Amor Sombrio romance Capítulo 42

Lis respirou fundo antes de abrir a porta do quarto, surpreendendo-se ao ver um dos empregados do palácio com um envelope em mãos.

― Para a senhora – Disse calmo ao lhe estender o pacote. Lis segurou e no momento que leu o remetente, gargalhou. Abriu o envelope encontrando inúmeros documentos de todos da família real e qualquer pessoa próxima. Klaus havia enviado, como prometido e mais rápido do que ela esperava. Cada barulho vindo do banheiro a fazia hesitar antes de ler, e se viu andando em direção ao banheiro. – Vou andar no jardim um pouco. – Gritou para que Michael escutasse, e não esperou por uma resposta antes de correr para a porta. Ela estava ansiosa demais.

Seu coração palpitava violentamente, suas mãos suavam e sua respiração estava ofegante quando desceu as escadas, enquanto abraçava o envelope contra o seu corpo. Olhou para os lados, inquieta, com receio de que alguém pudesse encontra-la e tirar aquela pasta de sua mão. Ao avistar uma das empregadas foi em sua direção.

― Oi, desculpa interromper, mas conhece algum lugar em que eu possa ver algo sem ser interrompida? – A forma educada e simples de Lis fez a mulher sorrir antes de pedir para segui-la. Lis nada disse ao seguir a empregada por um extenso corredor antes dela abrir uma porta.

― Esse cômodo costumava ser um escritório do segundo príncipe, mas não é mais usado. Ninguém virá perturbá-la, senhorita e futura viscondessa. – Falou ao fazer uma leve reverencia antes de sair correndo. Lis não teve tempo de agradecer e ao olhar em volta, surpreendeu com o quão limpo tudo se encontrava. A mesa estava vazia assim como as estantes. Ela deu de ombros ao fechar a porta, trancando-a em seguida. Precisava de tempo para analisar tudo o que Klaus tinha lhe enviado.

Sentou na cadeira atrás da mesa e quando tirou os papeis da pasta, engoliu em seco. O primeiro documento era um relatório sobre a família real Stone detalhando a vida politica do rei e de Glória.

― Rainha Glória. Manipuladora, cruel e calculista. Não se importa em usar seus filhos para ganhos políticos. – Leu baixo assimilando tudo – Usou Augusto Stone para casar com Regina em busca de apoio. Estava prestes a usar Michael para se casar com uma mulher quando ele se comprometeu com Susana, uma mulher sem status ou dinheiro. – Piscou consciente do que estava em sua frente. – Se isso tudo estiver correto, a decisão dele ter sido enviado para o exercito foi dela e não do rei. – Murmurou pensativa ao continuar a leitura, a qual falava apenas sobre algumas técnicas usadas por Glória no passado para manipular as pessoas. Passou para o próximo relatório com lentidão – Rei Leopold Stone ama o seu povo, mas é facilmente manipulado por Glória. Foi forçado a se casar com ela quando tinha vinte anos. É alérgico a nozes. Como ele sabe até a alergia? – Se viu perguntando antes de retomar a leitura. As informações referentes ao rei eram todas relacionadas à Glória e não conseguiu ver nada que pudesse ser útil até o momento em que viu o nome de Michael. – Enviou o filho para a guerra. Parecia disposto a ceder o trono para o príncipe Michael antes dele ficar noivo de Susana. – Lis olhou todos os relatórios até encontrar o de Michael. – Segundo príncipe, personalidade rebelde e agressiva. Foi enviado para a guerra depois de seu noivado com Susana ser descoberto. Susana Telford, antiga namorada do primeiro príncipe, Augusto. – Lis parou de ler, confusa. – Isso é mentira, certo? Será que Michael sabe sobre isso? Ele não deve saber e não irei contar. Ela é o primeiro amor dele ou algo assim. – Decidiu ao continuar sua leitura, contudo ao ler sobre Philipe se viu surpresa. – O filho preferido da rainha Glória. Não parece ter ambição de tomar o trono, mas gosta de sadomasoquismo.

Lis abaixou os relatórios ligeiramente cansada. Em cada página, parecia ter algum segredo nas entrelinhas, algo que não conseguia desvendar por mais que continuasse a ler. Encostou a sua cabeça na mesa, respirando fundo.

― O que eu não consigo enxergar? – Se questionou sem perceber a porta sendo aberta.

