A Babá Perfeita romance Capítulo 53

Por causa de um problema inesperado, Max é obrigado a passar a maior parte do tempo na empresa, pelo resto da semana.

Ele parece inquieto, preocupado. Mesmo quando está em casa, precisa ir ao escritório, com frequência, fazer ligações importantes. E quando retorna, seu semblante está sempre pior do que quando saiu.

Eu tento ajudá-lo da melhor maneira possível. Estou sempre aberta ao diálogo. Quero que saiba que me interesso por tudo o que tem a ver com ele. Na cama, sou  amorosa e dedicada, e ele corresponde com uma paixão desesperada. Mas fora dela parece distraído, muitas vezes distante.

Eu acabo triste e solitária, sentindo falta dos dias incríveis que passamos quando retornei da casa do meu pai. Nada parece como antes. Max voltou ao seu modo Homem de Negócios. Eu fico esperando que essa fase termine logo, mas minha consciência grita que não é só uma fase. Foi assim que eu o conheci: determinado, intenso e dedicado. Como querer que ele mude agora? E por mim?

Uso o meu tempo livre para tentar me aproximar de Evie, mas ela se fecha como uma ostra. Está sempre quieta e emburrrada, até mesmo com os  outros. Voltou a não querer comer o que Jud prepara com tanto carinho. Estamos todos com o coração angustiado. Exceto Max, que permanece alheio a tudo.

Em vez de rancorosa, fico preocupada com o que pode acontecer a ela. Evie finge ser uma garota forte e inviolável, mas ao que tudo indica é mais frágil do que todos pensam. Fico imaginando o que a está perturbando tanto.

Os dias passam e eu vou ficando cada vez mais assustada, mas Max retornou ao seu modo "pai ausente" e se recusa a me ouvir. Os problemas da empresa precisam vir primeiro nesse momento. Evie é desse jeito mesmo, adora fazer uma cena, ela vai ficar bem.

Minha vontade é torcer o seu pescoço.

Quando vai se dar conta de que o seu bem mais precioso são aquelas duas meninas? Que não faz sentido construir um império, quando tudo dentro de casa estão desmoronando.

Já Maisy, embora venha fazendo pequenas conquistas durante as sessões de fono, ainda não disse uma palavra concreta. Na última sessão, Max não pôde comparecer. Estava em uma reunião inadiável. A fonoaudióloga não disse nada a respeito, mas notei que ela ficou surpresa com aquela ausência. Max tinha se mostrado tão presente em cada sessão e tão entusiasmado com os progressos da filha!

Não fazia sentido ele não aparecer justamente quando Maisy estava avançando.

- Você acha que ela vai voltar a falar? - eu perguntei, sem esconder a tensão na minha voz. Essa era uma das minhas preocupações recorrentes. Que depois de tanto esforço, Max e Maisy acabassem se frustrando. E por minha culpa, que havia insistido tanto naquilo.

- Cada vez mais eu fico mais convencida disso - o sorriso da mulher acendeu uma chama de esperança em meu peito.- Maisy vai voltar a falar, Chloe, mas no tempo dela. Precisamos ser pacientes.

Eu passei a monitorar e comemorar cada vitória de Maisy por mim mesma. Como se fossem minhas próprias vitórias. De certa forma elas eram, não? Eu amava as filhas de Max como se fossem minhas filhas. Amei aquelas crianças antes mesmo de amá-lo, mesmo que Evie se recusasse a acreditar naquilo.

- Você precisa dar espaço a ela - Jud aconselha, sorrindo para mim com ternura. - Algumas crianças precisam ser estimuladas se você quiser ouvi-las falar. Mas outras, só precisam de espaço e silêncio.

- Acho que eu não sou boa em esperar - digo e Jud acha graça.

É sexta feira e estamos no quarto de empregada, onde eu dormia até algumas semanas atrás. Jud está me ajudando a esvaziar o guarda roupas. Logo todas as minhas coisas estarão no quarto de Max.

Isso também me preocupa. Mesmo que esse ritual pouco signifique para ele, a mim quer dizer muita coisa. Estou rompendo de vez com minha antiga função nessa casa e passando a assumir um novo papel. Honestamente, não sei se estou preparada.

Fico dizendo a mim mesma, o tempo todo, que não tenho ilusões quanto a nada. Que sei perfeitamente que as coisas podem mudar a qualquer momento. Que Max pode cair em si e toda aquela paixão se esvair em uma nuvem de fumaça. Mas, ainda que eu repita isso, todos dias, infinitas vezes, há uma parte de mim, uma pequena e patética parte, que se recusa absolutamente a acreditar.

Além disso, existem as meninas. A que me adora, muitas vezes, eu me sinto incapaz de ajudar. A que me odeia se recusa a aceitar minha ajuda.

