A Babá Perfeita romance Capítulo 54

- Abigail, quem era a mulher que veio com o Max hoje?

- A Sra Reagan?

- Esse é o nome dela?

Ela balança a cabeça, assentindo.

Estamos lado a lado, sentadas no sofá da sala. Enrolada em um cobertor pesado, eu bebo devagar o chá de ervas quentinho que Abigail me trouxe com carinho. Ela me olha com preocupação cada vez que eu solto um espirro.

Eu gostaria de saber com Evie está. Mas ela ainda não saiu do quarto e se recusa a abrir a porta para qualquer um. Judith me pediu paciência. Disse que ela vai abrir quando estiver pronta. 

Isso é loucura, certo? Uma criança não tem ainda a capacidade de tomar as próprias decisões. 

- Lauren Reagan - Abigail confirma com um olhar sereno. - Ela é chefe de publicidade na empresa do Sr Lancaster.

- Ela costuma vir aqui?

- Ah, não, não - Abigail franze a testa, meneando a cabeça. - Ela até veio uma ou duas vezes, mas já faz um tempo que não aparece. Por que?

- Por nada. Eu só achei estranho... - então Lauren já esteve aqui antes. E pelo grau de intimidade com Max, quando chegaram, eu arrisco dizer que foram mais vezes do que Abigail está me contando. E não só por motivos profissionais. - Max nunca trouxe alguém do trabalho, desde quando eu vim para cá.

- É verdade. O Sr Lancaster não costuma trazer seus funcionários em casa - suas palavras só aumentam minhas suspeitas. - Eles devem ter negócios muito importantes para tratar.

- É claro. 

O olhar de Abigail fica mais intenso. Eu percebo que ela quer me perguntar alguma coisa. Fico achando que é sobre o meu interrogatório, mas ela me surpreende ao dizer:

- Chloe, se me desculpa a intromissão... o que aconteceu hoje na piscina?

Eu suspiro, tomando o último gole do chá. A bebida não só estava deliciosa, como aqueceu cumpriu a missão de aquecer o meu estômago. Em conjunto, me livrou do frio absurdo que eu estava sentindo desde o momento em que eu saí da piscina.

Abigail ainda me olha, esperando uma resposta.

- Eu gostaria de saber.

- Mas você não viu nada?

- Não. Tudo o que eu vi foi Maisy dentro da água e Evie pálida como uma folha de papel - eu me preparo para fazer a pergunta, cuja resposta possivelmente não vou querer saber. - Me diz uma coisa, Abigail... Evie sabe nadar?

A governanta franze o cenho.

- Por que está perguntando isso?

- Acho que você sabe.

Ela me olha, atravessado. Tenho a impressão de que acabei de cutucar o vespeiro e estou prestes a levar uma mordida. 

- Evie fez natação durante alguns anos.

- Anos? - um gosto amargo invade a minha boca.

- Sim, mas acho que você está sendo muito dura no seu julgamento. Evie é apenas uma criança. Não poderia ter feito nada.

- Não mesmo?

- Tenho certeza que não.

Abigail e eu ficamos nos olhando em silêncio até ele pedir licença para terminar seus afazeres.

Eu continuo sentada ali por muito tempo, apenas refletindo.

É possível que Abigail esteja certa. Evie seria pequena demais para carregar Maisy até a borda e salvar sua vida. A menina provavelmente não conseguiria, é verdade.

Mas poderia ter tentado.

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Max chega depois das onze da noite, e dessa vez, sozinho. 

Sentada na cama, eu assisto um pouco de tv, tentando me distrair da noite terrível que tivemos.

Só tive notícias de Evie a pouco, por intermédio de Judith. Ela estava bem, já tinha jantado e estava brincando de casinha em seu quarto. Infelizmente, aquilo não me surpreendeu nem um pouco. Depois de ter assistido a irmã quase se afogar sem intervir, Evie agora estar brincando com suas bonecas não me chocava.

Judith não parece compreender a gravidade da situação e eu ainda não estou disposta a contar para ela o que se passa na minha cabeça. Os meus... receios. Estou tentando não pensar nisso desesperadamente. É tudo terrível demais para colocar em palavras.

Eu olho para Max e, apesar do cansaço visível, o seu semblante me diz tudo o que eu preciso saber.

- Maisy está fora de perigo, mas vai passar a noite no hospital em observação - já sem o paletó, ele começa a abrir os botões da camisa. - Amanhã de manhã deverá ter alta.

- Você não ficou para passar a noite com ela?

- Lauren está lá.

Eu fico paralisada. O que foi que ele acabou de falar? Eu devo ter entendido errado.