― Que tem um homem lindo em sua frente. – Michael falou ao fechar a porta atrás de si, atraindo a sua atenção. – A empregada me disse que estava aqui quando perguntei por você. Destranquei com a minha chave. E então, o que é tudo isso? – Apontou para os papeis em cima da mesa com o olhar concentrado. Sua expressão séria a fez o encarar, engolindo em seco.

― São documentos que Klaus me enviou. Ele disse que iria me ajudar. – Michael assentiu ao andar em sua direção.

― Posso ver ou são secretos? – A sua pergunta à fez se recordar de Susana. Ela não queria que ele soubesse e ficasse triste.

― Apenas um que não pode ver – Decidiu com firmeza. Michael sorriu levemente ao assentir ao sentar na beirada da mesa.

― Entregue os que eu posso ler – Pediu com a voz ligeiramente beirando a uma ordem, o que a fez sorrir. Lis tinha a sensação que não importasse o que Michael falasse, ainda soaria como uma ordem. O segundo príncipe leu todos rapidamente – Seu primo é realmente assustador. Tem informações aqui que ninguém fora do palácio deveria saber.

― Ele sempre foi determinado. – Michael concordou – Mas não importa o quanto eu leia, sinto que estou deixando escapar algo importante.

― O que está escrito aqui não são informações banais. Tem em mãos informações que pode usar para separar todos aqui. Tem informação sobre o que minha mãe gosta e não gosta, ou seja, pode manipulá-la a vontade assim como o meu pai. O fato de falar as preferencias dos meus irmãos é a mesma coisa. E tem algo ainda mais importante – Sorriu esboçando uma triste expressão. – Minha mãe foi a culpada pela minha ida a guerra para deixar o trono para Philipe.

― Como chegou a essa conclusão?

― Ele é o seu filho favorito, Regina está presa por traição influenciando na confiança em Augusto e eu sou a ovelha negra. O único que sobra é ele. Ela foi realmente esperta.

― Não pode estar falando sério. Não tem como uma mãe fazer isso com seus filhos.

― Parece que não percebeu quem é minha mãe – Meneou a cabeça. – É melhor destruir esses documentos ou guarda-los muito bem – Devolveu para ela. – Como trouxe informações vou realizar seu desejo. – Diante da expressão confusa dela, sorriu – Foi a única dizendo que queria um encontro normal, estou errado?

Lis negou ao sentir seu rosto avermelhado.

― Consegue se arrumar em trinta minutos?

― Preciso de apenas vinte – Garantiu ao se levantar fazendo ele sorrir. Por um segundo, quase esqueceu o documento de Michael em cima da mesa. Pegou todos os relatórios, guardando dentro da pasta. – Vou subir. Onde te encontro?

― Não se preocupe com isso, apenas se vista para me conquistar – Piscou travesso antes de vê-la lhe dar as costas e seguir em direção à porta.

― Michael – O chamou sem se virar. – Se precisar voltar a ser o mesmo monstro de antes, não precisa se preocupar, eu sei quem você é agora. – Disse antes de sair do cômodo, o deixando surpreso.

― Se continuar falando coisas assim, posso acabar sendo conquistado cada vez mais rápido – Sussurrou ao sorrir antes de pensar sobre tudo o que havia lido. – Acho que eu devo continuar os meus planos, um pouco mais rápido. Quero destruir todos antes de ter uma vida normal. Isso seria justo. – Pegou o celular em seu bolso, enviando uma mensagem. – Agora vamos começar de verdade a destruição. – Sorriu perverso.

***

Lis sorriu assim que sentiu a mão de Michael em suas costas. Ele estava a guiando pela cidade, enquanto comentava sobre a história tanto local quanto de sua infância. Ela não conseguia conter a felicidade que sentia ao ter Michael ao seu lado daquela forma. O príncipe mantinha uma atenção redobrada ao caminhar com Lis pela rua mesmo que estivessem sendo seguidos por seguranças.

― Em nenhuma dessas histórias estava com seus irmãos? – Lis se viu perguntando assim que pararam em frente a um parque.

― Não. Sempre tivemos gostos diferentes. – Falou ao dar de ombros. A verdade é que seu pai evitava que eles saíssem juntos por medo de algo acontecer quando eram pequenos. Na visão do rei, se Augusto desaparecesse sempre teria Michael e Philipe. Ele não iria sacrificar todos os três filhos de uma única vez.

― Deve ter sido um pouco solitário.

― Nem tanto. – Olhou para o lado ao ver algumas pessoas começarem a se aglomerarem. – Lis, tem alguma coisa que deseja fazer? Algum lugar que queira ir.

