Damon
Eu não sei quanto tempo fiquei vagando pelas ruas. O tempo pareceu se dissolver em meio aos meus passos pesados, ao vento frio que cortava minha pele e ao caos que tomava conta da minha mente. Mas, eventualmente, meus pés me trouxeram de volta. Para ela.
Quando entro em casa, o silêncio me atinge primeiro. O tipo de silêncio que pesa, que machuca, que grita o que não foi dito. E então eu a vejo. Encolhida no sofá, os joelhos dobrados contra o peito, os braços envolvendo o próprio corpo como se tentasse se proteger do que quer que estivesse sentindo. Os longos cabelos castanhos caem sobre o rosto, e sua respiração é profunda e irregular. Ela cochilou.
Pulga choraminga aos meus pés, sua pequena cauda abanando hesitante, como se soubesse que algo estava errado, mas sem entender exatamente o quê. Me abaixo e afago suas orelhas, sentindo seu corpo quente contra minha mão.
Caminho até o sofá e me sento ao lado dela com cuidado, afundando no estofado sem fazer barulho. Minha respiração treme quando solto o ar devagar. Meus olhos percorrem o rosto de Violet. Vermelho. Inchado. Ela chorou. Muito. E o pior? Sei que fui a razão disso.
Ela é a mulher mais bonita que já vi. Sempre foi. Mas vê-la assim, vulnerável e abatida, me parte ao meio. O peito dói. Uma dor surda, profunda, arrastando tudo que sinto para um turbilhão do qual não consigo escapar.
Eu deveria acordá-la? Perguntar se mudou de ideia? Ou simplesmente aceitar que talvez tudo isso tenha sido um erro? Mas como poderia ser um erro quando tudo que vivi ao lado dela foi real?
Minhas mãos se fecham em punhos sobre as coxas. Quero tocá-la. Passar os dedos pelos seus cabelos, senti-los deslizar entre meus dedos, trazê-la para mim e garantir que, não importa o que aconteça, ela não precisa enfrentar nada sozinha. Mas a verdade? Talvez seja eu quem esteja sozinho agora.
Engulo em seco, o nó na garganta apertando cada vez mais. Porque a maior de todas as perguntas ainda ecoa na minha mente.
Será que ela ainda me quer?
Violet abre os olhos vagarosamente, e no instante em que sua visão foca em mim, vejo o brilho das lágrimas inundando seu olhar. Meu peito aperta. Ela pisca algumas vezes, como se estivesse tentando se certificar de que eu realmente estou ali.
E então, sem hesitar, ela engatinha até mim, se lançando contra meu corpo.
Meus braços a recebem antes mesmo que eu possa pensar. Minhas mãos se fecham ao redor de sua cintura, puxando-a para mais perto, enquanto seu rosto se afunda contra meu peito. Eu respiro fundo, sentindo o cheiro dos seus cabelos, sentindo sua presença tão perto de mim que é como se meu coração finalmente voltasse a bater no ritmo certo.
Completo.
É assim que eu me sinto ao lado dela. Mesmo com toda a dor. Mesmo com as cicatrizes que essa noite nos deixou.
Sinto seu corpo tremer contra o meu, e então, em meio a um soluço engasgado, ela sussurra:
— Me desculpa...
Minha garganta se fecha. Quero dizer que está tudo bem, que já passou, mas não posso. Não seria verdade. Apenas aperto minha mão em suas costas, esperando que ela continue.
— Eu fui tão estúpida — ela murmura contra minha camisa. — Eu fiquei tão presa no medo de me perder que nem percebi que, no processo, eu estava te perdendo. Eu não quero isso, Damon. Eu não quero te perder.
Fecho os olhos por um instante, sentindo um alívio doloroso correr pelo meu peito.
— Então pare de tentar me afastar — digo, minha voz saindo mais rouca do que eu pretendia.
Violet se afasta o suficiente para me olhar nos olhos, suas mãos deslizando para os meus ombros.
— Eu preciso de você — ela sussurra. — Preciso de nós.
Engulo em seco, buscando as palavras certas.
— Eu apoio você, Violet. Seja qual for a sua decisão. Mas só posso fazer isso enquanto você me mantiver na sua vida. Eu não vou ficar lutando por algo sozinho.
Seus olhos marejam de novo, mas dessa vez, há determinação neles.
— Você nunca mais vai precisar lutar sozinho — ela diz, com a voz firme.
Eu seguro seu rosto entre minhas mãos, forçando-a a me encarar. Não posso simplesmente aceitar suas palavras e fingir que tudo está resolvido.
— Violet, isso não pode acontecer de novo — minha voz sai firme, mas baixa. — Eu não posso ficar à mercê das suas dúvidas. Eu não sou um porto seguro onde você pode ancorar quando quiser e partir quando sentir necessidade de se reencontrar.
Ela pisca, como se minhas palavras fossem um golpe certeiro. Mas eu continuo, porque ela precisa ouvir.
— Você precisa decidir. De verdade. E, mais do que isso, precisa entender que eu não sou seu inimigo. Não pode mais esconder coisas de mim, não pode mais tomar decisões sozinha achando que está me protegendo ou me poupando. Porque não está. Você está nos machucando.
Ela balança a cabeça, lágrimas escorrendo por seu rosto.
— Eu sei. Eu sei que errei… — sua voz falha, mas ela inspira fundo, como se estivesse reunindo coragem para continuar. — Eu estava com medo de admitir, mas eu não preciso descobrir nada sozinha. Eu já sei quem eu sou. E sei que sem você… nada disso faz sentido.

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