- Você disse que Lauren, da empresa, vai acompanhar sua filha durante a noite no hospital?

Ele dá de ombros, se livrando da camisa e abrindo a fivela do cinto. Seu semblante fica tenso, carregado, e o seu pensamento parece estar em qualquer lugar, menos aqui. Eu me pergunto que tipo de problema o perturba, já que a saúde de Maisy não parece incomodá-lo tanto. Ou não teria deixado sua filha nas mãos de uma mulher praticamente estranha.

- Eu teria pedido a você, Chloe, mas não quis incomodá-la. Já teve um dia cheio.

- Eu preferia que tivesse pedido - nem me dou ao trabalho de disfarçar a minha reprovação. - Seria bom para Maisy ter um rosto amigo durante a noite.

Ele bufa.

- Lauren é um rosto amigo. Maisy e Evie a adoram - ele se cala. Em seu rosto, fica nítido que se arrependeu das palavras. Talvez pela mágoa em meus olhos. Ou por ter percebido que foi longe demais. - Não tanto quanto amam você, claro - ele se aproxima da cama, se ajoelha e rasteja até mim. Deixa um beijo delicado na minha testa antes de seguir para o banheiro. - Eu vou tomar um banho. Descanse, Chloe.

A raiva me dá a sensação de uma comida mal digerida no estômago. Sua frieza não me agrada, assim como a sua condescendência comigo. Prefiro que brigue do que vê-lo se calar e se retrair assim dentro do casulo. Max está a tempo demais fechado em si mesmo. Ele precisa se abrir e está claro que não vai fazer isso sozinho.

Minha irritação toma proporções astronômicas. Quando percebo, estou entrando no banheiro, abrindo a porta do box e encarando o seu rosto atônito.

- Por que eu acho que tem muita coisa que você não está me contando?

Ele suspira. Parece prestes a me mandar voltar para a cama, outra vez, mas acaba me respondendo com outra pergunta:

- Como o que por exemplo?

Eu passo as mãos pelo rosto. Estou farta. Cansada das suas meias verdades, das suas perguntas devolvidas, do seu ar de falsa inocência.

- Por exemplo, foi a Lauren que ligou para você aquele dia? - eu coloco o dedo na frente do seu rosto e ele me olha, possesso, mas não mexe um músculo. - No fim de semana que eu fui para casa, Evie apareceu e eu me escondi no banheiro. Ela disse que uma mulher ligou para você. Quem foi?

Seus olhos me fulminam. Há um brilho quase animalesco neles. Estou preparada para uma briga de estremecer as estruturas, mas tudo o que Max faz é se virar, pegar uma esponja e começa a se ensaboar com toda a calma do mundo.

O sangue ferve dentro de mim. Estou a ponto de explodir de ódio.

O que deu nele para agir assim? Por que não me diz logo o que está pensando?

- Max - eu o chamo, entredentes.

- Sim, foi a Lauren - ele continua o que está fazendo com uma expressão relaxada, quase serena. Apenas a veia saliente na lateral do pescoço trai o que se passa dentro dele de verdade. Sei que debaixo daquela carne e daqueles músculos, seu peito está apertado com um peso que ele não é capaz de dividir com ninguém. - Por que isso é importante agora?

- O que ela queria? 

Ele abre o chuveiro. Deixa a água correr, se lavando. Seu corpo perfeito, de músculos milimetricamente esculpidos, chamam minha atenção por um momento. Mas dessa vez é diferente. Fico pensando em quantas mulheres já tocaram aquele corpo. E em quantas fizeram aquilo recentemente.

Max desliga o chuveiro. Passa a mão pelo rosto, se livrando do excesso de água. Se apoia no vidro do box, enquanto mantém os olhos cravados em mim.

- Lauren veio para tratar de negócios, Chloe. Nós estamos com alguns problemas de imagem. Ela cuida da parte de publicidade e foi acionada a esse respeito. Nós estamos tentando solucionar isso juntos.

Eu abro a boca para soltar alguma resposta afiada e descubro que não tenho mais munição para atacá-lo. É o tipo de situação que parece plausível na rotina de um homem de negócios. Mas mesmo assim... alguma coisa não bate.

- Max, você está mentindo para mim?

Ele me observa sem mover um músculo.

- Não. Eu juro que não - sua voz sai mau humorada - Mais alguma coisa não está clara?

Eu dou uma risada de puro desespero. Esse ar superior dele consegue me tirar do sério. 

- Muitas coisas não estão claras, Max. Não me trate como se eu fosse a sua namorada histérica.

- Bom, nesse momento é isso o que você está parecendo.