― Sempre quis andar de mãos dados no parque e também comer sentada no parque.

Michael olhou para Lis segurando um sorriso antes de menear a cabeça.

― Isso é um pouco diferente do que tinha imaginado – Coçou a cabeça antes de segurar na mão de Lis – Vamos dar um passeio no parque, poodle. – Sorriu ao puxá-la em direção a entrada. O parque principal encontrava-se vazio naquele horário, contudo a presença do príncipe fez com que muitos se aglomeram-se para tirar fotos e olhar o segundo príncipe mais de perto. – Qual a graça de um encontro assim?

― É algo normal. As pessoas conversam sem máscaras e sem pressão. São apenas verdadeiras.

― Não acho que um lugar influencie tanto – Murmurou antes de ser puxado por ela em direção a uma parte do parque que tinha sombra dada as arvores. Ela se sentou na grama sem se preocupar em sujar o seu vestido amarelo e fez um sinal para que Michael fizesse o mesmo. – Quando retornarmos ao palácio, tudo vai mudar. – A avisou assim que se sentou ao seu lado.

― O que está falando?

― Lis, sabe que quero destruir tudo, não é? – Ela assentiu. – Não sou do tipo que vai pedir perdão quando você perceber o que vai acontecer, mas isso será necessário.

― Não estou entendendo. – Murmurou.

― Hoje vai começar algumas rebeliões pelo país.

― Como sabe sobre isso?

― Sou a mente por trás de tudo. - Lis ficou em silêncio, encarando o homem sentado ao seu lado, buscando qualquer indicio de que mentia. – Meus pais me transformaram em um monstro por um trono e então vou tirar isso dele. Vou fazer com que a monarquia seja derrubada. – Declarou firme ao virar o rosto, e encarar Lis. – Se quiser fugir de mim, a hora é agora. Essa é a única vez em que permitirei que vá embora, Lis Muller. Sou um monstro que não se importa em destruir tudo, e se ficar ao meu lado, prometo que não se arrependerá.

― Michael – Murmurou ao se lamentar – Não pode fazer isso. Vai machucar pessoas inocentes.

― Acho que ainda não entendeu. Eu estou em uma guerra, Lis. Uma guerra remete a sacrifícios. Meu pai prometeu que me enviaria para o exército novamente, se eu não me casasse. Entre você ou o inferno, você foi à escolhida. Esse foi o meu motivo para ter aceitado o nosso noivado tão facilmente. Meu único objetivo nessa guerra é destruir o rei e essa monarquia patética. E se algumas pessoas tiverem que morrer, eu rezarei em seus túmulos depois e quando chegar a minha hora, não me importarei em ir para o inferno.

― Isso... É doentio. Não pode fazer isso.

― Já começou. – Suspirou – Se quiser ir embora, posso organizar um avião para você e sua família, mas não tente me impedir.

― Vai ficar aqui?

― Não a terei ao meu lado, então ao menos verei tudo ruir de camarote. Quero ver o desespero dele.

Ela sabia que deveria fugir dele. Ela sabia que deveria contar as pessoas sobre o que o príncipe estava fazendo, mas ainda assim se viu concentrada na voz dele repleta de angustia. Sem pensar, o abraçou trazendo a sua cabeça para seus seios, apoiando-o. Acariciou seus cabelos, ciente de que estavam tirando fotos.

― Não posso te deixar sozinho. – Confessou – E ainda preciso te conquistar, não é? Mas eu peço que não faça isso. Pessoas podem morrer. Pessoas inocentes.

Michael desejou naquele momento, ter conhecido Lis anos atrás. Antes de Susana, antes mesmo de ter ido para o exercito.

Se eu tivesse, teria perdoado a minha família por tudo e seguido em frente com ela ao meu lado, mas é tarde demais.

― Eu não posso mais. O grupo que está a frente disso, não vai parar por nada. Eles desejam o fim dessa monarquia mais do que eu, Lis. As cartas já estão na mesa. Sinto muito – Murmurou ao sentir as mãos dela em seu cabelo – Mas é o certo a se fazer mesmo que me odeie.

― Seria difícil te odiar – Respondeu baixo.

― Mas farei o possível para que inocentes não sejam feridos. – Disse consciente do que estava dizendo. E ao erguer a cabeça viu o olhar de gratidão da mulher a sua frente.

Ser o demônio é mais fácil do que alguém gentil.

Comentários

Os comentários dos leitores sobre o romance: Amor Sombrio