Entre quatro paredes(Completo) romance Capítulo 2

Eu olhava pela janela os carros passando pelo lado de fora, tudo no centro da cidade era movimentado e ríspido. O barulho dos carros era quase imperceptível com o vidro do café que nesse dia, estava especialmente cheio por conta de uma confraternização. O local era pequeno, e quente, a cozinha era o pior lugar para ficar, cheiro de fritura e doces invadiam as narinas se você não fosse acostumado.

Apoiei minha bandeja no balcão e suspirei, levei a costa da mão até a testa e limpei o suor.

— Aqui o pedido da mesa sete! — Uma das meninas que trabalhavam no balcão disse.

Pego o prato com bolo, a xícara de café e levo para o cliente.

O dia inteiro era assim, entregando cafés, jogando lixo, limpando mesas e recebendo gorjetas medíocres. Algumas vezes recebia cantadas ou homens atrevidos tentavam pegar em minha nádega, mas eu sabia como contornar essas situações.

— Eu não aguento mais servir tantos milhares. — Uma das minhas colegas de trabalho diz. Ela era nova no emprego, era a única que falava comigo e que ainda tentava me chamar para sair.

O café com certeza era o lugar mais competitivo de Nova York, por conta da comissão, qualquer um pisaria em você para ganhar um trocado à mais.

— Uma hora você se acostuma. — digo.

Duas garotas entram no café, elas eram diferentes do que costumávamos receber. Usavam roupas claras e seus cabelos estavam perfeitamente penteados, uma loira e a outra morena, ambas esbeltas, provavelmente eram modelos da agência de modelos afrente. — Deixa que eu vou dessa vez.

Fui até elas com o caderno de anotações mão. Elas estavam conversando sobre algo enquanto seguravam o cardápio na ponta dos dedos.

— Boa tarde, o que vão querer?

— Algo não muito gorduroso, sem açúcar nem glúten. — Uma delas me responde com sotaque francês antes de me olhar dos pés à cabeça. — Tem alguma sugestão, garçonete?

— Água? — Sugeri ironicamente.

— Que fait ce qu'elle pense qu'elle est? — a morena indaga em francês.

— Une serveuse stupide avec des vêtements sales. — A outra responde.

Elas entreolharam, olharam para mim e gargalharam.

— Vamos querer uma size salad e uma água. — Elas responderam. Anotei e dei as costas para elas levando o fiapo de meu cabelo para trás da orelha.

Pendurei o pedido no mural.

Meu avental estava sujo de açúcar de confeitar e café, limpei o mesmo imediatamente. Tentei não pensar nas piadinhas cujo ouvi, por mais difícil que fosse.

Eu sempre saía às 22 horas, mas desta vez tinha algo estranho pairando sobre o ar. Minha sensação intensificou quando fui chamada a sala da gerente. Ela era grossa na maioria das vezes e tinha um humor ácido que quase ninguém suportava. Mas pelo menos me empregou durante esses anos que mais precisei.

— Demitida?! — Questionei indignada.

— Eu sinto muito Alice, nós precisamos cortar gastos. — Continua — o café já não dar mais dinheiro como antes.

— O que eu vou fazer agora? —Sento na cadeira cabisbaixa.

Ela respira fundo, mesmo com a cabeça para baixo via os olhos dela revirarem.

— Eu posso indicar você, mas esse é o máximo que posso fazer. Ainda tem o seu seguro desemprego, pode pegar no nosso setor de Rh.

Tirei meu avental e o joguei em um lugar qualquer da sala dos funcionários. Abrir meu armário e olhei a foto de minha família, basicamente consistia em: minha irmã Anne e minha mãe. Olhei para o chão, fechei meus olhos segurando as lágrimas, encostei nos armários e arfei. Eu estava exausta. E o que eu faria agora?

Enquanto estava no metrô, tentava não pensar nos desafios que teríamos de enfrentar, sem meu emprego não podia mais ajudar em casa e a pagar o plano de saúde de minha mãe que a esse altura estava alto, mas caro do que quando começamos o tratamento.

A estação mais perto da minha casa ficava há duas quadras, no Queens.

Vou direto para casa, abro a porta entro e fecho-a novamente. Me apoio na mesma e sinto meus olhos pesarem. Droga, Alice.

Jogo minha bolsa em um canto qualquer e chuto para longe. Enxugou as lágrimas e quando vejo Anne descer as escadas.

— O que aconteceu? — Perguntou ela franzino a sobrancelha alourada — Por que está em casa tão cedo?

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