Só Teu! Volume II da Trilogia Doce Desejo. Capítulo 11

Os punhos estavam fechados sobre a mesa enquanto Alexander ouvia o relato do médico. Tinha uma expressão sombria no rosto com o queixo marcado que por um momento intimidou o médico.
― Há quase um ano eu sou diretor-executivo deste hospital ― interrompeu a voz grave ―, por que você não me procurou antes, doutor Garcia?
― Eu estava morando em Portugal ― repousou o braço sobre a barriga saliente. ― Eu voltei para visitar o meu neto que acabou de nascer e, por coincidência, descobri que você estava aqui. Esperei a manhã toda para lhe contar toda a verdade.
― Eu agradeço a sua boa intenção, mas isso não justifica o seu erro ― reclamou em tom desafiador. ― Você deveria denunciá-la.
― Você sabe como a sua avó era poderosa e como ela conseguia fazer tudo como desejava. Eu não podia lutar contra ela.
― Obrigado, doutor! ― Tirou os óculos e passou a mão no rosto. A mente estava cansada. ― Eu preciso de um tempo para pensar.
Doutor Garcia se despediu de Alexander com um aperto de mão e olhou mais uma vez para a escultura de bronze.
― Não eram para ser chifres!
― O quê? ― Alexander arqueou as sobrancelhas.
― Aquela réplica da estátua de Moisés ― apontou para a estante. ― Eram para ser raios.
― Ah, sim! Isso é devido a uma má tradução da versão vulgata da bíblia, a maioria dos artistas renascentistas esculpiram ou pintaram Moisés com esses chifres ― Alexander fitou o médico. ― Até breve, doutor! ― Encaminhou-se até a porta e abriu.
Naquela noite, a lua cheia imperava por entre as estrelas que brilhavam ao redor. O luar iluminava o rosto que lamentava, em silêncio, as dores de seu quebrantado coração.
Ergueu o rosto para o céu e deixou que a energia da lua fluísse em seu corpo. Admirou o céu e logo depois fechou a janela do quarto do filho que dormia tranquilamente.
Beijou-lhe a testa e seguiu até a cozinha onde preparou um sanduíche com folha de alface, queijo branco e tomate. Arrumou tudo no prato e pegou a jarra de suco de laranja na geladeira.
Ela despejava o líquido amarelo no copo quando a voz rouca e aveludada chamou seu nome. Nicole deu alguns passos cautelosos, já que eram quase 9 horas da noite e não sabia por que ele a procuraria naquele horário.
― O que faz aqui? ― Estranhou a olhos caídos. ― O Alex está dormindo, está tarde!
Alexander não usava óculos e ainda vestia a mesma roupa de quando o viu pela manhã.
― Você está bem? ― Estranhou o silêncio dele. ― Entre!
Absorto em seus pensamentos, ele pensava em como contar tudo à esposa. Tirou o blazer e sentou no pequeno sofá de dois lugares na sala. A televisão exibia algum documentário sobre bebês e parto normal.
Nicole observou o jeito calado de Alexander, aquele homem com um físico intimidador que estava aos cacos. Ela voltou à sala com um prato com sanduíches e entregou um copo de suco de laranja.
― Você deve estar com fome! ― Entregou o lanche.
― Obrigado! ― agradeceu o tom rouco.
Ela sentou ao lado dele e mordeu um pedaço do sanduíche, limpou o canto da boca com um guardanapo e percebeu que Alexander terminou de comer.
― Vou fazer outro para você! ― Levantou, mas a mão dele a impediu.
― Vem cá, meu anjo! ― pediu a voz baixa e aveludada. ― Sente-se aqui ― Alexander respirou fundo. ― Nos últimos dias eu tentei fazer tudo do meu jeito para te proteger. Escondi muitas coisas porque não queria que você sofresse.
― Se você vai tocar nesse assunto é melhor…
― Nicky, deixa eu falar, porra!
baixo ou você vai acordar o Alex. ― O olhar amendoado o encarou.
A razão ordenava que fugisse daquele homem prepotente, mas a voz da emoção não parava de chamá-la para bem perto
Alexander juntou as mãos na altura da testa e procurou manter a calma, lembrou-se que não deveria descontar suas frustrações em Nicole e muito
Sobre o que você quer falar? ― Tocou-lhe no joelho.
― Depois da reunião, eu recebi um bilhete, pouco antes da sua consulta. No início, eu pensei que era uma brincadeira de mal gosto ou alguém querendo dinheiro.
Enquanto ele falava, Nicole terminou de comer e tomou o restante do suco. Colocou o prato na mesinha de madeira ao lado do sofá e focou nos
― O pediatra que cuidou dos nossos filhos me procurou logo depois que você entrou no táxi. ― Engoliu em seco ao mirar nos olhos castanhos. ― Doutor Garcia disse que o Rodolpho está vivo!
barulho do copo se chocando contra o chão quebrou a concentração de Alexander. A última coisa que desejava era ver aquela feição de desespero mais uma vez. Recordou daquela noite fatídica do jantar, não queria reviver aquele estranho momento. Pela terceira vez, ele podia perder a mulher
amor, calma! ― Abaixou-se na frente dela e pegou os cacos maiores espalhados pelo chão. ― Por favor, não se mexa! ― Os olhos azuis estavam
fui ao enterro do meu filho. ― A voz suave de Nicole derrubou o silêncio. ― Você viu o jazigo
sei, meu anjo! ― Recolheu mais
por que está me falando
Fiquei até tarde verificando os registros e as informações, o nome do nosso filho é Rodolpho Moraes.
Eu gostava tanto da sua avó. Até hoje não entendi por que ela me empurrou
perdoe! ― Recolheu a mão direita ao sentir
esgueirou até a cozinha e jogou o restante dos pedaços do copo de vidro no lixo. Gemeu ao colocar a mão ensanguentada embaixo
correu solta pelo corpo ao sentir um toque delicado da mão em suas costas. O cuidado que ela tinha em enxugar as suas mãos e pressionar para conter o sangramento, de alguma forma, o
culpa não é sua! ― Tirou a toalha e verificou um pequeno corte superficial ― Obrigada por me contar. ― Esboçou um sorriso