Os punhos estavam fechados sobre a mesa enquanto Alexander ouvia o relato do médico. Tinha uma expressão sombria no rosto com o queixo marcado que por um momento intimidou o médico.
― Há quase um ano eu sou diretor-executivo deste hospital ― interrompeu a voz grave ―, por que você não me procurou antes, doutor Garcia?
― Eu estava morando em Portugal ― repousou o braço sobre a barriga saliente. ― Eu voltei para visitar o meu neto que acabou de nascer e, por coincidência, descobri que você estava aqui. Esperei a manhã toda para lhe contar toda a verdade.
― Eu agradeço a sua boa intenção, mas isso não justifica o seu erro ― reclamou em tom desafiador. ― Você deveria denunciá-la.
― Você sabe como a sua avó era poderosa e como ela conseguia fazer tudo como desejava. Eu não podia lutar contra ela.
― Obrigado, doutor! ― Tirou os óculos e passou a mão no rosto. A mente estava cansada. ― Eu preciso de um tempo para pensar.
Doutor Garcia se despediu de Alexander com um aperto de mão e olhou mais uma vez para a escultura de bronze.
― Não eram para ser chifres!
― O quê? ― Alexander arqueou as sobrancelhas.
― Aquela réplica da estátua de Moisés ― apontou para a estante. ― Eram para ser raios.
― Ah, sim! Isso é devido a uma má tradução da versão vulgata da bíblia, a maioria dos artistas renascentistas esculpiram ou pintaram Moisés com esses chifres ― Alexander fitou o médico. ― Até breve, doutor! ― Encaminhou-se até a porta e abriu.
Naquela noite, a lua cheia imperava por entre as estrelas que brilhavam ao redor. O luar iluminava o rosto que lamentava, em silêncio, as dores de seu quebrantado coração.
Ergueu o rosto para o céu e deixou que a energia da lua fluísse em seu corpo. Admirou o céu e logo depois fechou a janela do quarto do filho que dormia tranquilamente.
Beijou-lhe a testa e seguiu até a cozinha onde preparou um sanduíche com folha de alface, queijo branco e tomate. Arrumou tudo no prato e pegou a jarra de suco de laranja na geladeira.
Ela despejava o líquido amarelo no copo quando a voz rouca e aveludada chamou seu nome. Nicole deu alguns passos cautelosos, já que eram quase 9 horas da noite e não sabia por que ele a procuraria naquele horário.
― O que faz aqui? ― Estranhou a olhos caídos. ― O Alex está dormindo, está tarde!
Alexander não usava óculos e ainda vestia a mesma roupa de quando o viu pela manhã.
― Você está bem? ― Estranhou o silêncio dele. ― Entre!
Absorto em seus pensamentos, ele pensava em como contar tudo à esposa. Tirou o blazer e sentou no pequeno sofá de dois lugares na sala. A televisão exibia algum documentário sobre bebês e parto normal.
Nicole observou o jeito calado de Alexander, aquele homem com um físico intimidador que estava aos cacos. Ela voltou à sala com um prato com sanduíches e entregou um copo de suco de laranja.
― Você deve estar com fome! ― Entregou o lanche.
― Obrigado! ― agradeceu o tom rouco.
Ela sentou ao lado dele e mordeu um pedaço do sanduíche, limpou o canto da boca com um guardanapo e percebeu que Alexander terminou de comer.
― Vou fazer outro para você! ― Levantou, mas a mão dele a impediu.
― Vem cá, meu anjo! ― pediu a voz baixa e aveludada. ― Sente-se aqui ― Alexander respirou fundo. ― Nos últimos dias eu tentei fazer tudo do meu jeito para te proteger. Escondi muitas coisas porque não queria que você sofresse.
― Se você vai tocar nesse assunto é melhor…
― Nicky, deixa eu falar, porra!
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