na mesa, me deliciando ao vê-la perder um jogo que ela mesma começou e que com certeza seria incapaz de ganhar.
— Assim como você, eu também não quero mais falar sobre o que aconteceu — Mia responde, finalmente voltando a me encarar.
— Ótimo, então pare de querer me provocar e isso ficará no passado.
— Posso ajudá-lo em mais alguma coisa, Sr. Hayes? — ela pergunta, voltando ao tom frio recém-adotado.
— O cronograma do novo projeto. Certifique-se de que todos os dados estejam atualizados antes da próxima reunião. Não quero surpresas.
Mia assente e se vira rapidamente, fechando a porta com mais força do que o necessário. Solto um suspiro pesado, passando a mão pelos cabelos enquanto olho para a porta fechada.
— Obrigado — James diz, sorrindo. — E, a propósito, comece a fazer suas malas.
— Minhas malas?
— Sim. Você também vai nessa viagem.
— Nem fodendo, James! — exclamo, negando com a cabeça rapidamente. — Não vou a lugar nenhum.
— Ué, você não me disse que eu deveria passar um tempo com a minha filha?
— Exatamente! Você, não eu.
— Preciso de um tempo com a minha filha, e você precisa de um tempo para descansar. Útil ao agradável, meu amigo — ele conclui, levantando-se. — Agora, vamos voltar a trabalhar. Vamos continuar essa conversa depois.
James não espera pela minha resposta e sai da sala, me deixando sozinho com meus pensamentos. Passo a mão pelo rosto enquanto respiro fundo.
Não consigo evitar a ironia da situação.
Descansar. Como se passar um fim de semana em uma casa de praia ao lado de Mia, a tentação ambulante de 1,50, fosse exatamente o que minha mente precisa para relaxar.
E a parte mais perigosa disso?
Não sei se ainda consigo confiar em mim mesmo.
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