Amor Sombrio romance Capítulo 41

O que eu deveria fazer?

Foi o primeiro pensamento de Lis assim que abriu os olhos, levantando-se da cama o mais silenciosa que conseguiu para não acordar Michael, que adormecia ao seu lado. Após ele contar tudo sobre Susana e o seu tempo no exercito, ela se viu tentada a desistir de ir embora e permanecer ao seu lado. O pensamento foi o suficiente para a fazer beijá-lo e acabarem dormindo juntos, novamente.

Suspirou assim que colocou os pés para fora da cama, sem se importar com a sua nudez. Ela não tinha tempo para pensar sobre isso quando sua mente trabalhava incansavelmente para encontrar uma forma de ajuda-lo e ao mesmo tempo não a tornar uma suicida por permanecer ao seu lado.

Ele provavelmente me atacou antes por achar que eu estava com o seu pai, o observando e tentando o controlar, e também devido ao seu transtorno pós traumático. Eu entendo agora o motivo dele não conseguir dormir com outras pessoas ao seu lado, por ter uma faca sempre perto de si e por estar tremendo quando atirou contra o homem que feriu Sebastian, mas se ele está tão quebrado, por que não tenta se curar primeiro antes de lutar contra o seu próprio pai?

Talvez o amor dele por Susana seja tão forte a esse ponto.

― O que diabos estou pensando? – Recriminou-se assim que parou no meio do quarto ao olhar para o príncipe adormecido. – Ele dormir dessa forma ao meu lado significa que confia em mim? – Murmurou querendo acreditar nisso antes de menear a cabeça e ir para o banheiro. Trancou a porta, desejando privacidade antes de se olhar no espelho. Seu rosto estava vermelho, e uma pequena marca de mordida poderia ser visível em seu ombro esquerdo. – Eu estou gostando dele, não estou? – Questionou-se ao abaixar a cabeça. Ela não queria gostar de alguém que ainda amava outra pessoa. Uma pessoa que havia se matado por amá-lo. – Ele nunca vai poder retribuir esse sentimento então o melhor é ir embora. Sem olhar para trás. – Decidiu ao erguer a cabeça, ignorando as lágrimas que começavam a descer pelo seu rosto. Abriu o chuveiro e deixou que suas lágrimas se misturassem a água, e quando finalmente saiu, envolveu o seu corpo com o roupão felpudo. Assim que abriu a porta, gritou sentindo o seu corpo ser puxado com força. – O que está fazendo? – Perguntou ao olhar para Michael. O príncipe sorriu levemente antes de mordiscar a sua orelha.

― Acordei e não estava do meu lado. Fiquei um pouco solitário, eu acho – Sorriu travesso ao cheirá-la – Deveria ter me chamado para tomar banho com você.

Lis respirou fundo ao tentar afastá-lo, sem sucesso.

― Se continuar me afastando sempre que transamos, vou começar a achar que sou algum brinquedo sexual – Gracejou.

― Isso provavelmente foi um erro – Se viu falando ao encará-lo. – Não posso continuar fazendo isso.

―Sobre o que está falando?

― Vou embora em pouco tempo. É melhor sermos um tipo de... aliados. E aliados não dormem juntos – Desviou o olhar ficando aliviada quando ele a soltou. – Bom, vou me arrumar e andar pelo jardim.

Como um bom soldado, Michael percebeu o modo como o corpo dela falava. A forma como seus olhos desviavam constantemente dos seus, seu corpo tenso, seus braços rígidos e sua respiração ligeiramente ofegante além dos olhos avermelhados.

― Falei sobre o meu passado e isso não parece ser o suficiente para você.

― A culpa não é sua – Lis se viu falando de costas para ele ao vestir um vestido por cima de uma lingerie simples. – A culpa é completa e totalmente minha.

― Sim, é sua. – Concordou ao cruzar os braços em frente ao seu corpo. – E o que pretende fazer agora?

― Ficar longe de Augusto, como pediu e ir embora em poucos meses. Desculpa. – Ela já estava indo para a porta quando Michael segurou o seu braço, forçando-a a encará-lo. – O que? – Perguntou tentando soar fria. Ela sabia que não poderia continuar ao lado do príncipe, já que finalmente aceitou seus sentimentos por ele. Ela estava apaixonada por ele. Apaixonada por alguém destruído e magoado. Alguém que provavelmente não poderia a amar.

― Confia em mim? – Ela assentiu – Se confia em mim, isso deveria ser o suficiente para ficar ao meu lado e parar de tentar fugir como um poodle medroso.

― Esse é o problema do poodle, Michael. Mesmo sentindo medo, eles latem o mais forte que conseguem, mas ainda assim fogem quando percebem estar em perigo.

― É isso que está fazendo?

― De certa forma – Sorriu sem graça. – Não tenho como brigar com um pitbull sempre – Suspirou – Pode me largar?

Ele se negou ao puxá-la de encontro ao seu corpo. Lis segurou-se para não abraça-lo, desistindo de seu plano de fuga ao sentir o seu cheiro.

― Por qual motivo realmente está fugindo?

Por alguns instantes, Lis se viu tentada a falar a verdade a ele, mas temeu a sua reação. O príncipe a sua frente estava destruído demais para acreditar em suas palavras. Acreditar que gostava dele mesmo que ele a maltratasse tanto.

Mas mesmo parecendo ser um monstro, me protegeu e ficou ao meu lado quando mais precisei.

