Assim que o carro parou na esquina do hospital Thomas se virou para Eduardo. O rapaz o olhava de cima com curiosidade.
—Cuidado com o dinheiro— Falou— Agora, espero que possamos nos ver novamente.
Thomas esperava que não. Queria sair dali correndo e nunca mais ter nada haver com aquela família.
Seu coração ainda doía ao lembrar de que Matthew fora seu Dominador. Procurava afastar aquilo da mente. Sentia enjoo só de pensar.
—Se precisar de mim, pode me ligar— Eduardo disse cortando o silêncio— Olhe, o que houve ontem...
—Não quero falar disso— Thomas o cortou— Posso sair?
—Hum... Claro. Adeus— Disse o outro derrotado.
Thomas assentiu e saiu o mais rápido possível. Precisava deixar tudo aquilo para trás e seguir em frente. Entrou na recepção de vidro e mármore branco e caminhou para os elevadores.
Ao entrar no quarto se deparou com sua mãe dormindo e uma enfermeira cuidando de alguns tubos que estavam ligados em uns aparelhos.
—Bom dia. Sou Jockey, fiquei cuidando de sua mãe hoje. Seu irmão avisou que você iria aparecer a qualquer momento.
—Onde ele está?
—Foi em casa. Eu disse para ele ir. Precisava descansar— Deu um suspiro e saiu do quarto.
Thomas caminhou até a cama da mãe e pegou sua mão. Estava quente. Se sentia envergonhado por estar perto dela, se ela soubesse o que ele havia feito... Apertou um pouco sua mão quente.
—Ah mãe. Sinto muito— Sussurrou, tentando conter as lágrimas— Precisei fazer isso. Sinto muito.
—Com licença— Thomas deu um salto de susto e olhou para trás. Havia um homem à porta. Ele era alto e forte, usava um terno preto, os cabelos eram negros, assim como os olhos. Trazia nas mãos uma pasta preta— Sou Horácio Maxim.
—O que deseja?
—Você foi o Submisso de Matthew Smith?— Thomas ficou pálido como um fantasma— Não se preocupe, sei que sua família não pode saber. Só quero fazer umas perguntas.
—Você é policial?— Thomas deu um passo atrás. Tocou a grade metálica e fria da cama.
—Sou um investigador particular. Meu cliente me enviou hoje mais cedo, ao saber de sua saída da casa Smith.
Thomas mordeu o lábio inferior. Quem havia mandado aquele homem? Matthew?
—Quem é seu cliente?
—Soube que tem um café aqui perto muito bom. Deseja me acompanhar e podemos falar disso com mais calma?
Thomas respirou fundo e olhou para a mãe. Aquele homem iria embora, mas precisava falar com ele primeiro, era melhor acabar logo com aquilo.
—Vamos— Jogou a mochila em uma poltrona e o seguiu.
O café Tacoma ficava a dois quarteirões do hospital, era um local agradável e limpo, com paredes da cor creme e branco, mesinhas de vidro e bancos coloridos. E o café era ótimo.
Thomas analisava cada movimento do homem à sua frente. Ele era ágil, e sempre educado com todo mundo, e tinha cheiro de limão, pensou Thomas.
—Seu cliente é um Smith?
—Não. Ele foi um Submisso, a muito tempo.
Thomas ficou imóvel por alguns segundos.
—Ele ficou interessado em você quando descobriu que seria Submisso do filho de Oto Smith.
—Porque?
—Bom, creio que não tenha permissão de falar. Ele mesmo gostaria de falar com você.
—Não vou para mais lugar algum com você.
—Não precisa— Disse uma voz atrás de Thomas. Um homem sentou no banquinho vasinho entre ele e o homem grande. Devia ter uns 40 anos, e usava um terno vinho estranho e os cabelos eram uma mistura de fios pretos e prateados. Os olhos grandes eram de um verde claro. E Thomas notou seus dedos finos cheios de anéis com pedras preciosas— Sou Mikael Kimer.
Thomas apertou sua mão. O homem parecia ter vindo de algum tipo de quadrinho japonês.
—Você pergunta porque me interessei por você, bom, vamos as verdades. Fui Submisso de Oto a muitos e muitos anos. A família Smith me deixou bem abastecido— Mexeu os dedos exibindo os anéis— Me diga Thomas, Matthew foi vigoroso?
—Não vou falar disso com você— Thomas tentou conter a irritação na voz.
—Claro, você é um doce. Bom, a mais de vinte anos venho prestando serviços a famílias como a de Oto— Thomas olhou surpreso para o homem— Isso mesmo queridinho, há muitas famílias ricas como a de Oto que fazem rituais parecidos, sempre usando Submissos. O meu dever é procurar jovens como você e treiná-los para serem Submissos perfeitos.
Thomas olhou para seu café. Não estava gostando da conversa.
—Ah um cliente que está interessado em um Submisso que foi marcado por um Smith.
Thomas sentiu o sangue subir ligeiro para a cabeça e ficou em pé.
—Diga ao seu cliente que não sou um produto— Sussurrou no ouvido do homem com frieza e saiu do café.
Caminhou de volta ao hospital um pouco desnorteado. Quem eles pensavam que ele era? Nunca mais queria saber disso de novo. Iria enterrar esse passado para sempre.
…
Christian sentou ao lado de Simon, passando um braço pelas suas costas. O casal Smith sentou no sofá em frente.
— Creio que Christian já tenha contado tudo?— Elliot perguntou, e Simon assentiu. Christian podia sentir a tensão do corpo pequeno colado ao seu— Simon, você precisa ter certeza disso. Depois de aceitar não terá como voltar atrás. E precisamos falar com seus pais.
Simon assentiu decidido. Christian amava isso nele, a capacidade de parecer algo tão frágil, mas por dentro ser forte e determinado.
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