A Babá Perfeita romance Capítulo 62

- O que está fazendo?

- Mandando mensagem para o Max.

- Ah, ótimo - Judith responde, sentada ao meu lado no banco de trás do carro. Ela está usando uma blusa vermelha muito bonita, que parece um lenço e ressalta o bronzeado da sua pele. O vento entrando pela janela bagunça o seu cabelo, mesmo que ela insista em colocá-lo atrás das orelhas. - E o que vai dizer a ele exatamente?

- Nada demais, você sabe... "Querido, raptei as crianças. Quero um resgate de cem mil dólares" -eu dou de ombros.

- Um milhão - ela sorri de canto, piscando um olho castanho. - Ninguém, em sã consciência, pediria cem mil por duas crianças ricas, Chloe. Não seja amadora.

Nós duas caímos na risada juntas. Judith me fala um pouco sobre o filme que escolheu para vermos, uma animação com princesas e animais falantes da Disney que as meninas irão adorar. Parece super empolgada, mas eu fico consultando o relógio o tempo todo, preocupada com o horário. Por isso, fico aliviada quando Javier me avisa que iremos pegar uma rota mais rápida que nos fará chegar ao cinema em menos de dez minutos. Graças a Deus!

Olhando a cabecinha loura de Maisy em meu colo, sou invadida por uma onda de ternura que mais parece uma âncora levando o meu coração cada vez mais para baixo. Como Max pode acreditar que eu faria mal a essas crianças? Ou que eu cometeria qualquer ato de imprudência capaz de colocar a vida delas em risco? 

Sua falta de confiança em mim e na minha capacidade é a única coisa, nesse momento, capaz de destruir o nosso relacionamento. E eu espero fazê-lo entender isso de uma vez por todas. Odeio ser a pessoa que diz que os fins justificam os meios, mas no fim das contas, é isso o que está para acontecer. Ou pelo menos é o que eu espero. Sei que Max vai estar chateado quando voltarmos para casa, mas se não for capaz de superar suas frustrações, só lamento por ele.

Arrisco uma espiada em Evie do meu outro lado. Ela nem percebe que está sendo observada. Tem os olhos grudados na janela o tempo todo e não disse uma única palavra. Tudo o que fez foi vigiar a escuridão lá fora. 

- Evie, está tudo bem? - sussurro, me inclinando na direção dela.

Ela nem se vira para me olhar. Apenas suspira baixo como resposta. Então encosta a testa contra o vidro e, pelo reflexo, eu a vejo fechar os olhos como se estivesse dormindo.

Lidar com Evie é como jogar um jogo de tabuleiro. Toda vez que acho que estou a um passo de conseguir alcançar o objetivo, a sorte muda e as cartas dizem "volte duas casas". E lá estou eu de novo, onde comecei.

Eu enfio uma mecha do cabelo atrás da orelha e tento olhar somente para a frente a partir de agora. Pelas previsões de Javier, estamos chegando a qualquer momento. 

- É uma sorte Javier conhecer um atalho que nos faça chegar a tempo - observo as construções inacabadas e os prédios cinzentos no caminho. É um lugar horrível, mas a falta de trânsito realmente é um bônus. 

Jud assente com um brilho nos olhos.

- Meu marido é genial, pode dizer. 

- Concordo. Max tem muita sorte em ter Javier como motorista. 

- Mais sorte ainda foi o Carter ter saído no meio do expediente dele- Judith me olha com as sobrancelhas arqueadas. - Você entendeu alguma coisa?

- Não.

- Ele foi levar o patrão - Javier justifica.

- Mas por que motivo Carter acompanharia o patrão até a empresa? Ele segurança, não motorista - ela raciocina.

- Falta muito? - pergunto a Javier, olhando a hora no celular outra vez.

Ele toca o quepe com os dedos.

- Não. É só dobrar a próxima esquina e...

Um carro preto surge do nada e atravessa o cruzamento bem na nossa frente. Javier xinga em espanhol e pisa fundo, parando o veículo com um solavanco. Eu me agarro no encosto do motorista com uma das mãos e, com a outra, protejo Maisy de rolar para o chão do carro. 

Meu coração dispara, eu mal posso respirar. Meu Deus! 

- Evie, você está bem? - seguro o ombro da menina, ainda sem me recuperar do susto. Ela balança a cabeça, várias vezes, engolindo em seco. Seus olhos azuis dobraram de tamanho e estão repletos de lágrimas. - Não fica assim, meu amor. Está tudo bem agora. Nós estamos bem, não precisa... 

A porta ao lado de Judith é aberta com um rompante. Eu ouço gritos histéricos e vozes alteradas. Evie se encolhe ao meu lado.

Ao me virar para ver o motivo da confusão, alguma coisa dura e pesada cai sobre a minha cabeça e eu não vejo quem era.

Eu não vejo mais nada.

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Abro os olhos e minha cabeça lateja em meia dúzia de pontos diferentes.

