Só Teu! Volume II da Trilogia Doce Desejo. romance Capítulo 12

Rio de Janeiro.

31 de outubro de 2010.

No final de outubro, embora fosse primavera no Brasil, uma chuva forte desabava sobre a cidade maravilhosa. Da janela, Sophie observava os carros que passavam na avenida em frente ao hospital São Miguel, na Zona Sul do Rio.

― Doutora Sophie. ― Uma bela moça comprida e esguia entrou na sala após bater. ― O doutor Garcia está aguardando na sala de espera.

― Peça a ele que entre!

Sophie ajeitou o tailleur azul-turquesa sobre a saia envelope preta e sentou na cadeira com estofado vermelho em capitonê.

― Com licença! ― O pediatra passou pela porta.

― Sente-se! ― Ordenou Sophie ao apontar para a cadeira do outro lado da mesa. ― Como está o bebê?

― O estado dele é estável. Rodolpho ganhou peso e já respira sem ajuda de ventilação mecânica. ― Doutor Garcia se ajeitou na cadeira. ― Logo ele receberá alta.

― Ótimo ― disse Sophie ao erguer os olhos. ― Avise-me quando os papéis da liberação estiverem prontos.

― Sim, senhora! ― Os olhos de ônix observavam uma pequena escultura de David, de Michelangelo, na estante. ― A Nicole pode visitá-lo.

― Ne pas! ― A voz gutural de Sophie o interrompeu.

― É um direito da mãe ― retrucou o pediatra.

― Nicole já está se recuperando em casa com o Alex. Não quero que ela se preocupe com isso. Deixe que eu cuido de tudo.

― Todos da sua família acreditam que esse nenê está morto. A senhora deveria informá-los que o Rodolpho está bem.

― Doutor Garcia, eu não pedi a sua opinião. ― Projetou o queixo ao se levantar da poltrona. ―  Avisem-me assim que liberarem o Rodolpho.

A testa de Arthur estava franzida quando ficou em pé e saiu sem dizer uma palavra.

P​​oucas horas depois, Sophie assinou alguns papéis e entregou à secretária. O telefone em cima da mesa vibrava enquanto dava as últimas instruções à funcionária.

― Isso é tudo, Vanessa! ― Os lábios se esticaram em uma linha fina.

Sophie esperou alguns segundos até que Vanessa se retirasse e fixou os olhos no celular. Pegou o aparelho e olhou para a foto da família na tela do computador.

― Oi, meu querido! Como estão as férias? ― Sophie contemplou a imagem no pequeno espelho redondo sobre a mesa e limpou o rímel borrado no canto dos olhos. ― Alexander, acalme-se! Você não pode abandonar tudo e voltar para o Brasil só porque o Marcello te contou que viu a Nicole com outro homem. ― Ficou em pé e caminhou até a porta.

Após tocar a maçaneta dourada, ela trancou e fechou a persiana enquanto ouvia Alexander se lamentar ao telefone.

― Você é um rapaz garboso e de boa família, não faltarão mulheres para escolher. ― A voz serena tentou convencer o neto. ― Curta as férias com a sua amiga e deixe que eu cuido de tudo por aqui. ― Ajeitou os cabelos grisalhos e curtos. ― Je t'aime! Au revoir! ― Se despediu e em seguida desligou.

Durante alguns anos, Sophie fazia de tudo para manter o legado da família. A matriarca dirigia os negócios desde que o seu esposo Rodolpho Bittencourt faleceu em um misterioso acidente de carro.

Ela era muito jovem quando abandonou as praias e fortificações do século XVII da pequena vila no Oeste da França, logo depois que terminou o M. D. em neurocirurgia. Chegou ao Brasil após o casamento com o renomado cardiologista Rodolpho Bittencourt.

Sophie segurou na mesa quando os olhos ficaram turvos e o corpo suou frio, parecia perder a energia. Fazia alguns dias que não dormia direito e nada do que ingeria parava no estômago.

Ela se sentou e encostou a cabeça nas costas da poltrona em estilo provençal. Esperou até que o mal-estar desaparecesse. O som persistente do ringtone obrigou Sophie a esticar o braço e pegar o celular.

― Aqui é a doutora Bittencourt ― murmurou a voz baixa. ― Alguém viu quando vocês a pegaram? ― Mexeu-se na cadeira. ― Ótimo! ― Logo eu encontro vocês.

Na manhã de segunda-feira, Sophie foi até a ala pediátrica e observou que o bebê não estava na incubadora. Saiu apressada pelo piso vinílico até a sala do chefe da pediatria e entrou sem bater.

― Onde está a criança? ― perguntou com seriedade hostil.

― Rodolpho recebeu alta da UTI. Estamos esperando o responsável vir buscá-lo ― respondeu o pediatra. ― Os papéis da alta estão prontos.

― Leve até a minha sala! ― Bateu a porta com força.

Em menos de cinco minutos, Sophie chegou à sala ampla com uma decoração luxuosa. Abriu o cofre e pegou algumas notas presas ao elástico e colocou em um envelope pardo branco. Colocou no fundo da bolsa de grife de marca italiana e focou os olhos de safira na porta.

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