Gabriel ficou parado de costas para Susana, com a postura ereta e o contorno de seus ombros firmes e frios destacando-se na penumbra do porão. Ele ouviu em silêncio as lamentações dela sobre os horrores que havia sofrido, mas sua expressão permaneceu inalterada, sem revelar o menor traço de emoção.
Susana continuava chorando, a voz entrecortada por soluços desesperados:
— Todos os dias eu pensava... Eu preciso resistir, eu tenho que sobreviver, porque só estando viva eu poderia ver você novamente. Se eu morresse, nunca mais teria essa chance... Gabriel, por favor, eu imploro, fique comigo. Eu estou à beira da loucura. Toda vez que fecho os olhos, só consigo ver aqueles monstros me violentando. A dor que eu sinto aqui dentro... — Ela apontou para o peito, com as mãos trêmulas. — É mil vezes pior do que qualquer dor física.
Ela chorava mais intensamente a cada palavra, a voz abafada por soluços.
— Fique aqui um pouco mais, fale comigo, nem que seja para me xingar. Por favor... Não vá embora, não me deixe sozinha. Eu esperei tanto para te ver... Você é a única luz na minha vida!
Para qualquer outro homem, ser chamado de luz, de esperança, poderia ser suficiente para comover o coração mais duro. Mas para Gabriel, aquilo não significava nada. Ele não sentiu nenhuma faísca de emoção. Sem nem mesmo lançar um último olhar para Susana, ele virou as costas e saiu do porão.
Susana, ao ver a frieza e indiferença de Gabriel, sentiu que a última fagulha de esperança dentro dela se apagava.
Do lado de fora do porão, Gabriel parou e virou a cabeça para um dos seguranças que o acompanhavam.
— Arranjem um jeito de fazê-la falar. Quero informações úteis.
— Sim, senhor.
Compaixão? Piedade? Talvez ele fosse capaz de sentir essas coisas, mas nunca direcionaria esses sentimentos a alguém que tentou machucar Helena.
Ele jamais esqueceria que, pouco mais de um mês antes, Susana quase tirou a vida da mulher que ele mais amava. E qualquer um que ousasse ferir Helena teria que pagar caro por isso.
Quando saiu da base, Gabriel olhou para o relógio no pulso. Já eram dez horas. Helena provavelmente já estaria acordada e, com certeza, com fome.
…
Helena tinha dormido profundamente. Depois de ser exaustivamente mimada por Gabriel na noite anterior, ela estava tão cansada que só abriu os olhos ao meio-dia.
As cortinas estavam parcialmente fechadas, e os raios de sol passavam pelo vidro da janela, iluminando suavemente o quarto. A luz dourada caía sobre o edredom azul-claro aos pés da cama, onde partículas de poeira flutuavam no ar, deixando rastros quase visíveis.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Após a volta da ex-namorada, a herdeira parou de fingir