Após o Divorcio Meu Marido Se Arrependeu romance Capítulo 226

A noite estava serena.

A brisa morna atravessava a varanda com delicadeza, acariciando as cortinas como se quisesse embalar os últimos suspiros do dia. A casa já estava silenciosa. Os filhos haviam subido para seus quartos, alguns rindo, outros apenas exaustos. O som abafado de um filme ainda tocava na sala, mas o mundo parecia quieto, em paz. Um tipo de paz que não é silêncio, mas permanência.

Helen surgiu na varanda descalça, vestindo um moletom antigo que Ethan adorava, aquele com o tecido puído nas mangas, o mesmo que ela usava nas noites frias quando os filhos ainda eram pequenos. Em uma das mãos, segurava duas taças de vinho, na outra, a tranquilidade de quem já tinha vivido o suficiente para saber que o agora era mais precioso que qualquer promessa.

Encontrou Ethan recostado na cadeira de vime, sem camisa, com os cabelos bagunçados e os olhos perdidos no céu estrelado. Parecia o mesmo rapaz de tantos anos atrás, só que agora, havia mais rugas nos olhos… e muito mais amor no coração.

— Achei que já tinha dormido. — ela disse, estendendo-lhe a taça.

— Eu estava te esperando. — respondeu ele, com um sorriso calmo, quase tímido. — Gosto de dormir só depois de ouvir sua voz à noite. Mania antiga. Coisa minha.

Ela sorriu, sentou-se ao lado dele, puxando as pernas para cima da cadeira, encostando o ombro no dele. Ficaram ali, juntos. Em silêncio. Não aquele silêncio que pesa, mas o que acolhe. Aquele que só existe entre duas almas que já atravessaram o inferno… e voltaram juntas.

— Sabe o que eu fiquei pensando hoje? — Ethan quebrou o silêncio, os olhos ainda no céu. — Em como eu quase te perdi.

Helen não respondeu de imediato. Levou a taça aos lábios, deixou o vinho descansar na língua. O tempo tinha curado muitas coisas, mas algumas cicatrizes ainda ardiam em dias frios — e em noites como aquela.

— Você me perdeu, Ethan. — respondeu, com doçura serena. — Por um tempo… você realmente me perdeu.

Ele assentiu, sem defesa.

— E eu mereci cada segundo daquele vazio. Só que hoje… — virou-se para ela — te olhando aqui, com os pés frios encostando nos meus, o cabelo solto e esse moletom ridículo que eu amo… eu daria qualquer coisa pra poder voltar no tempo e não ter sido tão cego.

Ela o olhou. E, por um segundo, não viu o homem que partira seu coração. Viu o homem que voltou. Viu aquele que reconstruiu tudo com mãos trêmulas e olhos arrependidos.

Ethan respirou fundo, como quem se prepara para dizer algo que carregou por muito tempo.

— Eu achava que era maduro. Que sabia o que queria. Mas quando a Miranda apareceu… com aqueles olhos brilhantes, aquele discurso moderno, cheio de frases prontas… eu me perdi. Fui fraco. Me deixei levar pela novidade, pelo ego… por uma ideia estúpida de liberdade.

Helen não precisou responder. Os olhos marejados diziam o suficiente.

— Eu demorei a perceber que aquilo nunca foi amor. — continuou ele, com a voz embargada. — Nunca foi sentimento. Foi ilusão. Foi vaidade. A Miranda nunca me tocou a alma, Helen. Nunca me olhou como você olhava. Nunca viu o homem por trás do currículo. Nunca… me amou imperfeito.

Ele apertou a mão dela.

— Mas você… você sempre me amou assim. Até quando eu mesmo não sabia como me amar.

Helen respirou fundo, sentindo o ar da noite entrar como bálsamo.

— Se eu tivesse percebido naquela época… — Ethan sussurrou — se eu tivesse enxergado o amor nos teus gestos pequenos… eu teria te amado certo, desde o início. A gente teria evitado tanta dor.

— Mas não teria aprendido tudo o que sabemos agora. — Helen disse. — Não teríamos construído tudo isso… com cicatrizes, sim. Mas também com raiz.

Ethan sorriu, com os olhos úmidos.

— Você me perdoou de verdade?