Eu respiro tão fundo que sinto o peito arder. Então dou meia volta em direção ao quarto, pronta para deixá-lo falando sozinho. Mas Max me agarra pela cintura e me puxa de encontro a ele. Seu corpo está molhado e sua pele, fresca e perfumada. 

O cabelo respinga água em mim e, em outro momento, aquilo seria até divertido. Mas agora tudo o que eu quero é bater nele.

- Por que você tem que ser tão difícil? - sussurra no meu ouvido, me prendendo em seus braços.

Eu cerro os dentes. 

- Lauren costuma ser mais fácil?

Por um instante, Max só fica em silêncio. Mas logo depois, ele solta uma gargalhada estrondosa. Suas mãos passeiam pela frente do meu corpo até encontrar a barra da minha camisola. Eu fico imóvel, presa a cada um dos seus movimentos. Sua mão desliza para cima por baixo do tecido. Agarra um dos meus seios, massageia gentilmente. 

Sugo o ar entre os dentes e tento me afastar. Minha respiração está acelerada. Meu peito dispara. Mas quando ele passa a brincar com o mamilo, são minhas pernas que ameaçam ceder.

- Me solta - tento protestar, mas sai como um gemido.

- Não se você não quiser isso de verdade...

Eu quero gritar que ele não presta, que não vale nada. Mas a verdade é que estou queimando por ele bem aqui e agora.

- O que quer dizer?

- Quero que me diga com todas as letras que você não quer que eu te leve para a cama, nesse exato momento, e te coma de todas as maneiras possíveis.

- Max... eu mandei você me soltar...

- Então me diga que está com ciúmes.

Aquilo é o cúmulo. Eu viro o rosto para ele, morrendo de raiva, e Max aproveita para capturar minha boca em um beijo. Desgraçado. Sua língua invade minha boca e se mistura a minha. Seu gosto é perfeito, maravilhoso, inebriante.

- Eu não sou ciumenta - nego, afastando o rosto. - Só não gosto que me faltem com o respeito.

- Ah é? - ele se conforma em beijar o meu pescoço e, de alguma maneira, isso é pior. Max afunda o nariz nele, se embriagando com o meu cheiro. Eu me contorço toda, as pernas bambas. Posso sentir sua ereção contra a minha bunda. Mas quando seus dedos escorregam para dentro da minha calcinha, eu fecho as coxas e ele não tem tempo para conseguir o que deseja. Maldito. O músculo entre as minhas pernas pulsa, desesperado. - Você fica linda quando está brava, Chloe. Mas fica ainda mais linda gemendo embaixo de mim.

Já chega.

Fecho os olhos, recorrendo a toda a minha força de vontade. Ignorando o fato de que suas mãos continuam me acariciando em pontos tão sensíveis, digo em um tom firme e decidido:

- Chega, Max. Se você tem um pingo de respeito por mim, eu te peço... chega. Eu me recuso a ir para a cama com um homem que mente para mim...

- Eu não menti - ele grunhe.

- Isso é o que você diz, mas eu sei que não está me dizendo toda a verdade. Você está?

Max não responde e eu tenho aí a minha resposta.

- Eu não posso - balanço a cabeça com tristeza. - Simplesmente não consigo passar essa noite com você.

Seus braços me soltam. Ele sai do box e se enrola no roupão azul marinho pendurado no cabideiro.

Seu olhar para mim é hesitante.

- O que quer dizer com isso, Chloe? 

Eu respiro fundo, cruzando os braços na frente do corpo.

- Vou dormir no meu antigo quarto essa noite. 

Max bufa.

- E nas outras noites? É isso o que você vai fazer? Vai terminar comigo por causa do seu ciúme bobo?

O meu coração falha uma batida.

Nunca disse nada a respeito de deixá-lo. Isso sequer tinha passado pela minha cabeça. Será que eu ando sendo muito dura? Sei que Max tem os seus limites e que eu prometi a mim mesma que respeitaria o seu passado em favor do nosso futuro, mas aquilo vem me matando. Não suporto mais esperar que ele confie em mim para se abrir.

- Eu não disse isso - nego. -Mas preciso de um tempo para digerir as coisas.

- Digerir o que, Chloe? Que a chefe de publicidade da minha empresa ligue e se reúna comigo, de vez em quando? Você consegue se ouvir? Consegue ver como isso soa estúpido e infantil? Cresça, Chloe.

Suas palavras me derrubam com a força de um soco. Eu me retraio, com os olhos cheios de lágrimas.

Max me olha. Ele parece prestes a dizer alguma coisa a respeito. Mas em vez disso, se afasta a passos rápidos.

- Não precisa sair do quarto. Ele é todo seu. Boa noite, Chloe - e bate a porta com força ao sair.

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