―Uma vez, perguntei o que faria se eu me apaixonasse por você, e disse que iria me afastar, se lembra? – Michael ficou em silêncio a olhando sem ao menos demonstrar qualquer reação. – Parece que vai precisar me afastar de você, segundo príncipe. Eu estou gostando de você. – O encarou esperando que ele a soltasse, mas ele continuou a segurando – Agora é o momento em que vai me soltar e falar para eu me afastar.

Michael manteve seus olhos fixos em Lis buscando qualquer expressão que demonstrasse que mentia para ele, encontrando apenas sinceridade e tristeza em seus olhos. Mesmo que ele a encarasse tão ferozmente, ela se mantinha com a cabeça erguida, o encarando de volta. Ele jamais havia pensando em contar sobre sua experiência no exercito para ela e muito menos sobre Susana, contudo ele fez e ainda assim, ela continuou ao seu lado após o abraçar. O segundo príncipe sempre percebeu os sentimentos de Lis. Sempre percebeu a forma como ela o olhava, em como ela o desejava e em como ela era carinhosa.

― Não escondeu seus sentimentos muito bem. Eu sempre soube – Confessou ao dar de ombros. Durante aquele tempo, ele fingiu não ver por ser mais fácil em lidar com a situação. – Agora vai fugir assim? Eu pensei que fosse mais decidida.

― Espera que eu o conquiste por acaso? – Perguntou incrédula assim que ele a soltou. – Sei que ainda ama Susana, e não vou ficar em meio a isso.

― Está ao menos se escutando? Susana está morta. Deveria ter confiança para competir com memórias, mas acho que não tem. Poodles são realmente medrosos – Sorriu levemente exibindo suas covinhas. – Quando contei a minha história para você foi o mesmo que falar que eu estava preparado para você. Pode fugir ou tentar fazer com que eu me apaixone por você.

―Mas disse que jamais conseguiria fazer isso – Respondeu incerta sobre o que estava acontecendo.

― Também disse que iria afastá-la se falasse que gostasse de mim, mas vejo onde estamos. É sua decisão, não minha. – Ele lhe deu uma escolha, e ela percebeu com amarguro o quanto odiava a manipulação e inteligência do homem a sua frente. Michael August Stone sempre a fazia cair em sua armadilha. – Vou tomar um banho. Isso deve te dar algum tempo para decidir.

Lis viu a forma confiante com que Michael caminhou em direção ao banheiro, a fazendo praguejar alto. Ela sentia raiva pela forma como ele deixou tudo em suas mãos, como se dependesse apenas dela.

Michael entrou no banheiro sentindo o arrependimento surgir em seus pensamentos. Ele se viu como uma criança tola buscando um brinquedo que sabia que não poderia ter.

Eu deveria ter a deixado ir.

Mas ainda assim percebeu que não iria conseguir. Ele não queria vê-la longe dele e muito menos próxima de outro homem.

― Quando eu sair do banheiro, ela já deve estar longe – Sorriu sem graça diante do que fizera. Há muitos anos, não agia de forma impulsiva como um adolescente. A última vez que agiu daquela forma, foi quando pediu Susana em casamento sem considerar o seu pai como empecilho. – Se eu ficar com ela ao meu lado, vai ser o mesmo que aceitar as ordens do meu pai e aceitar o seu desejo de me destruir. Eu deveria ter ficado calado e facilitado tudo. – Suspirou.

***

No momento em que Michael abriu a porta do banheiro, ele a viu sentada na beirada da cama com o corpo ereto. Ela o olhou em um desafio silencioso.

― Imagino que esteja preparada para dar a sua resposta – Michael disse tentando não soar ansioso quando na verdade estava com medo. Medo de que ela o abandonasse.

― Você é realmente um cretino – Começou a falar sem esboçar qualquer reação – É o único que aceita a minha ajuda para depois recusá-la por ciúmes e agora espera que eu o conquiste? O que você é? O que você fez para ser conquistado? Não é como se tivesse sido um amor de pessoa ou demonstrado gentileza comigo sempre. – Michael estava prestes a falar algo quando ela ergueu a mão, pedindo que ele ficasse em silêncio – Estou dizendo que não deve fazer um pedido assim para alguém que maltratou. Você deveria ser gentil primeiro, demonstrar que não é sempre um monstro e dar algum sinal de que os esforços da pessoa não serão desperdiçados.

― Está querendo dizer o que com tudo isso?

― Que você precisa mudar a sua atitude se quiser que eu fique ao seu lado e o conquiste – Cruzou os braços em frente ao seu corpo, decidida. – Provavelmente vou me arrepender, mas se em dois meses não sentir nada por mim, vou embora.

Michael gargalhou ao encará-la.

― Você realmente é única. – A elogiou ao andar em sua direção, parando em sua frente enquanto tocava em seu rosto – Vou tentar o meu melhor para ser conquistado por você – prometeu antes de a beijar levemente – E precisa me prometer uma coisa. Que vai me contar tudo o que acontecer com você. Segredos não funcionam comigo.

Lis assentiu ao passar os braços pelo pescoço dele.

― E prometo te ajudar com a destruição do seu pai – Assegurou – E farei o possível para ficar longe de Augusto.

― E Philipe.

― Você tem muitos problemas com seus irmãos – Murmurou assim que o beijou novamente. Lis iria aproveitar cada momento que tivesse para fazer com que Michael falasse dela tão apaixonadamente quanto falava sobre Susana.

Realmente espero conseguir isso. Eu realmente quero que ele se apaixone por mim.

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