Entre quatro paredes(Completo) romance Capítulo 3

Eu estava bem em frente aquele prédio imenso, as cores azuis dominavam, era quase todo de vidro espelhado e muito alto. Ficava nada mais, nada menos situado no centro da cidade, aonde apenas as maiores empresas estavam. Pessoas bonitas com roupas sociais entravam e saiam daquele local, me senti uma mendiga perto deles com a melhor roupa que tinha. Sem mais nenhuma briga mental entrei no prédio. Dentro me senti ainda mis inferior, era impecável, tudo limpo com um aroma bom. Caminhei até uma mulher atrás de uma bancada, por sinal muito bonita e apresentável assim como todas as outras, eram padronizadas.

— Boa tarde senhorita, no que posso lhe ajudar hoje? — Ela perguntou com um sorriso nos lábios.

— Eu vim para tentar uma vaga de emprego. — Mostro o anunciado no jornal.

Estendo o currículo para ela, as folhas estavam todas amassadas. Senti vergonha ao ver a expressão que ela fez.

─ Certo, ligaremos para você.

─ Obrigada, moça.

Sai do prédio sentindo olhares encima de mim, sentia minhas bochechas queimarem. Eu não pertencia aquele lugar, era notório. Voltei para casa sem muitas expectativas, eu tinha quase certeza que eles não iriam me ligar, aquela empresa tinha aparência de ser um lugar sério e formal. Provavelmente, a pessoa que administrava tudo aquilo era extremamente poderosa. Encostei minhas coisas cansadas no sofá, eu queria afundar nele e sumir. Desde que meu pai desapareceu, eu passei a cuidar de todo o dinheiro que saia e entrava, tudo dependia de mim, e agora sem emprego eu nem poderia ajudar Anne a ir para uma faculdade boa ou a minha mãe que ainda fazia tratamento. O preço do plano de saúde dela era tão caro que as vezes faltava para a nossa alimentação, mas já estávamos acostumadas a passar dificuldades.

Dois dias se passaram, meu celular não tocava nem para ligações de cobrança. Eu tentei limpar a casa dos vizinhos, mas a diária dava apenas para comprar comida. Mesmo assim, Anne permanecia confiante. Meu coração pesava só de pensar em ficar mais dias sem trabalho.

─ Para onde vai? ─ Perguntou Anne quando me viu cesse com uma bolsa no ombro.

─ Entregar mais currículo, a situação está apertando cada vez mais.

Ela assente com uma expressão ameno a, as vezes ver Anne com essa cara me dava uma leve raiva. Ela nunca perdia o controle de suas emoções, sempre acreditava que tudo ia ficar bem. Der repente meu celular vibra no bolso de trás da calça. Atendo rapidamente.

─ Boa tarde, falo com a senhorita Alice? ─ Uma mulher com a voz calma pergunta do outro lado da linha.

─ Sim, é ela mesma. Aconteceu algo?

─ Liguei para marcar a sua entrevista para a vaga de recepcionista aqui na Angenl´s.

Segurei minha emoção para não gritar de felicidade.

─ Certo, que horas?

─ A tarde, não atrase.

Desligo com os olhos cheios de felicidade, mas era apenas uma entrevista, eu não podia alimentar falsas esperanças. Só de pensar na minha carteira sendo assinada eu sentia vontade de pular de alegria. Anne saiu da cozinha secando as mãos, me olhando.

─ Aconteceu mais alguma coisa?

─ Sim, eu consegui uma entrevista na Angnel´s.

Ela correu para os meus braços e me abraçou.

─ Estou tão feliz!

─ Não podemos comemorar antes do tempo.

Ela revira os olhos.

─ Vamos arrumar uma roupa social para você ir a essa entrevista.

Anne pegou uma das roupas sociais de nossa mãe, não ficou perfeito, na verdade, minha mãe era maior do que eu, ela possuía curvas a mais que eu na minha idade. Mesmo assim eu usaria, não era nada comparado a minha felicidade. Arrumamos o meu cabelo em coque alto, mas não passei nada no rosto.

─ Sua pele já está perfeita, não temos nada disso aqui. ─ resmungou enquanto ajeitava a gola da camisa.

Horas depois eu já estava novamente em frente aquela empresa. Minha confiança de foi mais uma vez, eu me sentia inferior a todas as pessoas por lá.Segurei firme em minha bolsa suspirando. Entrei no local de forma tímida e fui direto para a bancada de informações, algumas atendentes olharam para mim, mas só uma delas veio me atender.

