Matthew passou os dedos pela mão de Mike Weber, seu primo. O rapaz ergueu a cabeça do seu livro e fitou Matthew com grandes olhos negros, assim como os cabelos.
—O que foi?
—Nada— Matthew recolheu a mão— É só que... Fiquei pensando naquela coisa que vou ter de fazer— Mike suspirou— Você sabe algo sobre isso? Sabe se você também vai fazer?
Mike fechou o livro e olhou em volta, eram os únicos sentados no imenso jardim colorido, na mesa redonda de vidro, mas sendo herdeiros de uma família rica, nunca estavam sozinhos, sempre havia o vulto de preto de um segurança por perto.
—Somos primos, Matthew, claro que vou passar por isso.
—Então sabe o que pode ser? O que farei?
—Bom— Mike olhou em volta novamente. Matthew sabia que o assunto era muito sério, mas não compreendia o exagero do primo— Eu não sei, mas sei de alguém que sabe. Ela meio que sabe muita coisa.
—Quem é? Uma vidente?— Disse Matthew com sarcasmo.
—Ela tem uma rede de informantes, sabe praticamente tudo— Mike informou irritado— O nome dela é Clarice.
— Acha mesmo que ela pode saber de algo assim? Meu pai disse que isso meio que ultra secreto, e que somente membros da família sabiam o que era esse ritual. Essa Clarice é uma Smith?
— Não, mas não existem segredos que ela não saiba.
—Muito bem. Me leve a ela— Matthew disse decidido.
Mike se recostou na cadeira e suspirou pesadamente.
— Não sei se isso é uma boa ideia, se nossos pais descobrirem…
— Eles não vão descobrir, a não ser que você fale algo, e você não pode falar nada— Matthew encarou o primo com firmeza— Entendeu?
— Tudo bem, não vou dizer nada. Preciso ligar para ela.
…
—Pode parar aqui Miele— Mike exclamou para o motorista particular.
Matthew olhou pela janela e franziu a testa.
—Uma escola? O que estamos fazendo aqui?
—Clarice comanda tudo daqui, e é uma aluna pelo que sei. Vamos.
Matthew seguiu o primo, mas agora que estavam ali, não sabia se acreditava muito naquilo. Iria mesmo confiar algo tão sério a uma aluna qualquer? Mas Mike acreditava nela, o problema é que Mike acreditava em tudo e em todos.
Um homem de macacão cinza com o símbolo da escola gravado no peito os esperava no alto dos degraus de entrada da escola, era o zelador. Ele avaliou os dois com cuidado.
— Temos hora marcada com Clarice— Mike falou.
O zelador assentiu e virou de costas para eles e abriu a porta. Mike sinalizou em silêncio para segui-lo. O corredor principal da escola estava vazio, um silêncio pesado se erguendo pelas paredes. Aquela escola era completamente diferente da escola de Matthew, onde a maioria das paredes eram pintadas de branco e havia grandes janelas de vidro que tinham um belo jardim como vista, que no inverno parecia um mar congelado.
Para o espanto de Matthew, eles pararam em frente a uma porta entreaberta, o zelador da escola ergueu uma mão, Mike retirou dois dólares do bolso do jeans e entregou ao homem, que deu de ombros e abriu mais a porta.
Desceram um lance de escadas e Mike bateu em uma porta de aspecto imundo. Matthew olhou entretido para o primo, jamais imaginou que o primo calado e delicado se envolvia no "submundo" de alguém, todos esperavam que Matthew fosse o fracasso total, a desonra da família. Encolheu os ombros e voltou ao normal quando a porta foi aberta.
Uma garota de aspecto severo surgiu.
—Mike, meu querido Mike— Deu um sorriso e apertou a mão de Mike. A garota era normal demais para ser uma grande rede de informações— Matthew, é um prazer vê-lo aqui.
Matthew olhou apreensivo para o primo.
—Eu disse, ela sabe de tudo. Venha.
Eles entraram no escritório. Matthew notou primeiro os dois alunos fazendo papel de seguranças e depois um garoto. Era o garoto mais lindo que ele havia visto na vida, era delicado, mas tinha um olhar determinado, que os examinava. As entranhas de Matthew se esticaram em um calafrio estranho.
—Esse é Thomas— Clarice sorriu. Ela parecia satisfeita demais com algo— Curioso que tenha trazido Matthew aqui, Maki. Thomas querido, pode ir. Nos falaremos em breve.
Thomas deu mais uma olhada em Matthew e saiu dali ligeiro. Matthew sentiu um impulso de segui-lo, mas pela cara do outro parecia que ele queria ficar sozinho.
—Então Mike, sei o que quer. Matthew, sente.
Matthew sentou à mesa redonda e Clarice a sua frente. Mike ficou em pé atrás de Matthew, as mãos pousadas nos ombros largos do primo.
—Clarice sabe de tudo, sabe porque estou aqui— Matthew disse com sarcasmo. Não cederia, não ainda.
—Você atingiu a idade não foi?— Seu sorriso era tão poderoso que fez Matthew lembrar dos chefes malvados dos filmes— Veio saber como será o Ritual.
—Sim. Você sabe?
—Sim, eu sei.
—Diga.
—Claro, mas antes você tem que pagar cem dólares— E recostou—se na cadeira— Tenho o dia todo.
…
Christian encostou-se no seu carro. Olhou desgostoso para o céu azul como tinta fresca, era sábado, um ótimo dia para ir à praia, mas não, estava parado no estacionamento da escola, esperando os outros nerds do clube de leitura para iniciar aquela maldita reunião extra.
Meu Deus, quem diabos ia para a escola no fim de semana?! Ele estava furioso. Se ao menos tivesse sido avisado com antecedência, mas não, o Simon nerd havia ligado aquela manhã bem cedo. E como ele havia conseguido seu número? Maldito!
Ele avistou um grupinho saindo de um carro surrado, logo depois chegou mais outros, todos formando um grupinho de nerds barulhentos. Ele revirou os olhos e permaneceu na sua, até mesmo quando eles sumiram dentro do prédio. Simon não havia chegado ainda, ou seja, ele não tinha motivos para entrar naquela prisão ainda.
Estava prestes a ir embora, enfurecido acreditando que Simon havia passado a perna nele quando viu o garoto atravessar o estacionamento. Ele vinha de cabeça abaixada e andando ligeiro, estava retirando um chapéu e arrumando os cabelos com os dedos, jogou o chapéu dentro da mochila e subiu os degraus de entrada. Christian correu para alcançá-lo.
—Sábado? Sério?— Christina indagou a guisa de bom dia.
Simon parou de repente, arregalando os olhos, havia levado um susto. Christian riu por dentro.
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