A Babá Perfeita romance Capítulo 55

- Eu senti muito a sua falta nesses dias. Sei que você e sua irmã são muito próximas. Sei que tem alguma espécie de... pacto - Maisy me olha, franzindo o narizinho arrebitado, e eu sorrio. - Mas quero que você saiba que eu sempre vou estar por aqui para você. E para ela também... mesmo que ela não queira.

A pequena e eu estamos sozinhas no seu quarto. Enquanto eu escovo seu lindo cabelo, ela brinca com uma boneca de pano que foi presente da sua avó.

Max me contou a história daquela boneca. Foi um dos poucos brinquedos que Liv deu para a filha na vida.

É estranho pensar como nosso relacionamento se desenvolveu nas últimas semanas. Contei coisas a ele que nunca pensei que contaria a ninguém. Por outro lado, toda vez que Max abre uma porta da sua vida para mim, sinto que fecha duas.

Pensar nisso me deixa com uma angústia no peito. E depois da briga na noite passada, sinto que as coisas entre nós estão esfriando de vez.

Deixo Maisy brincando com sua boneca e desço as escadas. O inverno vai se despedindo e o clima começa a ficar mais aconchegante. Penso em meu pai, imagino o que ele deve estar fazendo. A saudade de casa aperta como nunca. Eu me sinto horrível... apenas vagando pela mansão enquanto espero que as coisas voltem a se encaixar naquele mundo. Ao mesmo tempo em que o meu verdadeiro mundo espera que eu caia na real e volte para ele.

- Ei, Jud.

Ela me observa com seus olhos castanhos calorosos.

- Ei, Chloezita! Resolveu sair um pouco daquele quarto? Já estava criando poeira.

Sorrio, puxando uma cadeira ao redor da mesa da cozinha e me sentando.

- Eu estava com Maisy, na verdade.

- Ah, isso é ótimo. Ela está melhorando muito, não está? - ela pergunta, animada, enquanto seca a louça do jantar.

Max não jantou em casa. Nem Evie. Ela havia saído pouco antes do almoço, enquanto eu estava na fisioterapia, e ainda não tinha voltado para casa. Judith não soube me dizer onde ela foi e eu mal vi Abigail o dia inteiro, então não tive muitas oportunidades para perguntar.

- Eu acho, mas não tenho certeza - respondo com um suspiro. Odeio me sentir assim, especialmente a respeito do progresso de Maisy. Sei que é importante que ela se sinta confiante e segura durante todo esse processo. Quero ajudá-la... mas a cada dia que passa minhas forças se esvaem.

Judith, no entanto, me olha confiante.

- Pois eu, sim, tenho certeza. Sabe como? Basta olhar nos olhos dela. E quando você está perto então... eu vejo o esforço que aquela menina está fazendo. E nenhum esforço sincero é em vão, Chloezita.

As palavras de Judith me arepiam. Que amiga maravilhosa fui fazer nessa casa! Eu me aproximo dela e quase a faço derrubar os pratos, quando a abraço apertado de lado.

Jud abre um sorriso largo e fecha os olhos, deixando cair a lateral da cabeça sobre a minha.

- Chica, você é luz nessa casa! Um dia, o Sr Lancaster vai perceber que você não é um troféu, mas um verdadeiro prêmio. Você vale ouro.

- Eu não sei se esse dia vai chegar, Jud.

- Vai sim, mi amor. Tenha um pouco mais de fé. Homens como ele, que viveram tempo demais nas sombras, demoram a reconhecer a luz.

Como eu adoraria acreditar nas palavras de Judith!

A porta da frente se abre e ouvimos algumas vozes. Uma delas é de Evie, mas a outra é desconhecida.

Eu deixo um beijo no rosto da minha amiga e vou para a sala, disposta a enfrentar o mau humor de Evie para descobrir o que está acontecendo.

Meu rosto pega fogo quando vejo a menina acompanhada por Lauren, que está cheia de sorrisos e carregada de sacolas.

- Olá... Charlotte, não é mesmo? - ela sorri para mim com dentes grandes e brilhantes, e me pergunto se não errou o meu nome de propósito. - Espero que não tenha ficado preocupada. Abigail contou que eu levaria Evie para acertar o corte do cabelo, certo? Então, acabei não resistindo e fizemos umas comprinhas juntas no shopping. Por favor, não brigue com a Evie, foi tudo culpa minha.

- E por que eu brigaria? Eu não tenho a posse dela - respondo, mal controlando a minha vontade de esganá-la. Tudo em Lauren me cheira a falsidade e se isso me escapou da outra vez, parece estar ficando mais claro a cada segundo que eu passo na sua presença.

- Ah - ela me olha com um ar espantado. Depois se vira na direção de Evie, enquanto ajeita a bolsa no ombro. - Querida, foi um dia perfeito. Precisamos repetir logo. Agora eu preciso voltar para a empresa. Você vai ficar bem? - ela lança um olhar rápido na minha direção, e fica claro que está se referindo a mim.

Se essa cobra não sair daqui em cinco segundos, juro que ela vai descobrir que, além de morder, eu arranco pedaço.

Evie faz que sim com a cabeça. Lauren ajeita o seu cabelo da menina atrás da orelha, o que não chega a ser realmente um carinho. Para a minha surpresa, Evie se encolhe. O movimento é sutil, quase imperceptível, mas eu o capturo.