─ Sou Alice Cooper, vim para a entrevista de emprego.

─ Certo ─ ela me fita do cabeça aos pés ─, siga-me.

Ela pede para que eu a siga e eu o faço. Olho para os lados e haviam apenas duas pessoas do lado de fora, pelo visto não tinha tantas pessoas assim atrás dessa vaga.

─ Você será a primeira a ser atendida, pode entrar.

Observo aquele corredor branco bem iluminado, era tudo tão luxuoso que eu ficava sem jeito. Arrumei meus cabelos e respirei fundo, meu coração estava acelerado. Abro a porta e dou de cara com um senhor que aparentava ter uns 45 anos falando ao telefone. Ele estava sentado em uma cadeira atrás de uma mesa, parecia agitado.

— Não... quero para hoje! — Ele dá uma pausa enquanto passa a mão sobre os cabelos brancos e continua — o senhor Dante vai ficar uma fera!

Me sento na cadeira de frente para o mais velho, ele parecia nem dar conta que estou ali. Pigarreio para chamar sua atenção, não funciona, faço outra vez e ele vira para mim bufando.

— Sim, querida? — Perguntou com desdém.

— Eu vim entregar meu currículo... — sou interrompida.

— É sua. — Diz ele ainda com o telefone ao ouvido.

— É-o que? — Questiono incrédula.

— A vaga de recepcionista, sua tonta! Por deus, estou tão aperreado.

— Sério?! — Levanto acento ainda sem acreditar. — Você está brincando comigo?

— Já estou de saco cheio com tantas pessoas vindo e saindo daqui desde a semana passada. É apenas uma vaga de recepcionista.

Por mais que a vaga fosse "simples", eu não questionei, era a chance da minha vida.

— Muito obrigada, muito mesmo, o senhor não sabe o quão gentil está sendo... E — dou uma pausa e sorrio — prometo não decepcionar.

Por um breve momento ele pareceu ficar calmo, mas depois voltou ao modo de antes.

— Está bem, está bem! Amanhã apareça às seis horas. Procure por Beatriz. Ela irá lhe ajudar com toda a parte burocrática, pegue esse papel e entrega a ela. Assim irá saber quem é você. — Ele me entrega o papel.

— Obrigada mais uma vez, amanhã compareço.

Eu queria muito esconder minha felicidade, mas era perceptível, e dessa vez eu merecia comemorar. Saí da sala e levantei as mãos para os céus e exclamei: "sim! sim!", levei a mão até a boca e olhei para os lados sorrindo. Para ele era uma simples vaga de recepcionista mas para mim, era uma chance de sair de tanta miséria.

Consegui o emprego sem fazer entrevista, era inacreditável, no começo eu não tinha entendido nada mas depois apenas aceitei, talvez agora as coisas estivessem vindo ao meu favor.

Fui para casa sorridente, me belisquei diversas vezes para ter certeza que era tudo real e não apenas um sonho.

Cheguei em casa e fui para o quarto de minha mãe, a moça que cuidava dela estava lá.

— Ela não quis comer nada, Alice. Parece criança birrenta.

Olho para minha mãe, ela não me encarava, olhava para lugar nenhum.

— Obrigada por ajudar. Assim que puder eu vou lhe dar um pagamento — coloco minha mão em seu ombro — vai para casa que eu cuidarei dela.

— Está bem, Alice. Até outro dia.

A mulher sai me deixando a sozinha com minha mãe.

— Por que não quer comer?

— Estou sem apetite.

Além do câncer, minha mãe tinha recaídas de depressão. Tinha dias que ela falava muito e ficava feliz, mas era corriqueiro suas crises. Nesses dias eu e Anne tentamos ser mais compreensíveis e atenciosas, às vezes era mais complicado do que parecia.

— Mesmo assim, tem que comer. Os remédios lhe deixam extremamente fraca, vamos, faça esse esforço. — Pegou o prato em minhas mãos — Aliás, tenho uma novidade para a senhora.

— Me conte. — Disse seguido de tosse.

— Só vou falar se você comer tudo. — Ela revira os olhos, mas se rende, entrego o prato a ela e a mesma começa a comer. — Bem, ontem fui demitida do café, mas hoje já consegui um novo emprego melhor.

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