CALIENTE (morro) romance Capítulo 81

- RUSSO -

22:45 pm...

Do lado de fora , o carro do Teco passa próximo ao meu indicando qual caminho seguir .

Do lado de dentro , eu perdi as contas de quantas vezes ouvi o velcro do colete do Jão ser feito e desfeito .

Papo reto , o barulho irritante já está me incomodando e deixando mais puto do que eu já estava .

-- Esse barulho aí ... - faço tsc negando - Podia bem parar né ? - encaro ele rapidamente antes de voltar minha atenção pra estrada a minha frente enquanto sigo a uma distância segura o carro do Teco .

As ruas da Penha estão lotadas de pessoas subindo pro baile e da hora que eu cheguei - isso a quase uma atrás - eu ainda não vi nenhum envolvido portando fuzil .

O que me faz pensar novamente no quanto o frente daqui é burro ou então confia muito no marido da minha sobrinha que se mostrou nervoso até demais quando eu coloquei um dos meus pra ir com ele no seu carro .

Jão - Foi mal , eu vou parar . É que eu tô nervoso. - confirmo vendo o carro que eu sigo parar perto de um beco mais a frente e o Teco descer olhando pros lados com o celular na mão, provavelmente trocando mensagem com o fodido que ele veio encontrar.

Giro o volante entrando numa rua antes da que ele parou e desligo o carro ficando um momento em silêncio , pensando bem antes de falar.

Respiro fundo e me viro pro Jão que mantém o olhar na escuridão do beco ao lado do carro .

-- Escuta - aperto o volante deslizando minhas mãos pra cima e pra baixo , sentindo minha aliança arranhar o couro do objeto - Se algo acontecer comigo , eu quero que tú aborte a missão , volte pra casa e tire a Afrodite do morro.

Engulo a saliva , minha boca ficando seca de repente.

Jão - Nada vai acontecer contigo , irmão . Eu não vou deixar - seu rosto se vira na minha direção, a feição dos olhos me lembrando o da minha mulher que hora dessa deve estar curtindo, protegida e longe de toda essa merda - E mesmo se acontecer, eu não vou te deixar pra trás. Cê é louco ? Entramos juntos nessa vida , se for pra morrer , vai ser os dois.

Ele me dá o que suponho ser um sorriso divertido e eu nego , ainda sério.

-- Isso não é um pedido . É uma ordem...

Ele balança a cabeça de um lado pro outro.

Jão - Que eu não vou seguir , só pra deixar claro. - ele se mexe conferindo o pente do fuzil rosa que eu lembrei a pouco ter sido minha preta quem pintou e enfeitou com pedrinhas quando era mais nova - Você não me deixaria. - fala com certeza.

Suspiro derrotado, ele tem razão , já passamos por situações iguais a essa e ele sabe - mais até que eu - que em hipótese alguma eu o deixaria pra trás .

-- Ok ! - por fim , falo - Então vamos ...

Descemos do carro ao mesmo tempo ajeitando nossos fuzis na frente do corpo e nos enfiamos rapidamente no beco mais próximo de onde estávamos.

Em silêncio e atentos a tudo ao nosso redor caminhamos em passos largos em direção a curva do beco que vai dar justamente no que eu suponho ser o da boca daqui .

Paro , erguindo a mão pra impedir que o Jão avance na minha frente ao ver uma sombra se movimentar na entrada da viela.

Meu coração bate forte dentro do peito , a adrenalina presente no meu corpo me fazendo pensar e agir mais rápido que o normal ao erguir o fuzil já destravando a peça, pronto pra disparar quando a voz sussurrada do cara que eu mandei com o Teco soa pelo beco.

Néguas - Sou eu , patrão ! - ele fala baixo, mas nítido o suficiente pra mim ouvir .

-- Filho da puta ! - resmungo ao passar o dorço da mão na minha boca pra tirar o suor - Não falei pra tú esperar na porta do bagulho? Ia levar chumbo de graça agora .

Sigo até ele trincando meu maxilar .

Néguas - Foi mal , é que vocês estavam demorando , e... - ele para de falar e se encolhe quando eu paro na sua frente .

-- Da próxima vez que tú me desobedecer no caralho de uma missão em que tudo tem que sair exatamente como o combinado pra não dar merda . Eu mermo te mato , tá ouvindo ?

Néguas - Sim , patrão - ele abaixa a cabeça quando fala .

Respiro fundo engolindo minha saliva , minha mente viaja por um segundo e a voz da minha mulher surge nela.

Promete ?

Eu não prometi pra ela , mas prometi a mim mesmo que voltaria por ela e por nossos filhos ...

Balanço a cabeça pra limpar minha mente e com sangue nos olhos por lembrar o motivo de eu estar aqui , longe da minha família , eu termino de fazer meu caminho até o barraco com a porta pintada de verde que o Teco deixou entreaberta.

Ultrapasso com o Jão e o Néguas seguindo atrás no corredor e paro diante de outra porta que está fechada.

Do lado de dentro três vozes diferentes discutem entre si e do lado de fora eu tento inutilmente entender qual o tema discutido.

Jão - Caralho... - sussurra encostando do meu lado , seu rosto brilhando com o suor que escorre por ele - E agora ?

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