- Bom, até logo. Pode deixar que eu dou um beijo no papai por você.

Meu estômago revira. Eu dou um passo adiante, mas o brilho do triunfo nos olhos de Lauren me fazem parar.

- Até breve, Charlotte - ela diz, alegremente, antes de sair pela porta.

Eu respiro fundo e conto até dez para não abrir aquela porta e gritar tudo o que eu penso na cara daquela lacraia venenosa.

Caio sentada no sofá, com um gosto ruim na boca.

Maldito Max!

Ultimamente eu venho me colocando em situações que nunca imaginei viver na minha vida. E tudo por causa dele.

Evie deixa sua bolsa ao meu lado no sofá da sala e me olha de cima.

- Achei que vocês fossem arrancar o cabelo uma da outra como duas selvagens.

Eu sorrio sem humor.

- Ah, agora você está falando comigo?

Ela fecha ainda mais a cara e dá de ombros. Está usando um casaco lindo azul claro de veludo e botas pretas envernizadas. Seu cabelo cortado curto e chanel, em vez de despojado, deixou ela ainda mais elegante. Uma mini adulta perfeita.

- Se divertiu no passeio?

- Mais ou menos.

Como assim mais ou menos? A curiosidade faz a minha pele pinicar. Eu quero detalhes. Eu preciso dos detalhes!

Encaro Evie, deixando claro que não vou desistir até arrancar mais alguma coisa dela.

- Lauren é... legal.

- Legal? - insisto.

A menina dá de ombros de novo e eu cruzo as pernas, impedindo meus pés de balançarem o tempo todo.

- Ela tem estilo, é bonita... e gosta de conversar sobre várias coisas.

- Mas...? - eu a instigo e Evie franze a testa.

- Eu não disse que tinha um "mas".

- Então ela é perfeita?

- Talvez- ela bufa.

- Pois eu duvido - sorrio, enrolando uma mecha do meu cabelo no dedo. - E sabe por que, minha querida? Quando você e eu fomos ao shopping, você chegou aqui com um brilho nos olhos, rindo e falando pelos cotovelos. Você não está rindo agora, Evie. E brilha tanto quanto uma lâmpada queimada. Alguma coisa me diz que você não queria sair com aquela mulher hoje - eu vejo quando algo se parte por trás dos seus olhos e o meu coração acelera. - O que me deixa com a pulga atrás da orelha, Evie. Eu tenho aqui uma garotinha que só costuma fazer o que quer. E de repente, ela está indo a passeios que não gostaria de ir...

- Evie! - Abigail aparece na sala com o telefone na mão, e Evie e eu estremecemos dos pés a cabeça. - Me desculpem, meninas. Eu não queria assustá-las. Evie, seu pai está perguntando por você. Quer saber como foi o passeio.

Eu abro a boca e todo o ar se esvai do meu peito lentamente. Então Max sabia? Ele sabia do passeio? Será que a ideia daquilo foi sua?

Em vez de me reaproximar de Evie como ele prometeu que faria, estava ajudando Lauren a entrar na vida dela?

Com um nó na garganta e lágrimas queimando os meus olhos, eu escuto Evie responder com monossílabos, entediada.

Abigail acaricia o meu cabelo e deixa a sala, a caminho do jardim. Sei que é sua hora especial do dia de regar as flores.

Evie ergue seus olhos azuis pálidos na minha direção. Ela para de arranhar o bico arredondado da bota no assoalho.

- Ela está aqui. Você quer falar com ela? Tudo bem. Até amanhã, papai.

Até amanhã?

Levanto o queixo tentando recuperar o meu orgulho, quando ela desliga o telefone sem passar a ligação. Max não quis falar comigo, então.

Foda-se aquele desgraçado.

Eu passo as costas das mãos pelos olhos, discretamente, antes que as lágrimas caiam.

- Meu pai pediu para avisar que ele tem um compromisso, hoje, e vai chegar bem mais tarde - Evie avisa, recolhendo sua bolsa do sofá.

- Ele não disse que horas?

Ela balança a cabeça. Parece querer me dizer mais alguma coisa. Em vez disso, suspira e se apressa na direção das escadas.

- Se eu fosse você não esperaria acordada, Chloe - avisa, subindo os degraus de dois em dois. - Eu já desisti há muito tempo.

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Por volta da meia noite, eu escuto um carro avançar lentamente pela entrada da casa.

Deitada na cama, eu espero em silêncio, longos e intermináveis minutos, até que ouço, finalmente, alguém subindo as escadas.

Max. Só pode ser ele.

Paro de respirar. Não faço o menor barulho.

A maçaneta se move. A porta está aberta, mas ele não entra.

Merda.

Eu afasto o cobertor e me sento na cama, com o coração disparado. Segundos depois, gira de novo a maçaneta. Então volta atrás. Escuto um suspiro irritado, um palavrão e então passos rápidos se afastando.

Eu fecho os olhos, engolindo o sabor amargo. Tenho vontade de ir até o escritório e provocar uma briga, dar um tapa nele, provocá-lo... qualquer coisa que exploda com aquele maldito iceberg que se interpôs entre nós. Mas não quero dar o braço a torcer. E sei que não é justo comigo porque estou certa e ele está errado.

Eu me deito de volta na cama, puxo o cobertor até o pescoço e desligo a luz do abajur, pensando em Max dormindo no sofá do escritório, tão sozinho quanto eu me sinto agora.

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