Estou sentada em uma cadeira. Há uma pressão dolorosa ao redor dos meu pulsos. Olho ao redor, mas a escuridão não me permite enxergar nada dentro dela. O que está acontecendo? Que lugar é esse? Onde estão Judith, Javier e as meninas? Pouco a pouco, o medo vai me invadindo, penetrando a minha alma, enquanto lembro dos últimos acontecimentos dentro do carro.

- Por que não acendemos a luz? - uma voz sussurra, atraindo a minha atenção no escuro.

- Ela disse para não acender. Pode chamar a atenção de quem está passando lá fora.

- É mesmo? E quem vai resolver dar uma voltinha a noite nesse inferno, me diz?

De repente eu reconheço ambas as vozes. E, mesmo ainda sem saber direito o por que, eu sinto vontade de vomitar.

Engulo em seco. A luz acende e, então, eu sinto o meu coração parar de bater.

- Bu, Chloezita! - grita Judith com um sorriso perverso - Nós pegamos você, não foi mesmo? Pegamos você de jeito. Olha a cara dela, Javier. Parece até uma ratinha assustada, está morrendo de medo.

Eu olho de um para o outro sem saber o que dizer. Minha boca parece seca, a língua pastosa. O aperto gelado do medo na minha garganta transforma o gosto da saliva em algo ácido e horroroso.

- Jud, eu não estou entendendo. O que houve? Que brincadeira é essa?

- Não é uma brincadeira - ela nega lentamente com a cabeça. - Tem uma pessoa aqui que quer falar com você.

Ela aponta para uma parte do galpão onde a luz não toca. Dela sai uma outra figura. Eu ainda não havia me dado conta da sua presença, até o momento, mas assim que ela deixa as sombras é impossível não reconhecer o seu rosto. Os olhos azuis frios e impassíveis, o sorriso congelado, a beleza deslumbrante. 

- Liv? - minha boca se abre em uma expressão de horror. A minha cabeça gira, dá um nó.

- Surpresa, Chloe? - Liv Lancaster, em carne e osso, vem se aproximando. Sua expressão é quase serena, mas não esconde o brilho da maldade em seu olhar. - Não tanto quanto eu quando descobri que estava transando com o meu marido, é claro. Sabe, quando eu não coloquei você lá dentro, eu não imaginava isso.

As palavras dela me causam um desconforto.

- Como assim me colocou lá dentro?

- Max estava se tornando difícil, se recusando a me dar aquilo o que eu queria. Achei que ele precisava de um empurrãozinho - Liv sorri, pegando uma mecha do meu cabelo entre os dedos e olhando com desprezo. - Eu precisava de alguém que conquistasse sua confiança. Alguém acima de qualquer suspeita. E quem melhor do que uma jovem, doce e inocente babá?

- Você é horrível - eu murmuro, perplexa.

Liv suspira.

- Judith!

Eu olho em volta e percebo que Judith sumiu. Minha pulsação dispara. Onde ela foi? Logo depois, a cozinheira reaparece carregando Maisy ainda adormecida em um dos braços e segurando Evie pela mão.

A expressão de Evie destrói meu coração em pedaços.

- Evie, você está bem?

Ela faz que sim com a cabeça. Seus olhos são vazios, desprovidos de vida ou esperança. Isso acaba comigo. Prefiro os rompantes de raiva, os surtos de mau humor de Evie a vê-la desse jeito.

- A mudinha é pesada - Judith resmunga.

Liv manda a capanga colocar Maisy deitada no chão, quase em frente a minha cadeira. Sem esperar uma ordem, Evie solta a mão da morena e se senta ao lado da irmã. Ela puxa a cabeça de Evie para o seu colo e acaricia o seu cabelo, delicadamente. 

Sinto uma pontada dolorosa no coração. Assisto a cena, mortalmente arrependida de ter ficado contra Evie sobre o incidente na piscina. Está claro que ela ama a irmã mais do que qualquer outra pessoa no mundo. Eu nunca deveria ter desconfiado dela.

- Vou deixar as duas aí - Liv avisa, olhando diretamente para mim. - Assim, se você se sentir inclinada a algum tipo de ato heroico, Chloe, vai ter um lembrete de quem irá sofrer as consequências dos seus erros.

Eu trinco os dentes. Essa mulher é um demônio, Max tinha toda razão. Liv Lancaster é um ser humano incapaz de amar ou pensar em alguém além de si mesma. Eu tenho pena das suas filhas, agora mais do que nunca.

- O que vai fazer? - pergunto, enojada. - Vai matar as suas duas filhas para me punir?

Ela sorri, diabólica.

- Você acha mesmo que eu faria mal as minhas próprias filhas?

- Você desapareceu da vida delas por dois anos. Acho que posso esperar qualquer coisa vinda de você.

Liv contrai os lábios. Parece pensar em uma boa resposta. Talvez uma mentira que esconda suas verdadeiras intenções.

- Você está enganada. Max fez sua cabeça, é claro. Persuadiu você contra mim.

Que desgraçada.

- E ele mentiu?

- Digamos que ele deturpou a verdade - ela aponta um dedo para mim, andando lentamente na minha frente. - Eu era uma garota jovem e bonita, com futuro promissor, quando me casei com ele. Eu entreguei a ele... tudo. Então ele partiu meu coração.

- Partiu como?

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