Bela Flor - Romance gay romance Capítulo 24

“Jaejun”

Eu costumava dizer que minha vida era monótona, e de fato era. Porém, com meus amigos, eu até saia um pouco do meu casulo confortável e tentava me divertir. Depois que conheci Hyun-Suk isso não mudou, e mesmo que não possamos ter isso que temos publicamente por enquanto, me sinto um pouco mais livre a cada novo dia.

Porém, meus problemas não sumiam e pareciam que a cada vez ficavam maiores.

o pior de todos ㅡ Talvez o principal ㅡ, tinha nome, sobrenome, endereço fixo e me cobrava uma mesada todos os meses.

Mesada essa que eu pagava dolorosamente por ter matado minha mãe. Por ter minha avó com a saúde tão debilitada por minha culpa e por ter sido adotado por ela.

Mas, acho que tudo e todos têm um limite. O meu já ultrapassou há muito tempo e eu não sabia como continuar aguentando mais.

Mas talvez hoje, com o pouco que tenho e que estou conquistando, talvez eu tenha alguma chance de continuar, e tenha meios de parar toda a minha tormenta ou parte dela.

E é pensando nisso que caminho aflito em meu horário de almoço pelos corredores da empresa em que trabalho. Na verdade é o horário de almoço de todos, principalmente do meu chefe. Eu caminho aflito porque não sei se ele gosta de ser incomodado, e sei muito menos se me receberá ou se gostará de me ver, mas não tenho saídas. A única e melhor pessoa a me instruir em tudo o que penso em fazer é ele, e mesmo com muito medo do que ele possa achar desse meu atrevimento, eu tenho que seguir até o fim.

Suspiro amedrontado quando paro em frente à porta do senhor Jung Hajun e ouço sua risada sempre alta ecoar de dentro da sala Provavelmente ele esteja ocupado, mas a única pessoa que poderia me instruir se há alguém dentro da sala ou não é Sorah, e ela, como todos os outros está almoçando nesse exato momento. Então eu apenas ergo meu punho e bato devagar três vezes sobre a madeira da porta. Senhor Jung cessa a risada no mesmo instante e logo um arrepio sobe por minha espinha.

ㅡ Pode entrar. ㅡ ele dita num tom sério.

Eu engulo em seco e respiro fundo, abrindo a porta, observando-o por uma fresta até ter a porta totalmente aberta e vê-lo sentado em sua mesa com os pés para cima.

ㅡ Jaejun, entre. ㅡ ele diz sorrindo. Eu retribuo o sorriso e entro totalmente acuado, arrumando mentalmente como irei sanar minhas dúvidas. ㅡ Houve algum problema?

Eu ergo meu olhar e encaro o senhor Jung Hajun. Ele ainda sorri para mim, mas me sinto tão intimidado que parece que ele carrega a feição mais irritada do mundo.

ㅡ Tenho um problema, senhor. ㅡ digo baixo juntando minhas mãos em frente ao corpo. ㅡ gostaria de falar com o senhor a respeito.

ㅡ O que houve? É algum problema aqui da empresa? ㅡ pergunta franzindo o cenho. Eu nego rápido, olhando-o e vendo como seu semblante muda. ㅡ É pessoal?

ㅡ Sim...

Ouço seu suspiro e isso me causa medo.

ㅡ Acho que entendi. Olha, Jaejun, se for algum problema seu com Hyun-Suk, eu não vou-

ㅡ Não, não, senhor Jung. ㅡ sou rápido em interrompê-lo e abanar minhas mãos. ㅡ não é nada com o senhor Park.

ㅡ Senhor Park? ㅡ ele ri soprado. ㅡ Chama assim o seu namorado?

ㅡ Não somos namorados. ㅡ murmuro e abaixo o olhar, sentindo a súbita vergonha me consumir. ㅡ só o chamo assim por respeito ao senhor que é meu chefe.

Hajun estalou a língua e abaixou os pés.

