O som da chuva caindo, o vento frio e a respiração pesada de Lis eram as únicas coisas presentes na varanda. A jovem mantinha-se sentada abraçando as próprias pernas ao tentar conter o frio que sentia ao mesmo tempo em que dizia todos os impropérios conhecidos ao olhar de relance para Michael, o qual continuava deitado em sua cama. Ela havia gritado o máximo que conseguira e ao perceber que não iria surtir efeito, tentou quebrar o vidro sem sucesso. Sua mão doía, seu corpo tremia e seus olhos estavam pesados. Em algum momento, desistiu de tentar se manter acordada, entregando-se ao frio. Seu corpo pendeu para o lado, caindo na madeira molhada pela chuva, e somente então a porta da varanda foi aberta.
Michael a olhou durante alguns instantes antes de se abaixar e ergue-la em seus braços. Ele nada esboçou ao coloca-la na cama e a cobrir, sem tirar suas roupas molhadas, para ele aquilo era suficiente.
— Atreva-se a falar novamente que sou um inútil – murmurou ao olhar para o corpo dela pressionando suas unhas contra as palmas de suas mãos antes de sair do quarto.
***
A primeira coisa que Lis fez ao abrir os olhos, foi gemer de dor ao tentar se levantar da cama ao colocar a mão em sua cabeça. O seu corpo doía, seus olhos ardiam e sentia o seu corpo quente. Ela ainda conseguia sentir o lençol da cama molhado e frio.
— Aquele desgraçado – disse ao gemer tentando sair de baixo da coberta, contudo ao colocar os pés para fora da cama escutou a porta do seu quarto ser aberta. Olhou na defensiva para Michael. – O que vai fazer agora?
— Foi apenas água – Michael deu de ombros – Não fique agindo como se eu tivesse a torturado. Acredite, não sabe o que é tortura – Seu tom de voz modificou-se ao manter o olhar perdido por uns segundos.
— O que pretende com tudo isso? Se for que eu desista, basta garantir que minha família permaneça viva que eu desapareço de sua vida. Se você fosse a última pessoa no mundo, eu me mataria para não ficar com você. Não faço questão de um titulo vazio e muito menos de pertencer a sua família quebrada.
Como resposta, Michael gargalhou ao se aproximar dela tocando o seu rosto com delicadeza. Seus olhos se mantiveram fixos no semblante de sua noiva.
—Palavras vazias não passam de desculpas tolas – Disse ao modificar a sua expressão, encarando-a com olhos vazios – Comporte-se como um cachorro, siga minhas instruções e sofra em silencio. É o mínimo que pode fazer para compensar seu comportamento lascívio e despudorado. Pode pensar em mim como alguém que preza pelos bons costumes.
— Eu já lhe disse que não fiz nada – Falou ao perder a sua paciência, mas não demorou para Michael segurar o seu cabelo com força.
— Não suporto pessoas como você. E por isso me divirto brincando ao lhe maltratar. Deveria se arrumar ou vai perder a aula – Sorriu ao soltá-la. – Tenha um bom dia, noiva – Piscou ao se afastar assobiando.
***
Lis manteve a sua cabeça baixa ao entrar no carro, não falou com Sebastian e muito menos demonstrou o quanto desconfortável estava. Manteve-se em silêncio com os olhos fechados tentando controlar a si mesma. Suas mãos tremiam ao segurar a bolsa em seu colo ao mesmo tempo em que sentia o seu corpo fraco.
Eu deveria estar no médico.
Disse a si mesma confusa com seu próprio comportamento. Ela desejava mostrar ser forte para o sádico que a atormentava.
—Que merda estou fazendo? – Sussurrou ao suspirar assim que o carro parou em uma vaga reservada para eles. Sebastian esperou paciente que Lis tivesse alguma reação.
— Já chegamos – Anunciou ao olhar pelo retrovisor – Algo aconteceu?
— Eu acho que preciso ir ao médico – Ergueu a cabeça exibindo o rosto avermelhado e a respiração ofegante. E então sorriu esboçando uma expressão que fez Sebastian grunhir imerso em raiva. O segurança respirou fundo recobrando a sua calma costumeira antes de ligar o carro novamente, seguindo para o hospital mais próximo. As mãos dele seguravam o volante com força tentando não olhar para a expressão dolorosa na face da jovem. – Foi Michael?- Indagou ao ultrapassar um veículo. – Foi ele, não foi?
— E faz alguma diferença? Foi apenas uma chuva – Falou fraca recriminando a si mesma ao mesmo tempo em que pensava em como se vingar do príncipe sádico. – Mas eu realmente o odeio, sabia? – Disse antes de desmaiar.
Sebastian acelerou o máximo que conseguiu, parando o carro na entrada do hospital minutos depois. Abriu a porta do carro retirando Lis, carregando-a em seus braços. Ele não se importou se alguém a reconhecesse ou as consequências que seu ato desesperado poderia trazer. Gritou por ajuda assim que passou pela porta da emergência, entregando-a para um dos enfermeiros, colocando-a em uma cadeira de rodas. Não demorou para perde-la de vista e começar a preencher os papeis, longos minutos depois, um médico com sorriso gentil aproximou-se dele.
— Guardião da senhorita Muller, correto? – O médico perguntou ao encarar Sebastian com suavidade – Ela está bem – Disse após o segurança assentir – Estava com uma febre alta que foi controlada e agora está descansado após ser medicada. Gostaria de vê-la? – Sebastian assentiu ao manter o seu olhar entristecido ao sentir-se culpado pelo o que acontecera. Seguiu o médico até pararem em frente a um quarto particular, abriu a porta deparando-se com um elegante quarto repleto de aparelhos modernos. Aproximou-se da cama lentamente, segurou a sua mão delicadamente.
— Desculpe – Murmurou ao olhar para o rosto ainda avermelhado da jovem adormecida.
Contudo, a calmaria logo foi destruída, horas depois, pela chegada de repórteres em frente ao hospital. Alguém do hospital havia a reconhecida e postado uma foto dela nos braços de Sebastian na entrada do hospital. E não demorou para a porta do quarto ser aberta por Michael.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Amor Sombrio