- Você vai aprender - Jud assegura. - Está passando por um momento ruim, chica. Mas logo a tempestade irá se aplacar. Agora, venha. Vamos levar a última remessa para a suíte principal.

Com Max longe, o dia se arrasta sem a menor graça. Eu tento passar o maior tempo possível com Judith, mas fico contando os minutos para a chegada dele. Em férias da escola, as meninas passam bastante tempo brincando na piscina no quarto ou lá fora, no jardim. Fico morrendo de vontade de me juntar a elas, mas sei muito bem que a reação de Evie não vai ser das melhores.

No final da tarde, não estou mais me aguentando. Já organizei minhas coisas no novo guarda roupa, duas vezes. Fiz um pouco de exercício na academia e até ajudei Judith a fazer um bolo.

- Que se dane - digo e saio para o jardim, correndo os olhos a procura das crianças.

Quando encontro Evie, ela está perto da piscina, um olhar de pânico no rosto. Meu coração dispara. Um instinto forte de proteção toma conta de mim.

Eu me aproximo a passos largos, a boca seca e o coração ainda aos pulos.

É quando vejo Maisy se debatendo dentro da água.

- Maisy!

Evie olha para mim como se estivesse acordando de um longo transe.

- Ela não sabe nadar- grita de volta. - Ela não sabe nadar, Chloe!

Eu corro em direção a água e pulo nela sem pensar duas vezes. Maisy parou de se bater e vai deslizando para o fundo. Por um momento, acho que estou tendo um pesadelo. Mas quando a alcanço, meus braços envolvem seu pequeno corpo frágil, e eu entendo que sonho algum, por pior que fosse, nunca, jamais poderia ser tão real.

Consigo arrastar a menina comigo para a superfície com dificuldade. Está frio. Dentro da água também estava, mas do lado de fora e, com as roupas molhadas, não consigo parar de bater os dentes.

Com muito esforço, consigo encontrar a pulsação de Maisy. Fraca, mas está lá. Seu rosto está pálido e ao redor dos olhos há uma sombra arroxeada.

- Ai meu Deus- Evie leva as mãos a boca e começa a tremer. - Ela está bem? Maisy está bem? Por favor me diga que ela está bem.

Eu tento me lembrar de alguma coisa que já tenha visto a respeito de afogamentos, qualquer coisa, mas minha mente é uma tela em branco.

- Respiração boca a boca  - Evie balança a cabeça para mim, com os olhos arregalados. Eu balanço a cabeça de volta. Tempo o nariz de Maisy com os dedos e aproximo o meu rosto. Cubro sua boca com a minha e sopro devagar. - Anda, você consegue - eu repito o processo. E outra vez, mas não parece estar adiantando. Maisy continua imóvel, sem esboçar qualquer reação.

A cada segundo que passa, sinto que vou ficando sem tempo e um medo incontrolável me sufoca.

- Maisy?

Max surge na minha visão lateral. Ele dispara como um raio até nós e uma onda de alívio me invade. Mas não está sozinho. Uma mulher morena, de cabelos longos e negros, e imensos olhos verdes, se aproxima com ele. Ela não tira os olhos de Maisy e parece preocupada.

- O que aconteceu? - Max pergunta, com o olhar aterrorizado. Evie olha para ele e não diz nada. - Fala Evie, o que aconteceu?!

- Eu a encontrei na piscina - eu aviso, olhando para Evie que parece aterrorizada demais para dizer qualquer coisa. - É melhor chamar a ambulância agora.

- Já estou ligando - a desconhecida diz, apoiando o celular entre a orelha e o ombro  - Está chamando. Será rápido. Eles já vão chegar.

- Merda nenhuma  - Max rosna, com o rosto  lívido.

Ele pega Maisy nos braços e corre com ela pelo jardim. Evie e eu vamos atrás dele. Eu tento alcançá-lo para dizer que quero ir junto até o hospital, mas o meu corpo todo dói e eu ainda não parei de tremer. E o frio... Deus, de onde vem tanto frio?

Por fim, acabo ficando para trás e é a estranha que vai com Max no carro. Não sei como ela chegou primeiro até ele, mas é provável que tenha contornado a piscina. Ela entra pela porta traseira e Max lhe entrega Maisy desacordada.

Em silêncio, Evie e eu assistimos o carro dar a partida, manobrar e desaparecer na rua entre as árvores.

Eu suspiro, apertando os braços ao redor do corpo.

- O que aconteceu ,Evie? - eu repito a pergunta de Max.

Evie permanece quieta, calada, mas o seu semblante confirma: está escondendo alguma coisa.

Eu olho para ela e vejo uma torrente de lágrimas grossas caindo pelo seu rosto. Um segundo depois, ela dá meia volta e corre para o interior da mansão, literalmente aos prantos e sem revelar nada.

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N/A: E então o que vocês acham que aconteceu a Maisy? Palpites? Hehe

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