ㅡ Sem frescuras ou rodeios garoto. Eu sou amigo do Hyun-Suk, e ele é seu namorado ou algo assim, então... ㅡ dá de ombros. ㅡ Não pense que precisamos disso aqui, ok? Namorado do meu amigo também é meu amigo.

Sorrio torto, talvez me sentindo até um pouco contente em ouvir tal frase.

Mas eu tenho um foco, e para não gastar todo o horário de almoço do chefe, e também ficar com fome, começo enfim a falar:

ㅡ Senhor Jung, eu gostaria que o senhor me ajudasse com uma dúvida. É uma questão familiar.

ㅡ Estamos em horário de almoço, Jaejun. Precisa mesmo ser agora?

ㅡ Ah .. me desculpe então, senhor, eu não queria atrapalhá-lo realmente ㅡ digo me inclinando para fazer uma reverência e me ajeito para sair da sala rápido, mas o riso dele é mais alto outra vez, me fazendo erguer o rosto e encara-lo sem entender.

ㅡ É brincadeira garoto, vamos, sente-se logo e fale, estou curioso.

Vendo que ele aponta para a cadeira da frente, caminho devagar até que estou sentado e sendo encarado.

Senhor Jung junta as mãos sobre a mesa e se inclina, fazendo-me encolher ainda mais os ombros.

ㅡ Então, qual o problema? ㅡ ele pergunta.

ㅡ Serei direto ㅡ digo.

ㅡ Por favor.

ㅡ Gostaria de saber como faço para ter a guarda de um idoso? É necessário algum documento? Minha idade interfere em algo?

ㅡ Certo, vamos por partes, ok? ㅡ Jung diz e eu assinto. Ele se inclina na cadeira, encostando-se e relaxando, mas mantém o olhar em mim ㅡ O idoso é seu parente?

ㅡ Minha avó.

ㅡ E ela é incapaz de exercer suas vontades?

ㅡ Ela está muito doente, então... creio que sim.

ㅡ Bom, primeiro de tudo você precisaria entrar com um pedido judicial para ser o curador dela.

ㅡ Mas... e se ela já tiver um curador?

ㅡ Judicialmente falando?

ㅡ Eu não sei...

ㅡ Como assim? Precisa ser claro para que eu entenda melhor.

ㅡ É que ela está em um hospital lá em Busan, e já tem uma pessoa que diz ser cuidadora dela.

ㅡ Se sua avó já tem um curador, por que quer ter esse posto para você? Há algo mais sobre isso? Talvez herança ou coisa assim?

ㅡ Não, não, senhor Jung, nós sempre fomos uma família humilde, não há nada que ela possa nos deixar, eu só quero realmente cuidar da minha vozinha aqui em Seul. Quem cuida atualmente dela é a minha m- minha tia... mas desconfio que ela não esteja cuidando bem, sabe? Todos os meses envio dinheiro a ela, e este mês ela comentou que aumentaram as despesas da vovó, mas não me enviou prova alguma disso

ㅡ Mas você pediu tais provas?

ㅡ Sim, mas ela disse que não me enviaria porque pedir isso era como estar acusando ela de algo que não faria jamais.

ㅡ Mas você acredita nela ou na sua intuição? Lá no fundo, o que o seu coração diz sobre isso?

Demoro alguns segundos pensando, mas não há sequer dúvidas.

ㅡ Eu quero minha vozinha comigo, tenho certeza que ela não está recebendo o tratamento que merece.

ㅡ Certo, então, nesse caso, seria bom que além do pedido judicial, você denunciá-la caso haja mesmo os maus tratos com a idosa.

ㅡ Mas... eu não quero isso, senhor Jung. Não a quero presa porquê... foi ela quem me criou. Só quero apenas trazer minha avó para Seul e cuidar dela aqui. Eu poderia colocá-la em uma clínica de repouso e com pessoas capacitadas. Ficaria mais fácil de vê-la todos os dias se possível.

