RAVEN
Vivem escondidas entre essas montanhas, caçando e vivendo da natureza, saqueando comboios e viajantes, disfarçadas de ladras para roubar o indispensável e sobreviver.
A verdade é que é uma vida decadente, mas suponho que isso seja o karma, embora aqui só restem descendentes das verdadeiras assassinas e culpadas pelos massacres.
— Já acordou? Vamos revisar seus ferimentos — a voz da anciã que tem cuidado de mim todo esse tempo me tira dos meus pensamentos.
Ela se aproxima com seu cajado, e dá pra ver que foi uma mulher muito impetuosa na juventude. Chamam ela de Sacerdotisa, e parece uma bruxa com muito conhecimento e poder.
— Obrigada, sim, hoje estou me sentindo melhor — respondo com a voz rouca, ainda me recuperando dos estragos no meu corpo.
Na verdade, se não fosse por aquelas mulheres fortes que me tiraram do fundo do penhasco e pelo sangue poderoso dessa velha, acho que eu não teria conseguido.
— Espero, por seu bem, que nunca mais faça uma loucura daquelas, olha que já tô com o cajado pronto pra dar uma boa cacetada na sua cabeça — me ameaça sentada na cama, ao meu lado, e eu abaixo o olhar, sem encarar seus olhos sábios cheios de rugas.
Tô envergonhada, mas só posso dizer que tinha chegado ao meu limite. Fui covarde e fraquejei, pela primeira vez na vida.
— Raven, já que está melhor, quer tentar o que conversamos? Posso te ensinar muitas coisas...
— Não vou ser usada de novo — interrompo, porque estou grata, mas tem coisas que vou deixar bem claras desde o começo.
— Não sei o que a Deusa disse pra você. Na verdade, nem acho que eu seja a pessoa que ela espera. Em todo caso, não vou mais ser a ponta de lança de ninguém. Não coloquem suas esperanças em mim.
— Espera, Raven — ela coloca sua mão quente sobre a minha.
— Calma, pequena. Sei que você sofreu muito. Ninguém vai te obrigar a nada, minha menina. Eu vou te ensinar, se você quiser aprender. De qualquer forma, vai ter que conviver com esse poder, e já que teve coragem de libertá-lo, Raven, agora precisa dominá-lo ou vai morrer se ele te vencer.
— O que quiser fazer com o conhecimento que eu te oferecer é decisão totalmente sua. Você não deve nada às Centúrias, nem a ninguém. Minha missão é só te guiar pelo caminho, mas o final... só você pode escolher.
Fico olhando pra ela, tentando encontrar alguma armadilha nas palavras.
Que outra chance vou ter na vida como essa? Nenhuma.

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