ㅡ Isso seria bom para ela, não tenho dúvidas, Jaejun. Mas, para ser sincero com você, eu vi que você não tem muita experiência na sua carreira de trabalho por ser ainda muito jovem. Seu último emprego pagava mal e você passou poucos meses lá. E agora está a pouquíssimo tempo aqui. Mesmo eu te garantindo que gosto do seu desempenho e que quero te ver crescer, um juiz poderia não te dar esse direito por simplesmente ainda te achar um adulto sem muito a oferecer, compreende? Não quero ofender, sei que você tem muito a dar, mas você só tem apenas dezenove anos, é complicado.

ㅡ Mas senhor Jung, por favor, minha tia não é uma mulher boa.

Vi meu chefe respirar fundo, e então ajeitar a postura na cadeira, abrindo os botões do terno que usa e novamente repousando as mãos sobre a mesa.

ㅡ Você pode me contar um pouco mais sobre isso? Com detalhes?

ㅡ Posso, mas... ㅡ suspiro e olho o relógio em meu pulso. ㅡ o horário de almoço já está no fim...

Senhor Jung sorri, e então aperta o botão do telefone logo ao lado.

ㅡ Senhorita Kim?

ㅡ Sim?

ㅡ Hoje tenho um convidado, traga meu almoço e o dele, por favor, sim?

ㅡ Tudo bem senhor, só passarei minha linha para Jaejun e logo levarei.

ㅡ Oh não, meu convidado é exatamente Jaejun. Vá, eu deixo a linha aberta até você voltar.

ㅡ Tudo bem, só um minuto.

Quando Jung solta o botão e volta a me encarar, eu mordo meu lábio inferior ainda mais nervoso.

ㅡ Agora temos todo o tempo do mundo.

Eu sorrio nervoso e assinto, me ajeitando melhor sobre a cadeira.

ㅡ Vamos começar pelo seu elo com a tal mulher. Você disse que ela te criou.

ㅡ Eu fiquei sobre a guarda da minha tia aos oito anos de idade.

ㅡ Aconteceu algo com seus pais? ㅡ eu assinto e olho para meus dedos, sentindo desconforto em falar sobre eles. ㅡ se não for relevante para o caso, não precisa me contar agora.

Eu novamente assinto.

ㅡ Tendo minha tia como minha tutora, eu fui morar com ela. Mas nunca fui bem tratado, e se me lembro bem, minha avó também não.

ㅡ Com que idade você veio para Seul?

ㅡ Com dezoito, um dia após concluir o ensino médio. Na verdade eu... meio que fugi. Ela nunca me deixaria vir por vontade dela, mas assim que arrumei meu último emprego aqui em Seul eu fiz contato, e foi quando ela falou que minha avó havia piorado por minha culpa que havia a preocupado, e que naquele momento estava em um hospital. Eu não pensei duas vezes antes de mandar meu primeiro salário quase inteiro, mas então ela começou a cobrar todos os meses e sempre me lembrava de que era minha obrigação por eu ser o culpado.

ㅡ Desculpe a comparação, mas falando assim ela me parece uma cobra. ㅡ chefe Jung diz.

ㅡ Mas ela é mesmo. A pior das cobras...

ㅡ Tudo bem. Vou ser verdadeiro com você, isso pode ser muito complicado de conseguir.

ㅡ Mas eu estou disposto a lutar, senhor Jung. Se o senhor puder me recomendar algum advogado bom, Eu... Eu vou contratá-lo. Mas precisa ser um não muito caro... ㅡ sorrio contido o vendo sorrir também.

ㅡ Um advogado bom, mas não muito caro? Como quer tal coisa?

ㅡ É que... eu não posso gastar muito, ainda tenho boletos e... minha avó...

ㅡ Tudo bem, não se preocupe com isso, eu tenho o melhor dentre os advogados que pode te ajudar nessa causa.

ㅡ Mesmo? ㅡ pergunto, controlando a euforia.

ㅡ Com licença. ㅡ ouvimos batidas na porta e logo Sorah adentra.

Jung afasta o computador e alguns papéis que estão sobre a mesa e a ajuda a esvaziar a bandeja na qual ela trouxe as refeições.

ㅡ Muito obrigada, ó melhor secretária do mundo!

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